Naum nunca tinha passado pelo ambulatório para se aconselhar. Seria sua primeira
vez. Já havia presenciado o quanto alunos abatidos saiam de lá
parecendo adquirir superpoderes. O ninja apontou a cadeira vazia e pediu
que Naum sentasse, enquanto pegava uma folha de caderno escrita.
-- Tá mal, né, Gafanhoto?
-- Como o senhor sabe, mestre?
-- Todo faixa preta tem um pouco de
consciência cósmica. Vamos ao ambulatório.
-- Seu caso foi nocaute de mulher,
certo, Gafanhoto?
-- Certo, mestre.
-- Você quebrou. Precisa de terapia
caseira – toma isso.
-- O que é, senhor?
-- Filmes. Aí tem uns dez pra você se
trancar em casa. Comédia, terror, drama, suspense. Ai tem o último Tubarão.
Quando você vê aquele bicho majestoso cortar as pernas de uma meia dúzia,
teu testosterona vai subir. Ajuda na libido. Tem umas comédias idiotas para
oxigenar os neurônios. Veja durante uns três dias e volta pro treino. Temos um
campeonato a conquistar.
Naum foi para casa e durante três dias esqueceu
do mundo, do governo, do Trump, do ditador da Coreia, da mulher. Ele nunca
havia desconfiado do poder que é assistir ao último Tubarão. Ao fim dos três dias,
tudo que pensava era em sexo.
Marcelino Rodriguez é colunista ocasional do Blog Luiz Domingues 2. Escritor com vasta e consagrada obra, apresenta-nos aqui uma crônica leve a questionar a nossa sempre presente preocupação com a libido e as frustrações com as relações não correspondidas.
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