O que vou escrever aqui, talvez você pense ser pouco importante, mas
lamentavelmente a realidade aqui exposta afeta a vida de seus filhos e
netos; gostaria, portanto, que esse fato lhe tocasse a ajudar a mudar o
quadro da maneira como o livro e a leitura como hábito é negligenciado
no Brasil e com isso, claro, também os escritores e outros produtores de
cultura. Os brasileiros são cidadãos privados de literatura. Ou seja,
desconhecem as tradições básicas do pacto civilizatório. Além disso,
apresentam desconhecimento quase que completo da inteligência simbólica e
do próprio funcionamento do mundo social, revelando um comportamento
primário, com fraca empatia humana, intolerância diante das diferenças,
unilateralismo mental e pelo que se conversa no país e vemos no dia a
dia, não se pode esperar criação de grandezas humanas. Embora, é claro, existam sujeitos excepcionais aqui e ali, a massa do
povo nasce, cresce e morre sem instrumental de cérebro para apreciar uma
obra de profundidade média. Pior, os sujeitos excepcionais encontram um
terreno muito pedregoso para vingar. O homem comum não vê o intelectual
como portador de algum tipo de riqueza ou diferencial. Estamos falando
de massas, não de exceções; com isso, com essa falta de cidadãos
leitores, o subdesenvolvimento se mostra evidente em todo desconforto
que sentimos em nosso dia a dia. A vida é banalizada e o “tudo que move
é sagrado” não pode existir em mentes unilaterais.
A questão perante essa inoperância em formar cidadãos que despertem sensos humanos básicos (que fazem parte do ser humano) tais como empatia, imaginação, curiosidade e graça é : será uma condenação eterna do país, ter uma gente sem informação nem assunto ? Será essa condenação eterna ? Somos agentes da história ou cidadãos inertes ?
Existe uma história muito tradicional do mundo da espiritualidade que Jesus vivia chamando um sujeito que estava em cima do muro, enquanto o diabo ficava quieto ouvindo seus ritmos. Jesus insistia em que o sujeito pulasse para seu lado, o diabo quieto. Até que chega uma hora que o sujeito pergunta ao diabo porque ele também não o chamava.
- O muro é meu, meu caro.
Portanto, caro leitor, não existe meio termo entre luz e trevas; não se pode agradar a dois senhores. Em vinte anos, entre 1980 a 2000, teve mais homicídios no país que a maioria das guerras. Decerto, os praticantes dessas mortes, ao menos noventa e cinco por cento deles, com toda certeza, não eram leitores. Seu filho ou neto poderia ser uma das vítimas. A indiferença, no caso do Brasil, não favorece o bem e sim ao mal. Uma quantia incalculável de dinheiro e bem estar social se perde com um pouco subletrado.
Marcelino Rodriguez é colaborador do Blog Luiz Domingues 2. Escritor a ostentar uma vasta e consagrada obra publicada, aqui oferece-nos uma crônica extraída de seu livro, "O Brasileiro e o Livro", a criticar com veemência a política pública criminosa nos campos educacional e cultural, a não priorizar a leitura à população.
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