Foto promocional d'A Chave do Sol, de fevereiro de 1987. Click de Tereza Pinheiro.
Aconteceu no
tempo da Chave do Sol, aproximadamente entre fevereiro e abril de 1987
O vocalista
d'A Chave do Sol, Beto Cruz, sempre insistiu muito para que os demais membros lhe garantissem apoio vocal ao vivo, e claro
que ele tinha razão em sua reivindicação.
Backing vocals sempre enriquecem o arranjo de qualquer
canção e além do mais, oferecem um resguardo estratégico ao vocalista solo, que
economiza em seus esforços, sobremaneira no refrão, quando há o respaldo dos companheiros ao
seu favor.
O Rubens fora vocalista oficial na fase da banda em que atuamos como
trio, portanto sempre fez bons backing vocals quando tivemos vocalistas de
ofício na formação. Foi o mesmo caso do Zé Luiz Dinola, que também chegou a cantar em regime solo nos
primórdios da nossa banda.
A fazer backing vocals em um show d'A Chave do Sol, este que vos escreve e aparece na foto acima em específico, de fevereiro de 1987, no Centro Cultural São Paulo
Mas eu
relutava, por que sempre tive consciência que a minha voz natural que é muito
grave por natureza, não era adequada para cumprir o vocal solo e mesmo ao fazer backing
vocals ocasionalmente, eu considerava a minha voz sem emissão suficiente e com um
timbre nada bonito.
Contudo, o Beto queria apoio dos três companheiros e insistia para que atuássemos
como o "Bad Company" e para citar um exemplo mais em voga nos anos oitenta, o
"Whitesnake". Então, eis que um dia ele veio com uma proposta para a banda e que
praticamente revestiu-se de uma intimação!
Dona Nancy Miranda ao piano, a ministrar uma aula coletiva e foi nesse formato no qual participei algumas vezes no início de 1987. Foto: Banco de dados da revista "Isto É"
A ideia foi
que os quatro componentes se matriculassem no curso de uma professora de canto, a visar
aprimorar os dotes vocais de todos, ele (Beto), incluso, e assim, mediante um arroubo
de tomada de consciência coletiva, resolvemos adotar tal providência, que reverteria em um óbvio benefício para a nossa banda, mas que individualmente, haveria
de ser igualmente proveitoso.
Dessa
maneira, o Beto inscreveu-nos em uma primeira classe super econômica, na qual uma
aula coletiva ministrada para cerca de trinta alunos, continha o rateamento monetário como
grande atrativo, ao converter-se em uma taxa individual muito convidativa para os nossos combalidos bolsos.
O que não mensuramos no entanto, foi que a
aula coletiva pouco poderia contribuir com a evolução, não apenas nossa, ao pensar
na banda, como a de todos os outros alunos ali envolvidos.
Primeiro que a
professora e a sua assistente, não reuniam condições para monitorar individualmente
ninguém, portanto, a aula consistia de uma boa pauta de exercícios propostos ao
piano, mas daí a acompanhar detidamente a evolução de cada aluno, uma praxe
vital para uma aula de canto individual, sob critério minucioso, simplesmente não
ocorria ali.
Dessa forma,
todos os exercícios propostos eram feitos por cerca de trinta pessoas e nessa soma de vozes,
ninguém acompanhava a respiração e uso do diafragma, itens essenciais para a
evolução de um aluno de canto. Como segundo ponto, quando se canta em meio a
muitas vozes, a tendência é que a somatória ali gerada ofereça à todos, a falsa impressão
de uma afinação perfeita e isso anima o aspirante de uma forma absurda.
Com a surpresa
por sentirmos cada um a soltar a voz com emissão e afinação, fomos empolgados para uma
segunda, terceira, quarta aula e cada vez mais confiantes, por acharmos que tais sessões
continham quase uma aura mágica, devido a rapidez com a qual estávamos os quatro,
a soltarmos a voz e notadamente eu, que nunca tive uma emissão adequada, sob a minha
própria avaliação.
Essa professora em questão era badalada no meio musical paulistano nessa época e a sua fama era a de que mais do que preparar cantores para o canto lírico no mundo da música erudita, havia tornado-se uma espécie de celebridade Pop por ministrar aulas para praticamente todos os cantores do então na moda, movimento “BR-Rock” oitentista.
Essa professora em questão era badalada no meio musical paulistano nessa época e a sua fama era a de que mais do que preparar cantores para o canto lírico no mundo da música erudita, havia tornado-se uma espécie de celebridade Pop por ministrar aulas para praticamente todos os cantores do então na moda, movimento “BR-Rock” oitentista.
E
boatos davam conta que muitos cantores faziam aulas obrigados pelas suas respectivas
gravadoras, com tal curso sendo tratado como condição sine qua non para assinatura
de contratos (veja, leitor: não estou a afirmar isso, categoricamente, mas apenas a repercutir
um boato que correra a boca pequena nessa época). A professora chamava-se: Nancy
Miranda, e de fato, sabíamos que era a instrutora pessoal de muita gente já bem famosa
naquela década.
Animados
pela falsa sensação de melhora imediata que as aulas coletivas forneciam,
resolvemos fechar um pacote mais caro, no qual a professora lidaria conosco com
maior proximidade.
Não seria possível cumprirmos aulas individuais, o padrão ideal, mas os nossos
respectivos bolsos aceitaram a ideia de uma aula em quarteto, fechada para a
nossa banda e nesse caso, além da maior atenção da professora, sentir-nos-íamos
mais a vontade, sem compartilhar espaço com estranhos, mas a trabalhar em nossa
turma, conforme ensaiávamos regularmente, há anos.
Então, começamos a fazer a
tal aula semanal, no entanto, nem sempre com a própria Dona Nancy no comando, mas vez por outra com a sua
assistente de confiança que era igualmente bem preparada, não posso negar e esta moça a se revelar certamente formada pela
própria, Nancy.
Aí, com a
professora atenta e exercícios mais difíceis, a realidade foi outra e o curso ficou muito
mais puxado, já não a existir aquela euforia sem fundamento ao dar conta de que eu
estava a cantar em alto nível.
Tudo bem, eu jamais seria o Tom Jones, não nasci com esse
talento e caixa torácica adequada para tal, mas ao desenvolver o mínimo para cumprir backing vocals afinados, no meu caso eu já estaria satisfeito, sendo bem
realista. Contudo, um dia, um duro golpe acertou em cheio a minha autoestima...
Em um dado
exercício proposto pela Dona Nancy em pessoa, eu não alcancei a nota exigida e ao
desafinar feio, nunca esqueço-me dela a tirar a atenção das teclas do piano e
a fulminar-me com os olhos. Contudo, a maestrina foi além disso, pois não conteve-se ao soltar uma palavra em sinal de desagrado:
- “credo!”
Mais que
envergonhado pela reação de desapontamento da parte dela, passou-me pela cabeça
que aquele esforço de minha parte revelara-se inútil e sendo bem dispendioso, eu não falei nada aos colegas na
hora, mas já fiquei determinado a não prosseguir com as aulas. Bem, hoje em dia
eu penso bem diferente e depois de ter também ministrado aulas de música por
muitos anos, sei bem que qualquer pessoa, desde que tenha boa vontade e
paciência, pode aprender a tocar qualquer instrumento e cantar.
O comentário
dela, apesar de sincero e espontâneo, poderia tranquilamente ter sido evitado e
essa lição eu levei para a minha atividade como professor, quando jamais
desestimulei um aluno e pelo contrário, a minha estratégia de atuação pautou-se
de forma diametralmente oposta, ou seja, eu investia no aluno, ao estimular os seus
progressos, ainda que fossem lentos.
E no meu caso, de volta a falar sobre essas aulas de canto, eu não deveria abater-me e pelo contrário, prosseguir, mesmo porque a minha intenção foi no sentido de melhorar ao ponto de tornar-me útil para a minha banda, apto a fazer backing vocals afinados, nada mais que isso, sem nenhuma pretensão, portanto, de vir a ser um “cantor”.
E no meu caso, de volta a falar sobre essas aulas de canto, eu não deveria abater-me e pelo contrário, prosseguir, mesmo porque a minha intenção foi no sentido de melhorar ao ponto de tornar-me útil para a minha banda, apto a fazer backing vocals afinados, nada mais que isso, sem nenhuma pretensão, portanto, de vir a ser um “cantor”.
Ameniza a minha culpa por ter
desistido, o fato de que as aulas eram bem caras. Professora tratada como
celebridade Pop na época, Nancy cobrava caro e assim surfava nessa badalação
adquirida, no que estava certa, não cabe críticas de minha parte sobre esse procedimento por ela adotado, mas o meu bolso não
acompanhava a sua fama e por ser um luxo que eu não poderia manter, desisti, mesmo.
Os meus colegas
continuaram o curso por um tempo a mais, mas não muito e também por sentirem o
vilipêndio à carteira, desistiram, igualmente.
Eu, Luiz Domingues a soltar a voz na Patrulha do Espaço, entre 1999 e 2004...
Muitos anos
se passaram e só na base da vontade e sem estudo adequado, forcei cantar e nos
trabalhos que realizei com bandas como: Sidharta, Patrulha do Espaço e Pedra, nos quais eu cantei ao vivo e
gravei muitos discos, com algumas faixas, inclusive, a conter a minha voz bem
saliente e convincente.
Cantei também com o "Nudes"
do Ciro Pessoa e dei uma relaxada com Os Kurandeiros e neste caso, os colegas dessa banda cobram-me
apoio. Eu tenho vontade de colaborar, mas sendo uma banda híbrida com trabalho autoral a
se mesclar com muitas releituras, a quantidade de letras a serem decoradas,
desestimula-me, pois se a minha memória de longo alcance é muito boa, a de
curto, é péssima...
No entanto, eu estou a querer
voltar a exercer esse apoio, que inclusive é prazeroso, não posso negar.
Então foi
assim, mais ou menos entre fevereiro e abril de 1987, eu frequentei as aulas de
Dona Nancy Miranda e passei de uma euforia falsa por considerar estar a cantar bem, à
decepção, através de uma interjeição verbalizada pela dita professora, que
abalou a minha combalida autoestima sobre poder cantar, nessa época...
Nenhum comentário:
Postar um comentário