sábado, 3 de março de 2018

Crônicas da Autobiografia - Não Confunda Pedreira com Siderúrgica - Por Luiz Domingues

                    O Pedra em ação em 2008. Foto de Grace Lagôa

                              Aconteceu no tempo do Pedra, em 2008...

O Pedra sempre pautou-se como uma banda aberta a praticar uma gama de tendências bem mais abrangentes do que se espera de uma banda de Rock tradicional.
 
E mesmo ao não fugir de sua alma mater que sempre foi o Rock, tal predisposição para se colocar no mercado musical como uma banda adepta do dito, “leque aberto” em termos de criação, foi um fato também que tal posicionamento gerou estranhamento da parte de alguns analistas mais radicais, dada a maneira mais reclusa em enxergar o Rock como uma fortaleza fechada e imutável, da parte deles.  
 
Entre as ocorrências mais salientes nesse sentido na história dessa banda e que não foram mencionadas no meu livro autobiográfico, eu cito aqui nesta crônica e uma delas foi bastante sintomática ao considerar-se essa questão do trabalho do Pedra em relação à expectativa gerada sobre nossa obra, da parte de críticos entrincheirados em nichos oclusos.
Ocorreu que nós fomos convidados (em março de 2008), a concedermos entrevista a um programa de Rádio, que também era filmado e cujas imagens eram exibidas através de uma emissora de TV comunitária da cidade de São Paulo. 
 
Tratava-se de um programa que já era longevo, portanto bem-sucedido, sem dúvida, chamado: “Rádio Corsário” e que ao existir desde os anos 1980, continha o seu público seguidor cativo, certamente. 
 
Para se ter uma ideia, eu havia participado duas vezes dessa atração ao conceder entrevistas naquela década citada, quando representei a minha banda na ocasião, “A Chave do Sol”, portanto, mais de vinte anos depois e após ter construído trajetórias longas com outras bandas no meio do meu caminho pessoal (A Chave/The Key, Pitbulls on Crack, Sidharta e Patrulha do Espaço), foi impressionante estar ali com uma quinta banda de carreira, no caso, o Pedra, mas foi o que ocorreu, e nesse sentido, louvo a longevidade de atração radiofônica e a firmeza de propósitos de seus artífices, aos quais, os parabenizo pela perseverança. 
 
Muitas pessoas passaram pela equipe de produção de tal programa e nesse instante, a apresentação esteve a cargo de um simpático locutor/entrevistador, chamado, Julio Viseu e com a produção de Sergio “Pachá”, este, um rapaz que fora roadie do “Inox” nos anos oitenta e que eu conhecia desde essa mesma época, quando A Chave do Sol interagiu com tal banda, em alguns bastidores de shows.
O comunicador, Julio Viseu, membro da produção do programa, desde os anos oitenta e um gentleman

Fomos muito bem recebidos e de fato, Viseu era (é) um rapaz extremamente cortês e bem articulado e sobre isso estivemos absolutamente à vontade sob a sua condução da entrevista, mesmo com a nossa sincera explicação de que não éramos uma banda de Heavy-Metal e nem mesmo a professarmos o Hard-Rock, na acepção do termo, portanto, com um trabalho um tanto quanto deslocado para o ouvinte/telespectador padrão daquele programa. 
 
Mesmo com tal advertência clara de nossa parte, o convite não sofreu nenhum abalo e diante de tal boa vontade da parte da produção do mesmo e também a raciocinar que a nossa banda padecia da falta de oportunidades para expor o seu trabalho, não poderíamos dar-nos ao luxo de desperdiçar chances, portanto aceitamos o chamado, prontamente.
Ao chegarmos ao estúdio da emissora, que ficava instalado no mesmo local em que eu a visitara algumas vezes nos anos oitenta, nós entramos e quando passamos pela sala da técnica, um rapaz que era um funcionário da equipe radiofônica, ao olhar-nos, não conseguiu guardar para si a sua estupefação ante o nosso visual habitual, “não coadunado com o Heavy-Metal”, uma constante para os entrevistados que ali ele se acostumara a ver passar e assim ele emitiu uma intervenção impactante, mas carregada por signos oriundos da sua idiossincrasia. Quando passamos, ouvimos a sua voz nada discreta ao afirmar (aliás, creio que proposital para que a ouvíssemos): -“vocês nem parecem metaleiros”.

Brincalhão por natureza e sempre rápido em suas intervenções espirituosas, Rodrigo Hid respondeu-lhe de pronto e creio ter sido didático em seu intento: -“por que não somos, ora, de onde tirou essa ideia?”
 
Simples assim...

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