Eu, Luiz Domingues, na 1ª sessão de gravação no estúdio Prismathias. Click de Carlinhos Machado, através da sala técnica de gravação da bateria
A ideia foi gravarmos ao vivo as bases e no mesmo dia, inserirem-se o solo de guitarra e a voz, para que houvesse o posterior acompanhamento virtual em um grupo especialmente criado na Rede Social "Whatsapp", em que todos emitiriam opiniões e sugestões para a elaboração da mixagem e masterização, quando ao término do processo técnico em questão, dessa forma, possibilitar-se-ia assim, o lançamento de um novo single d'Os Kurandeiros.
Kim Kehl e Carlinhos Machado, respectivamente, na 1ª sessão de gravação do single, "Andando na Praia", no estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Clicks: Luiz Domingues
Kim Kehl & Carlinhos Machado a ouvir os primeiros resultados da gravação do single: "Andando na Praia", no estúdio Prismathias, de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Click: Luiz Domingues
Sobre a canção escolhida para essa gravação, foi automática a aceitação da sugestão proferida pelo Kim, pois tratou-se de uma música que estávamos a trabalhar há tempos, mas em específico no início de 2018, ganhara algumas modificações que não descaracterizaram a sua concepção original, mas ao mesmo tempo, conferiu-lhe uma roupagem inteiramente diferenciada e cabe explicação.
Ocorre que eu tinha um tema bruto em mente, composto em um violão, há muitos anos atrás e que havia tentado introduzir no cancioneiro do "Pedra", banda pela qual atuava na ocasião. Isso fora por volta de 2008 ou 2009, não recordo-me com exatidão. Mas como naquela banda havia uma dificuldade muito grande de haver espaço para a criação coletiva, o meu tema foi rejeitado sem chance nem de ser analisado com uma atenção mínima, ou seja, em poucos segundos de uma audição bastou para que ele fosse descartado, como se fosse algo desprezível.
Na primeira foto, o jovem, Malcolm X Bezerra Goés (à esquerda, a usar camiseta com cor amarela) e Carlinhos Machado (à direita), a ouvir os resultados iniciais da captura das bases da canção. Na segunda foto, Danilo Gomes Santos, o técnico e proprietário do Estúdio Prismathias (à esquerda, com camiseta listrada) e Malcolm X Bezerra Góes, seu assistente (à direita, com camiseta amarela), ambos de costas, atentos aos monitores do estúdio Prismathias. Clicks: Luiz Domingues
Uma pena para aquele trabalho, mas muitos anos depois, eu o apresentei aos Kurandeiros, por volta de 2015 e ele começou a ser executado mais ou menos como eu o houvera concebido, ou seja, sob fórmula de compasso em 6/8 e com uma cadência harmônica com certo ar jazzístico. Eu tinha apenas duas partes definidas, as chamadas "A" e "B" e não demorou muito para o Kim sugerir a inserção de uma parte "C", que já trouxe um elemento diferente, sob influência do Prog-Rock setentista. E assim, de maneira instrumental, ela ganhou forma e a tocamos ao vivo muitas vezes.
Interessante demais, foi notar que a aceitação do público mostrava-se excepcional quando a tocávamos. De fato, a batida que o Carlinhos criou, aliada à uma série de fraseados muito melódicos da guitarra do Kim, deu-lhe um acabamento muito enriquecedor, a lembrar de certa forma o som do famoso combo de Jazz cinquentista, "Dave Brubeck Quartet". Acostumamo-nos a tocá-la dessa forma, como tema jazzístico, com esse mapa a conter três partes, mas livre para aumentá-la em clima de jam-session, cheio de improvisos.
Luiz Domingues no aguardo da gravação, na 1ª foto e Kim Kehl flagrado em uma pausa para o café, na foto seguinte. Gravação do single: "Andando na Praia", dos Kurandeiros, no estúdio Prismathias, de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Click da foto 1: Carlinhos Machado. Foto 2: Luiz Domingues
Contudo, já ao final de 2017, o Kim comunicou-nos que estava a ter algumas ideias diferentes e por isso, queria mostrar-nos algumas sugestões para modificações, onde de antemão, já disse-nos que estava com a ideia para introduzir uma melodia a ser cantada e uma letra já em vias de construção, além de ter mudado o seu arranjo pessoal, ao amenizar a carga jazzística anterior e agora com tais modificações, a música haveria de ficar muito influenciada pelo Rock Psicodélico sessentista. Ora, quem leu a minha autobiografia com atenção, desde o começo, sabe o quanto eu aprecio tal vertente e a persigo há anos inclusive, sempre a tentar recriar tal escola estilística em outros trabalhos que realizei, desde o Pitbulls On Crack, no início dos anos 1990 e com maior fluidez através do Sidharta e na Patrulha do Espaço.
Pasmem, até no Pedra, uma banda onde havia resistência ideológica forte aos valores da contracultura sessentista, houveram momentos assim e sem dúvida, que eu também vivi isso com o Nudes de Ciro Pessoa, embora ali em específico, a minha contribuição no processo criativo da banda houvesse sido muito pequena.
Portanto, a proposta do Kim foi maravilhosa pelo aspecto das minhas convicções pessoais, mas por incrível que pareça, a minha reação inicial não foi reluzente na mesma proporção em que o leitor possa deduzir. Isso por que, não obstante o fato de eu adorar a psicodelia sessentista, eu gostava do formato instrumental e sob cunho jazzístico que o tema tinha anteriormente, portanto, lembro-me bem que afirmei ao Kim, logo que ele apresentou a ideia da modificação, que eu estava aberto a ouvir, mas não descartaria o velho tema jazzístico e sugeri em contrapartida que não o abandonássemos, mas que no futuro, o gravássemos nesse formato, como uma peça instrumental a parte e sob a argumentação óbvia de que havíamos colhido tantas opiniões favoráveis sobre ele, e assim, só por essa percepção que tivéramos, já valeria a pena.
Foi quando o Kim mostrou-nos as suas ideias para a modificação e nós dois, eu e Carlinhos, gostamos da nova roupagem psicodélica. Com fraseados tocados sob um pedal "Fuzz", bem exagerado, aquilo soou tão perto do "Garage Rock" sesssentista, que de imediato já elucubramos a introdução de um órgão Farfisa para somar-se ao arranjo, para sentirmo-nos a tocar no palco do "Whiskey-a-go-go" em 1966, com garotas a dançarem a bordo de mini vestidos e botas de cano longo, em jaulas suspensas ao nosso redor e sob a vista de uma plateia absolutamente sob um estado "Looney Tune"...
Kim Kehl no momento da gravação do vocal solo da canção "Andando na Praia". Estúdio Prismathias de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2018. Clicks: Luiz Domingues
Sobre a letra da canção, o Kim, que é sabidamente avesso a divagações intelectualizadas em suas criações, mostrou-nos algo que primou pela simplicidade, bem ao estilo de suas composições para o repertório d'Os Kurandeiros.
A exprimir na primeira pessoa, sobre o prazer de estar em uma praia em um determinado dia de calor, talvez destoasse um pouco da nova proposta da canção, onde pressupõem-se que o surrealismo fosse o melhor caminho para trilhar tal tipo de expressão artística baseada na loucura, no onírico e no irreal transdimensional, mas no entanto, não considerei a sua proposta, destoante.
Assim nasceu: "Andando na Praia". E dessa forma, lá estávamos eu (Luiz), Kim & Carlinhos para imortalizá-la, graças aos esforços de Danilo Gomes Santos em nome do seu estúdio, Prismathias.
Continua...
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