Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Click, acervo e cortesia: Tony Estrella
Entramos no palco e iniciamos o show com o tema: "Furos nos Sapatos", com bastante energia. O som do monitor estava muito bom, mas em meu caso, o timbre do meu baixo esteve muito aquém do que eu estava acostumado.
Isso por que no afã de preservar a minha saúde, eu anunciei aos companheiros que não levaria o meu equipamento pessoal e dessa forma, usaria o aparelho disponibilizado pela produção do Sesc. Portanto, com um triste amplificador Hartkle, projetado para atender o gosto desses rapazes que dizem serem baixistas, mas tocam com aquelas monstruosidades dotadas de cinco e pasmem, seis cordas, verdadeiros simulacros de baixos, é óbvio que um baixo de fato, ali não teria como soar bem.
No soundcheck, eu extraí o máximo da equalização desse triste aparelho e alcancei um resultado apenas razoável, portanto, soube de antemão que durante o show eu teria que conviver com tal limitação sonora inevitável, em relação ao som do meu instrumento.
Flagrantes do show do Pedra pela ótica do grande Cesar Gavin. Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Cesar Gavin
A segunda canção da noite foi, "Estrada" e eu fiquei feliz por constatar que a banda conseguiu domar a adrenalina imposta pela música anterior, a revelar-se um Hard-Rock mais vigoroso e adentrar posteriormente em um andamento mais comedido, sem acelerar e ainda mais ao levar-se em conta que também poderíamos contaminarmo-nos mais com o fator da adrenalina em ebulição, decorrente do início de show, fator esse que sempre ocorre em via de regra.
Seguimos em frente com "Queimada das Larvas nos Campos Sem Fim", com bastante entusiasmo, devidamente respaldados pelo bom público presente, que havia aplaudido bastante as duas primeiras músicas do show. Fiquei feliz ao notar na plateia a presença de muitos rostos amigos, entre músicos, produtores musicais,jornalistas e fotógrafos & film-makers.
Eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Ivan Scartezini e Xando Zupo. Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Click, acervo e cortesia: Cátia "Bolívia"
Entre tantos fotógrafos ali presentes, comoveu-me a presença de Cátia "Bolívia", viúva do saudoso, Edgar Franz, o popular "Bolívia". Casal famoso no meio musical paulistano por fotografar os mais variados shows do circuito, do mainstream ao limbo do underground, em uma questão de pouco mais de dois meses anteriormente, o grande Edgar "Bolívia" partira para uma outra dimensão, ao causar uma grande comoção no meio.
Portanto, quando eu a vi ali sentada bem na frente a fotografar, além da comoção que senti, também tive uma sensação de orgulho por ver que ela estava ali motivada por uma grande dose de coragem em manter o legado do casal e dessa forma, não há meio da presença do Edgar ser apagada de nossa percepção. Bravo, Cátia "Bolívia!"
Uma visão lateral do show. Show do Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Daniel "Kid" Ribeiro
Chegamos em "Os Teus Olhos" e a dinâmica estabelecida foi muito boa, com a canção a soar límpida, leve e bastante melódica. Rodrigo Hid foi para os teclados, enfim e ali tocamos: "Só", "Luz da Nova Canção" e "Madalena do Rock'n' Roll".
Nas duas primeiras, a doçura de ambas manteve-nos sob uma dinâmica intensa, o que foi bem agradável. Em "Madalena do Rock'n' Roll", a temperatura subiu, naturalmente.
Vieram a seguir: "Tô Indo a Mil", "Letras Miúdas" e "Jefferson Messias". A primeira soou com bastante balanço, a honrar as tradições da boa R'n'B, e no caso de "Letras Miúdas", creio ter sido um momento mais Hard-Rock, com vigor, porém, sem perder a ternura jamais, visto que a dinâmica estabelecida para realçar a vocalização da melodia foi bem observada pela banda.
E com o Rodrigo de volta aos teclados, "Jefferson Messias" arrancou uivos da plateia, principalmente na sua parte mais experimental, a insinuar a psicodelia sessentista e note-se que nesta banda, houve sempre uma histórica rejeição por tal escola (por conta da opinião de outros colegas, não a minha, naturalmente), portanto, essa canção é um ponto da curva do rio, como até sugere a sua letra, escrita pelo magnífico, Cézar de Mercês.
Momento semi-acústico do show. Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Tony Estrella
Três músicas com sentido semi-acústico advieram na sequência: "Projeções", "Meu Mundo é Seu" e "Nossos Dias". Lembro-me bem, o som do violão de doze cordas, soou excepcional no meu monitor, ou seja, foi um capricho da parte do técnico de monitor do show e da equipe fixa do Sesc (sobre o técnico, tratou-se de uma rapaz chamado, Evandro).
E também o violão de cordas de nylon, quando o Rodrigo arrancou suspiros das meninas ao cantar a balada sob forte teor MPB: "Meu Mundo é Seu". Já sobre a canção, "Nossos Dias", Rodrigo optou por tocá-la a usar a guitarra, mas com a devida leveza que um típico "Soft-Rock" merece ser tratado.
O quarteto do Pedra reunido, tantos anos depois. Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Voltamos a esquentar o show com temas mais fortes e "Filme de Terror" dignificou a memória do grande, Sérgio Sampaio e a do Pedra, igualmente, por tudo o que essa releitura representou em nossa trajetória.
"Longe do Chão", outra canção emblemática, foi interpretada com desenvoltura, certamente e Xando Zupo foi muito aplaudido pelo seu solo grandiloquente.
Assista acima a performance do Pedra para "Sou Mais Feliz". Pedra no Sesc Belenzinho
de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Filmagem de Cesar Gavin. Acervo: Site Rockbrasileiro.Net
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4sNUJXWadyg
Pessoas gritavam nomes de diversas músicas do repertório do Pedra em cada intervalo que fazíamos entre uma e outra execução. Isso é muito normal, não ocorre somente com o Pedra, mas em qualquer show de uma banda que possui muitos trabalhos gravados e não apenas no mundo do Rock.
Algumas músicas que pediam, eu sabia de antemão que não tocaríamos, mas eis que ouvimos um grito forte a destacar-se na multidão: -"O Dito Popular"... e seguiu-se a isso, a revelação, feita pelo próprio autor do grito, que tratara-se de Carlos Zoffo, o extrovertido ex-vocalista da banda, "Irmandade do Som", que apresentava o programa: "Clip Independente", na Rede NGT e cuja ajuda valiosa que prestara ao Pedra nos idos de 2006, jamais esquecemo-nos.
Tanto foi verdade, que o seu famoso bordão que usava no programa, tornou-se a sua marca registrada e motivou até o título de um dos capítulos do meu livro autobiográfico, em seu primeiro volume.
"Sabe o que é isso, banda" (?) foi o que ele dizia fartamente naquela ocasião e diante disso, não contive-me, pois fui ao microfone para proferir tal frase, com a intenção deliberada de saudar a sua presença, no teatro.
Entre tantos amigos fraternais que acompanharam o Pedra em sua história, ali presentes, Carlos Zoffo foi uma surpresa agradável a mais nessa noite.
Mais flagrantes do espetáculo. Na terceira foto, uma ilustração que o Diogo Oliveira esteve a criar simultaneamente no telão. Pedra no Sesc Belenzinho
de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Clicks, acervo e cortesia de Marcos Kishi
Reta final do espetáculo, foi a hora para tocar a canção, "Sou Mais Feliz", a música do Pedra que mais tocou pelas ondas radiofônicas.
Depois veio "Cuide-se Bem", outro grande êxito, como releitura da composição criada pelo extraordinário, Guilherme Arantes e celebrado pelo clip genial perpetrado pelo artista plástico, Diogo Oliveira, em parceria com Dedé Kanashiro.
Aliás, Diogo atuou o tempo todo a pintar virtualmente através de um tablet, cuja projeção foi diretamente inserida no telão para o público.
Rodrigo Hid e Ivan Scartezini em ação! Pedra no Sesc Belenzinho
de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Click, acervo e cortesia: Washington Santos
Encerramos o show com duas músicas mais eletrizantes, "Pra Não Voltar" e "O Galo Já Cantou". Desta feita, o público saiu de suas cadeiras e concentrou-se em pé, bem próximo ao palco ao atender uma solicitação feita pelo Xando, visto que o Sesc não permitia que as pessoas ficassem em pé durante o espetáculo e só tolerava uma manifestação mais acalorada ao seu término.
E também cerceava bastante o trabalho de fotógrafos, que praticamente só podiam clicar e filmar a permanecerem estáticos, em suas respectivas poltronas. Enfim, as famosas normas estapafúrdias e engessadas... o ponto fraco do Sesc.
Uma foto bastante experimental. Pedra no Sesc Belenzinho
de São Paulo, em 5 de abril de 2019. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
O público pediu e finalmente o anseio do amigo, Carlos Zoffo cumprir-se-ia: voltamos para executar, "O Dito Popular", com direito à menção de "Papa Was a Rolling Stone", para reeditar o arranjo em adendo que costumávamos fazer nos idos de 2009 e 2010.
Bem, foi isso, um encerramento apoteótico, com o público sob frenesi e a banda alimentada pelo sentimento bom do dever cumprido. E foi assim, ficamos todos contentes pelo show em si, também pela euforia do público e por mais algumas questões.
Ainda no decorrer do espetáculo, o Xando, quando foi agradecer ao iluminador (falha nossa/minha, não anotamos o seu nome), fez uma dedicatória ao grande, Wagner Molina, saudoso, infelizmente e que tantas vezes iluminara os nossos shows, principalmente no período entre 2007 e 2014. Fiquei feliz por ouvir do iluminador, um rapaz jovem e aliás, bastante competente, que ele também emocionara-se quando ouvira a citação ao Molina, pois fora seu amigo, igualmente.
Muitos amigos aguardaram no saguão para cumprimentar-nos após o término do espetáculo. Foi bastante prazeroso também por esse aspecto.
Continua...
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