domingo, 18 de agosto de 2019

Procurar o Erro Alheio com Lupa - Por Luiz Domingues

Em uma pequena cidade localizada na Baviera, Alemanha, havia um artesão que era muito meticuloso em seu trabalho, não que ele fosse um perfeccionista em essência, porém, por simplesmente gostar muito do que fazia e por conseguinte, trabalhar com bastante apreço à sua arte. 
 
Ludwig era o seu nome e ele costumava gastar horas, até dias em torno da confecção de uma única peça e por conta desse apreço, só dar por encerrada a sua concepção, quando era enfim aprovada pelo seu senso crítico, após muitas inspeções minuciosas por ele empreendidas.
 
Geralmente as suas peças ganhavam muitos elogios da parte das pessoas de sua pequena cidade, que reconheciam nele, não apenas um gênio do artesanato, mas por reconhecerem implicitamente o quanto ele esforçava-se para confeccioná-las e sobretudo por saberem que havia um esmero da parte de Ludwig, para impregnar em suas peças, uma energia boa, revestida por uma boa intenção e tal fator, que fora algo tão sutil, era naturalmente sentido pelas pessoas, ao se estabelecer uma espécie de sincronia que criavam entre eles e o artesão.
Todavia, apesar da maioria das pessoas pensarem dessa forma, tal prerrogativa não foi uma unanimidade. Haviam algumas pessoas, que não sentiam tal empatia para com a sua obra. Foram poucas, é bem verdade e entre elas, havia um homem chamado, Aleksander Von Zipperig, que nutria uma certa aversão ao artesão e notadamente a denotar haver algo além da obra, pois este senhor mal disfarçava tal sentimento negativo que possuía.
 
Qualquer comentário em tom de elogio dirigidos à Ludwig, incomodava-lhe ao ponto dele questionar os seus interlocutores, no sentido de indagar-lhes se tal artesão merecia mesmo tanta consideração e ao ir além, às vezes emitia comentários um tanto quanto desdenhosos, para demarcar com veemência a sua opinião em contrário da maioria.
Pois eis que um dia, Ludwig resolveu criar uma peça para enaltecer a comunidade inteira e em seu bojo, ele fez citações personalizadas sobre diversas pessoas que eram componentes daquela pequena localidade.
 
E entre tantas, houve uma reverência a herr Zippering, que ele sabia que não gostava de sua pessoa e costumava desdenhar de sua obra, mas a recíproca não era verdadeira, pois Ludwig não alimentava nenhum sentimento nocivo em retribuição e muito pelo contrário, reconhecia a importância de herr Zippering para aquela localidade e o seu talento pessoal a contribuir para aquela sociedade, graças aos seus empreendimentos. 
 
Assim que a peça foi finalizada e exibida, as pessoas gostaram muito da sua composição e agradecidas, pessoalmente pela menção de cada uma ali, de uma maneira personalizada. 
Menos herr Zippering, que emitiu um comunicado geral, sem nem mencionar o artesão e a conter um tom duro, absolutamente inadequado e descortês. As suas palavras foram as seguintes: 
 
-“Eu soube que uma peça de artesanato fez menção à minha pessoa, mas preciso esclarecer que há três erros nessa composição no que tange-me e que o responsável por tal peça deveria primeiro pesquisar melhor para não sair por aí a retratar-me bisonhamente”. 
 
Ludwig leu o comunicado e incontinente recolheu-se ao seu pequeno atelier, onde fez as modificações necessárias, em consideração à reclamação de herr Zippering. Tratou-se de algumas modificações na sua figura, relativas ao seu nariz e orelhas. 
 
Muito bem, errar é humano, talvez ele não tivesse notado direito tais características com maior apuro, mediante as fotografias que vira, no entanto, doravante estava tudo corrigido e a peça foi ornar a parede de um pequeno centro cultural comunitário, justamente para enaltecer o maior tesouro daquela cidade que fora justamente as pessoas que ali contribuíam para o seu desenvolvimento. 
 
Todavia, ele sabia que não receberia nenhuma palavra de apoio da parte de herr Zippering, a não ser que houvesse mais uma reclamação. E também sabia que simplesmente, se omitisse a sua presença no painel, seria apenas uma retaliação na mesma medida, a denotar desprezo, portanto, é claro que tal atitude jamais partiria da sua parte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário