quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Crônicas da Autobiografia - A Queda em Câmera Lenta - Por Luiz Domingues


                  Aconteceu no tempo d’A Chave do Sol, em 1987

Acontecimentos extra-musicais ocorrem o tempo todo no ambiente de um estúdio de gravação e muitas vezes, a depender de cada caso, podem ajudar a descontrair a tensão ou estimular a criá-la, portanto para melhorar ou piorar o foco dos artistas e dos técnicos ali envolvidos em torno do trabalho de gravação de um disco ou de uma simples demo-tape de uma banda. Todo músico que teve a felicidade de poder registrar um trabalho, tem uma história para contar nesse sentido, eu tenho certeza.

Em meu caso, depois de mais de vinte discos (e mais de quinze fitas demo-tape), gravados até este instante, é fato que acumulei muitas lembranças, boas e más, aliás. Por sorte, tenho mais recordações agradáveis para guardar com carinho na memória. 
 
Sobre a ocorrência que eu narro nesta crônica, se trata de um acontecimento engraçado, embora não tenha sido uma história mirabolante e pelo contrário, a revelar-se como um acontecimento singelo.
O clima não estava bom entre os membros da nossa banda nas sessões de gravação do LP The Key em 1987. Aqueles dias foram os últimos em termos de esforços de nossa parte, para mantermos a banda em atividade, infelizmente. Em meio aos problemas que enfrentávamos, eis que algo inusitado ocorreu em uma das sessões, a envolver-me diretamente.
Estávamos a ouvir um trecho de uma música, e neste caso a contar com eu mesmo (Luiz Domingues), junto ao guitarrista, Rubens Gióia e o técnico de som, Pepeu, do estúdio Guidon. A cadeira em que eu estava sentado continha rodinhas e era reclinável, a mostrar-se bastante confortável. 
 
Pois foi em um instante onde estávamos concentrados para ouvir um determinado detalhe de uma música, que eu reclinei-me para ficar mais concentrado. À medida que escutava com atenção tal trecho da canção, a buscar ter a certeza que não havia nada de errado naquele detalhe que investigávamos, eu não percebi que a cadeira pôs-se a sair discretamente do seu eixo. Sorrateiramente, eis que a ação da física fez-se valer e praticamente em câmera lenta, eu senti a precipitação da cadeira que fatalmente culminaria em jogar-me ao solo. 
 
Foram frações de segundos, certamente, mas a ação pareceu lenta no calor dos acontecimentos e assim, a minha reação e também dos amigos que cercavam-me foi a mesma, ou seja, a revelar um sentimento entre a estupefação pelo inusitado da situação e a letargia, por conta da estranha ação que pareceu lenta. Pois foi quando a cadeira quase tocou o solo, que o Rubens Gióia teve o reflexo enfim para segurá-la e evitar a minha queda total.

Salvo no último estertor, após uma inevitável e epidêmica sessão de risadas, ninguém ali realmente conseguiu entender a cena, não pelo fato da cadeira ter virado, algo trivial em uma cadeira com rodas e nem mesmo pelo excesso de inclinação em que ela foi submetida, por conta de minha própria ação corporal. 
 
Entretanto, o que realmente chamou a atenção de todos foi a questão da morosidade com a qual o evento transcorreu. Tivesse sido um efeito especial para realçar uma cena de um filme, perfeito, que belo recurso, mas ali, na vida real, foi algo muito inusitado.
Bem, foi engraçado, inusitado e até misterioso em certa medida, mas não ajudou em nada a amenizar o clima pesado com o qual a nossa banda gravou o LP “The Key”, uma grande pena.

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