segunda-feira, 22 de março de 2021

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 142 - Por Luiz Domingues

E dessa forma, animados com a perspectiva de um disco novo, lá fomos nós no dia 6 de fevereiro de 2021 ao simpático estúdio Prismathias, no bairro do Parque São Lucas, na zona leste de São Paulo. Tarde quente de verão, chegamos com tranquilidade e fomos recepcionados com bastante cordialidade pelo seu proprietário e técnico responsável, Danilo Gomes Santos.

A missão que planejamos foi hercúlea, no sentido de que havíamos combinado gravarmos as bases todas em tomadas únicas para cada canção. Não é, como eu já salientei muitas vezes, a minha metodologia predileta de gravação, mas como eu já expliquei isso inúmeras vezes ao longo da minha autobiografia, inclusive a enfocar outros trabalhos, não vou cansar o leitor com a repetição. Entretanto, é preciso acrescentar que ante a menor robustez econômica que uma banda de Rock não alojada no patamar mainstream geralmente ostenta, tal recurso revela-se normalmente como a única solução plausível para se efetuar uma produção fonográfica, portanto, é algo quase sempre inevitável.

Carlinhos Machado a arrumar o seu instrumento logo no início dos trabalhos no estúdio Prismathias. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues 

Tudo bem, Rockers para lá de experientes, com a linha de frente da banda na idade sexagenária, a situação não nos causara nenhuma contrariedade insustentável e pelo contrário, se eu não acho o método mais adequado, ao mesmo tempo estou tão acostumado a lidar com tal metodologia mais simplória que realmente não incomodou-me sobremaneira mais uma vez fazer uso dela.

Phill Rendeiro, também no aguardo dos trabalhos começarem, visto pela "casinha" da bateria. Click e acervo: Luiz Domingues

Bem, a hospitalidade do Danilo em seu estúdio foi total e a animação dele e igualmente a nossa, embalou o bom astral para que pudéssemos mergulhar no trabalho com bastante afinco e vontade de darmos o nosso máximo.

De comum acordo, iniciamos a gravar a canção: "Cidade Fantasma", pois julgamos que pelo fato dela ter estado bem segura, visto que já a havíamos até a tocado ao vivo no evento: "Rock in SP/Versão on Line 2021", recentemente, a credenciá-la e além do mais, nós levamos em consideração o fato de que o seu andamento mais ameno também ajudaria a nos fazer usarmos poucas tomadas e assim, ganharíamos confiança para seguir em frente com as outras canções. 

Duas das três guitarras que o Kim Kehl utilizou nesse primeiro dia de gravação no estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Pois muito bem, acertado o metrônomo, o click surgiu em nossos respectivos fones de ouvido e nós gravamos com uma desenvoltura tal que foi muito mais que uma ação produtiva, mas na verdade, um prazer para todos nós gravarmos tão rapidamente e com um balanço natural garantido por todos nos arranjos individuais e que funcionou de forma magnífica no aspecto coletivo.

Kim Kehl em um momento de descontração nas dependências do estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues  

Confiantes, fomos para a segunda canção, "Gasolina", que se trata de uma balada com forte apelo Country-Rock, portanto, eu permaneci com o mesmo baixo que usei na canção anterior, o Fender Jazz Bass e novamente creio que acertei na escolha, dada a constatação de que o som grave, encorpado e brilhante que veio das caixas de monitoração da técnica do estúdio, quando da nossa audição posterior, gerou-me (e aos demais), uma impressão super positiva.

Eu, Luiz Domingues a usar o Fender Jazz Bass com o seu timbre sempre robusto e brilhante. Estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click, acervo e cortesia de Kim Kehl.

Foi mais uma gravação tranquila, no beat correto do click, com todos soltos e assim, creio que a base tenha ficado ótima.

Veio a seguir para gravarmos, um tema versado pelo Blues-Rock mais acelerado, mas aqui cabe uma ressalva. Quando fizemos ensaios prévios para a pré-produção desse disco novo, tal canção conhecida como "Noite de Sábado", o andamento que usávamos para ela, era mais rápido. 

No entanto, quando fomos usar o mesmo parâmetro para acertar o metrônomo, percebemos que mais lento um pouco talvez soasse melhor, apesar da volúpia sugerida pelo riff primordial que sugere o som do Johnny Winter, possivelmente. Bem, ajustamos para baixo e assim gravamos tal versão mais lenta do que a prevíamos, mas eu penso que tenha ficado muito bom.

Phill Rendeiro também flagrado em uma momento de descontração no estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo de Luiz Domingues 

Poucas tomadas para cada canção, timbres sensacionais dos instrumentos, alto astral e animação generalizada, em suma, esteve tudo perfeito nessa primeira sessão e como se não bastasse esse clima todo favorável, ainda por cima estávamos ligados em nossa participação no evento "Rock in SP/Versão on Line 2021", que estava a ser transmitido ao vivo, portanto, tudo somou para que o ambiente ficasse permeado pelo bom astral.

Na primeira foto, Kim Kehl e Phill Rendeiro observam o técnico/proprietário do estúdio Prismathias, Danilo Gomes Santos a trabalhar. Na segunda foto, Kim Kehl e eu, Luiz Domingues, sinalizamos, enquanto o Danilo trabalhava. E na terceira, Carlinhos Machado também ouve e observa o Danilo a trabalhar. Estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Clicks e acervo: Luiz Domingues

Resolvemos gravar mais uma faixa, dada a constatação de que a primeira sessão transcorria de uma maneira extraordinária e assim optamos pela canção psicodélica/"zepelliniana", "Viagem Muito Louca" e nesse caso, eu já havia programado fazer uso de um outro baixo que soaria melhor em meu entendimento, por isso, peguei o Rickenbacker em mãos e fui confiante para a gravação do tema.

Kim Kehl a preparar o som da sua guitarra Fender Telecaster, visto da sala da técnica do estúdio Prismathias. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Tema muito bonito e com a clara intenção de homenagear o nosso amigo, Ciro Pessoa, que nos deixara no ano de 2020, eis que gravamos com tranquilidade e com a devida emoção necessária, dada a carga emocional proposta pela canção. 

Eu, Luiz Domingues a usar o baixo Rickenbacker, pronto para buscar o elemento psicodélico a homenagear o amigo Ciro Pessoa. Estúdio Prismathias. 6 de fevereiro de 2021. Click, acervo e cortesia de Carlinhos Machado

A sessão estava por encerrar-se, mas o Danilo nos sinalizou que se quiséssemos tentar uma tomada da quinta faixa a ser gravada, poderíamos tentar. E assim fomos gravar a canção: "São Paulo", um tema com forte apelo Pop/Aor. 

Visto da sala de gravação e com o meu próprio reflexo no vidro, Danilo Gomes Santos trabalha na técnica. Estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Nós fizemos algumas tomadas, mas nessa altura, o cansaço já se fazia proeminente. Chegamos a guardar duas tomadas no arquivo da máquina, consideradas satisfatórias, mas o combinado foi encerrarmos e assim que voltássemos no dia posterior, iniciássemos a sessão com novas tentativas para gravarmos a faixa: "São Paulo", talvez com um outro ânimo, pois as tomadas que fizéramos ainda no sábado, dia 6, estavam bem razoáveis, mas gravação é assim mesmo e quando se percebe que a energia criativa acabou, mesmo que a gravação esteja correta, pode ficar melhor sob uma nova tentativa com uma interpretação mais arejada.

Carlinhos Machado em momento de descontração nas dependências do estúdio Prismathias de São Paulo. 6 de fevereiro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

E assim nós encerramos a primeira sessão de gravação do novo disco, até então sem um título definido nesse momento. No dia seguinte, prosseguiríamos então com mais uma gravação de base para a canção: "São Paulo" e o nosso tecladista, Nelson Ferraresso estaria presente para dar início à sua participação, ao gravar os teclados para as cinco canções.

Continua...

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