sábado, 22 de maio de 2021

Crônicas da Autobiografia - Casos Ocorridos em Elevadores - Por Luiz Domingues

               Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1986...

Elevador é sempre um dispositivo que gera uma quantidade de ocorrências, as mais diversas. Histórias engraçadas e também as tristes a conter tragédias, estão contidas no imaginário popular, desde que tal dispositivo mecânico foi criado para prover ascenso e descenso interno em edificações verticais de grande proporção.

A pensar nas ocorrências alegres, eu tenho duas passagens vividas em elevadores, com A Chave do Sol, no ano de 1986.

A primeira, aconteceu em uma visita que a nossa banda fez a um escritório de empresários que estava a produzir um show no qual nós participaríamos na época. 

Na saída da reunião, a nossa banda que esteve completa para participar de tal reunião, com todos os componentes presentes, ocorreu que ao adentrarmos no elevador, percebemos a presença de um artista famoso que já estava ali presente, provavelmente vindo de um andar mais alto em direção ao piso térreo do prédio, mas não houve tempo para falarmos nada, pois o próprio artista em si, se manifestou.

Os grandes "guitarreiros", Alvin Lee, na primeira foto e Luis Vagner, na segunda 

Aconteceu que o rapaz ao ver a foto do guitarrista britânico, Alvin Lee, como estampa da camiseta que o nosso guitarrista, Rubens Gióia usava nesse dia, foi enfático ao elogiar tanto o artista estrangeiro que também admirava, quanto à escolha do Rubens em envergar tal estampa e a denotar que nutria tal bom gosto semelhante. De brincadeira, ele falou que era fã do "guitarreiro" da foto. 

O Rubens foi rápido na resposta ao reconhecer o grande, Luiz Vagner, como o interlocutor presente no elevador e lhe respondeu com bom humor que também gostava dos dois "guitarreiros", o citado Alvin Lee, genial guitarrista do grupo britânico, "Ten Years After" e dele, Luis Vagner, uma figura história, ex-membro do grupo sessentista, "Os Brasas", side-man de uma infinidade de artistas importantes da MPB e detentor de uma boa carreira solo municiada com muitos discos lançados. 

             O excelente guitarrista/"guitarreiro", Luis Vagner

Mais do que isso, o apelido a usar o neologismo "guitarreiro", foi uma marca da sua carreira a se provar muito forte, que o marcou, daí ter sido uma ótima brincadeira travada entre ambos e certamente que eu interpretei a conversa como uma forma de reverência aos três, Alvin Lee, Luiz Vagner e para o próprio Rubens.

O grande e hoje também saudoso, Rubens Gióia em ação com A Chave do Sol em 1987

Para ilustrar no momento de 2021 em que eu escrevi esta crônica, foi triste e curioso notar que neste ano, perdemos os dois, (Rubens Gióia em janeiro e Luiz Vagner em maio) e sem deixar de mencionar que Alvin Lee nos deixara em março de 2013. Em suma, em alguma dimensão extra-física, eu espero que os três "guitarreiros" estejam juntos a tocarem. 

O segundo caso a envolver elevadores, ocorreu também em 1986. Mais uma vez a nossa banda estava completa na ocasião, pois havíamos visitado os estúdios da Rede Bandeirantes de TV em São Paulo. Assim que encerramos a visita a uma determinada redação que havíamos procurado por conta da divulgação de shows que faríamos e assim, promovemos tal ação ali na redação de um determinado programa que existia na grade dessa emissora à época ("Super Especial").

Na saída da sala de produção desse programa, nós entramos no elevador e quando a porta abriu, vimos que havia uma garota já a usá-lo e cuja reação foi muito acintosa ao nos mirar, visto que ela demonstrou em seu semblante e gestual corporal que se assustou com a nossa presença.

Então atriz a atuar em programas humorísticos da emissora citada, essa moça se mostrara bem pequena em sua estatura física e tirante o Rubens, que entre nós membros da banda, era o mais alto, ninguém tinha um porte assustador, mas ante a sua menor envergadura e talvez por nutrir preconceitos descabidos sobre Rockers cabeludos, ela tenha se assustado com a nossa presença a ostentarmos, todos, longas cabeleiras ao estilo setentista, mas que no imaginário da época nos estigmatizara como uma tribo oitentista e mal avaliada no imaginário popular, ou seja, nos assemelhávamos aos ditos "metaleiros".

Portanto, vá saber se a então mocinha em questão pensou quando a porta do elevador se abriu e mirou a presença de quatro sujeitos perigosos em sua avaliação? O que esses elementos perigosos poderiam cometer contra ela? Foi certamente uma reação exagerada da parte da moça, embora nenhuma palavra tenha sido proferida, sequer. 

O vocalista e guitarrista, Beto Cruz em ação com A Chave do Sol em fevereiro de 1987

No entanto, o Beto Cruz, que sempre foi um brincalhão contumaz, ao perceber o constrangimento da moça, praticamente uma manifestação de pavor se pode afirmar, enquanto o elevador nos conduzia ao piso térreo, ficou a encará-la de forma acintosa, para satirizar o medo descabido apresentado pela garota. 

Ela ficou em absoluto estado de incômodo indisfarçável durante aqueles segundos enquanto aguardava o descenso do elevador ao certamente elucubrar o pior da nossa parte como algo plausível de acontecer, de uma forma completamente absurda, logicamente. 

Ali, pequenina em sua estatura física e apavorada por temer um ataque, verbal ou não da nossa parte, foi de uma certa maneira cômico o seu temor descabido, envolta por quatro homens pacíficos, educados e respeitadores, mas que na sua avaliação equivocada, representaram um perigo em potencial à sua integridade física e moral. 

A porta do elevador abriu assim que chegamos ao andar térreo e a moça saiu em disparada, a provar que ficara apavorada com a incômoda situação em que se sentira sob uma terrível ameaça imaginária da sua parte. Conclusão: que estrago que a formação de opinião faz para a sociedade, não é mesmo? 

E para concluir, essa moça desistiu da carreira de atriz, migrou para o telejornalismo e ficou muito famosa a posteriori. Tomara que tenha perdido o medo dos Rockers cabeludos e não os tema, acaso os encontre em algum elevador nos dias atuais.     

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