Não é fácil buscar uma adaptação a um meio social, seja lá qual for, quando se é tímido e inseguro, por conseguinte, sem coragem para tomar qualquer atitude sem correr o perigo de ser atabalhoado e gerar escárnio da parte das pessoas em geral.
Um fator desencadeia o outro, portanto, quando a pessoa é insegura, tende a se retrair ainda mais a alimentar o medo da rejeição. E como contrapartida, se tenta fazer algo fora das suas possibilidades, geralmente tende a cometer gafes que a levam a um tipo de exposição desastrosa que pode estigmatiza-la, ou seja, não é fácil a vida do tímido que tenta mudar a sua situação em um meio social a ter apenas a experimentação empírica, sem apoio de um profissional preparado para lidar com o seu transtorno de ordem psicológica.
Este foi o caso de Norberto Camponne, um jovem oriundo de Lecce, na região da Puglia, Itália, que se mostrava extremamente tímido desde que nascera. No entanto, apesar dessa insegurança enorme que ele possuía para conviver socialmente, ele era inteligente e ao se sobressair nos estudos, conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade prestigiada do norte do país.
Mesmo ao sentir um medo terrível de ficar longe de sua família, aceitou de pronto a colocação, mas secretamente, tremeu quando chegou na cidade de Torino.
A duras penas, ele teve muita sorte de ser aceito por um pequeno grupo de amigos no alojamento estudantil que diferentemente da mentalidade habitual no meio universitário, tais membros desse grupo abominavam a prática do “bullying” e mais do que isso, ao perceberem a timidez contumaz de Camponne, o aceitaram em seu meio, no sentido de o convidarem para todo o tipo de atividade que eles promoviam, além dos estudos, de cunho esportivo, social, cultural ou simplesmente recreativo.
Nos esportes, ele não demonstrava habilidade em qualquer modalidade e mesmo para ser um torcedor na arquibancada, a sua falta de noção como se portar, fazia dele um alvo fácil de todo o tipo de brincadeiras da parte de outros estudantes, portanto, os seus amigos passaram a evitar que ele fosse assistir jogos para poupá-lo da possibilidade de se tornar estigmatizado, ao ponto de que pudesse se sentir humilhado
Em termos culturais, ele de fato se portava com maior discrição e por ser inteligente em ambientes desse porte e assim, por ter um bom nível cultural, não cometia gafes, mas no âmbito social, principalmente para lidar com as meninas, a sua fragilidade emocional lhe causava vários constrangimentos.
Certa vez em uma festa, Camponne bebeu para criar coragem de abordar uma moça pela qual se sentira atraído, ao ponto de se tornar inconveniente e dessa forma, ele foi sumariamente rejeitado por ela.
A sua reação foi agressiva ao atirar o conteúdo de seu copo de cerveja nas costas dela, quando esta se virou para se afastar dele e por sorte, a sua falta de pontaria fez com que o líquido atingisse o solo e não a moça.
Rapidamente os seus amigos o tiraram daquele local, pois poderia gerar retaliações da parte de outras pessoas que tomariam para si a ofensa cometida contra a garota.
E assim os rapazes aprenderam a conviver com essas atitudes intempestivas de Norberto, a relevar os seus rompantes, na esperança de que ele se livraria aos poucos de seus traumas, portanto, a se portarem como psicólogos práticos, porém, sem noção alguma sobre um assunto técnico do qual não tinham nenhum conhecimento.
Não passou muito tempo e na saída de um show de uma banda de Rock da qual eles haviam ido assistir, ele tirou a cabeça para fora do carro e ofendeu diversos fãs que caminhavam silenciosamente para o ponto de ônibus. Os amigos não esperavam a atitude descabida e desta vez, não relevaram ao lhe dar uma repreensão verbal, pois entre outras consequências, várias pedras e pedaços de paus foram arremessados pelos jovens pedestres que se sentiram ofendidos gratuitamente e assim, todos os passageiros do carro se sentiram em perigo por conta disso, além do próprio dono do veículo, que reclamou ainda mais com as pedras que atingiram a lataria do seu carro.
E em outra ocasião, Norberto estava a ouvir uma conversa sobre moda e em tom de crítica, os seus amigos discorriam sobre a feiura das bermudas que muitos rapazes estavam a usar no cotidiano da universidade e notadas pelas alamedas e corredores do campus universitário. Sem falar nada, Norberto apenas olhava e escutava, até que a conversa mudou e o assunto foi encerrado.
Alguns dias depois, em um passeio noturno que fizeram de carro, eis que Norberto estava a conversar sobre outras questões, quando avistou um grupo de rapazes a usarem as indefectíveis bermudas, objeto de discussão ocorrida dias antes e devidamente fora da pauta daquele momento, e mesmo fora daquele contexto de momento, não teve dúvida ao colocar a cabeça para fora da janela do carro e berrar em sua direção: -“Vão comprar calças, seus FDP”...
De imediato, um dos rapazes sacou um revólver que tinha consigo na cintura e sobre o qual, obviamente que Norberto não detectara anteriormente, e então ele disparou para o alto e a gritar de forma irada que atiraria no desgraçado que mexera com ele e seus amigos, sem motivação alguma para tal.
Evidentemente que o motorista se apressou para evadir-se do local para garantir a segurança de todos e logo que ficaram fora do alcance do rapaz armado e insultado, parou e com apoio dos demais colegas, passou uma descompostura em Norberto que se retraiu de imediato, ao entender que realmente passara dos limites.
Entretanto, a paciência desses rapazes para com ele se esgotou depois desse evento e paulatinamente eles foram deixando de convidá-lo para participar das atividades do grupo.
E quanto ao Norberto, bem, esse gelo da parte de quem o acolhera como amigo e lhe dera tanto apoio moral para que este se livrasse de suas amarras psicológicas, foi um duro golpe para a sua autoestima.
Entretanto, tal problema gerado, ao invés de lhe provocar uma reflexão, na verdade só o levou ao estágio inicial de sua reclusão social, ao se sentir novamente isolado, sem coragem para enfrentar os seus problemas e assim, ele se colocou absorto na sua timidez.
Quando a graduação chegou para aquela turma, o distanciamento estava tão grande que ninguém sequer teve alguma notícia do paradeiro dele. Souberam apenas que ele se formara, pegou o seu diploma e sumiu, muito provavelmente de volta à sua terra natal e nada mais.
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