Finalmente, em algum momento entre os anos de 2018 e 2019, eu tive uma ideia que mudou completamente o meu planejamento. Ao invés de debutar no mundo literário com a minha própria autobiografia, que seria caro para investir, trabalhoso para produzir e ao mesmo tempo com tal estratégia não ser possível demarcar claramente ao público que eu pretendia me lançar oficialmente como escritor e não apenas ser enxergado como um músico que escreveu a sua autobiografia musical. E a despeito de ter sido de fato uma autobiografia e não um texto ditado para um "ghost writer", como um mérito a ser realçado nessa vontade de me lançar como um escritor, verdadeiramente, ainda assim eu repensei e cheguei à conclusão de que a estratégia deveria mudar.
Foi então que eu cheguei à preparação do que veio a se tornar de fato o meu primeiro livro: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll". Mesmo assim, eu tive alguns percalços e aprendi muito com isso, ao finalmente lidar com o mundo literário.
O primeiro ponto a ser mencionado, foi no sentido de quando eu resolvi que deveria acelerar a produção do meu primeiro livro, ponderei que para a minha trajetória especificamente como escritor, não seria a melhor estratégia começar com um livro de teor autobiográfico. Isso porque se eu fosse um músico que houvesse escrito uma autobiografia da minha própria trajetória, porém sem nenhuma pretensão a mais no sentido literário, não haveria prejuízo algum. No entanto, para demarcar um posicionamento nesse sentido de querer me impor como escritor, não seria a melhor estratégia a ser adotada.
A foto ficou invertida, mas o que importa foi o momento de felicidade que eu tive no dia em que peguei na mão, finalmente, um livro impresso que escrevi. Abril de 2020. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues
Portanto, eu optei por lançar inicialmente uma obra autoral para realçar a minha entrada no mundo literário, com a implícita intenção de assumir esse feito como o início da minha carreira literária em paralelo à atuação na música, ou seja, para deixar claro que doravante eu iria me dedicar a lançar discos e livros, e não necessariamente em uma "casa no campo", porém mesmo dentro da urbanidade total, com esse espírito, certamente.
E a minha dúvida nesse instante foi: qual livro lançar então, fora da minha autobiografia ou próximo disso? Bem, o livro mais pronto para ser finalizado, mediante tal perfil que eu precisava, seria em torno da compilação de resenhas de filmes de Rock, e aí, a base foi mesmo centrada naqueles textos iniciais que eu lançara em 2011, no Blog do Juma, mas com algumas republicações em outros blogs e no meu blog 1, naturalmente.
Entretanto, os textos originais que eu já havia escrito, eram curtos em demasia, condensados propositalmente para a adequação ao padrão de um blog, com leitura mais rápida e segundo ponto, apesar de haver uma boa quantidade (cerca de cinquenta resenhas), para compor um livro, eu julguei ser muito pouco material. Dessa forma, acelerei em duas frentes, a conter a tarefa de rever e aumentar os textos já existentes e criar mais resenhas inéditas já a se configurar tal formato.
Para
criar mais resenhas de imediato, foi relativamente fácil avançar, pois
eu ainda mantinha na memória afetiva mais próxima, diversos filmes dos
quais eu passei a analisar para dar vazão a compor para o livro. Porém, a pesquisa para escrever também englobou a necessidade de assistir pela primeira vez alguns filmes desconhecidos até então, ou ver de novo muitos desses filmes.
Nesse momento, entrou em voga o fator imponderável, ou seja, empolgado com a perspectiva, pus-me a escrever livremente, sem uma meta pré-estabelecida em termos de metragem. Sem uma maior noção sobre como funciona o processo de diagramação de um livro, o máximo que eu havia absorvido daqueles rapazes que tentaram me ajudar entre 2016 e 2017, foi que o texto do meu livro autobiográfico era gigantesco ao ponto de que mesmo que eu o dividisse em três partes, ainda sim renderiam três volumes com mais de quinhentas páginas para cada um. Mas eles não me informaram com maior precisão nessa época, como eu deveria proceder no aplicativo "word" para calcular exatamente quantas páginas ali escritas (e com qual fonte de letras e tamanho eu deveria usar), isto é, a repercutir no quanto isso seria calculado em laudas tradicionais, tampouco o que representaria em termos de páginas para um livro impresso.
Forro para travesseiros comemorativos do lançamento dos meus livros e alguns exemplares dos mesmos colocados nesse cenário. Abril de 2020. Click e acervo: Luiz Domingues
Foi então que sem essa noção básica, fruto de ser um escritor debutante no meio, apesar da idade cronológica avançada na época, que sem limites, escrevi livremente e à medida que eu pesquisava informações sobre os filmes que eu estava a analisar, descobria filmes obscuros, porém interessantes, dos quais alguns eu já havia ouvido falar, mas nunca tivera a oportunidade de assistir, e outros completamente desconhecidos na minha percepção e que me chamaram a atenção.
Quase ao final de 2019, mesmo sem a real noção do tamanho do texto que eu preparava, ainda tive o ímpeto de esperar o lançamento de dois filmes que chegaram às salas de cinema ("Rocket Man", cinebiografia do astro Elton John e "Yesterday", uma comédia romântica misturada com o gênero Sci-Fi e cujo mote era mais do que a música do quarteto britânico "The Beatles" em si, mas a se tratar de uma fantasia sobre a sua não-existência no mundo).
Munido de bloco de anotação e caneta, escrevi notas a assistir tais filmes em salas de cinema, ou seja, foi nos estertores da produção do livro, com tais obras ainda nas telas grandes em plena exibição, que eu concluí a obra. Já havia indícios de outros filmes ligados ao Rock que estavam em fase de produção e isso sem contar o fato que em meio à minha pesquisa, eu havia chegado à conclusão de que além dos cento e trinta e um filmes que analisei sob resenhas, havia mais de quatrocentos e cinquenta outros filmes de Rock, produções ao longo da década de cinquenta aos dias atuais, para ver e analisar.
O meu amigo e editor, homem de múltiplos talentos e entre eles, como escritor tarimbado: Cristiano Rocha Affonso da Costa. Fonte: Facebook
Nesse ínterim, eu havia tido o contato de um amigo meu de longa data (Cristiano Rocha Affonso da Costa), que por ser músico igualmente, tinha aberto em seu nome uma produtora cultural para prover os shows da sua banda (Matilda Rock Band), e pelo fato de também ser escritor, ele usava tal produtora como editora igualmente, para lançar os seus livros. Falamos sobre essa possibilidade em 2018, e no início de 2019, quando eu estive no sul do país para fazer shows e ele acompanhou essa fase minha com a Patrulha do Espaço e não só assistiu como nos ajudou muito na logística dessas apresentações ocorridas em muitas cidades dos estados do Paraná e Santa Catarina. Ao reafirmar a sua gentil oferta, ficou essa porta aberta da sua produtora.
Mesmo assim, ao ver que meus amigos, Ciro, Walter e Áureo haviam lançado os seus respectivos livros por uma editora portuguesa que anunciava estar a abrir as portas para autores novos, julguei que seria o meu caminho também. No entanto, ao consultar um deles, Walter Possibom, ele me disse que se decepcionara em demasia, não exatamente com a sede dessa editora em Lisboa, mas com a direção do escritório dessa companhia em São Paulo, no tocante às contas não prestadas devidamente e também com a distribuição dos exemplares, além da divulgação inexistente segundo o seu relato e assim, no seu livro subsequente ele mudou de editora e lançou o novo trabalho por uma editora de Brasília.
Entretanto, ele me disse que ali nessa outra casa editorial com a qual trabalhara não havia a liberdade artística que sentira na editora portuguesa, pois o editor era um sujeito temperamental, cujo crivo para aceitar ou rejeitar uma obra era mensurado pela condição volátil do seu humor ao acordar a cada manhã e pior, toda a despesa técnica referente à revisão gramatical e diagramação, arte de capa e despesas com a obtenção do código ISBN (o famoso código de barras emitido pela Biblioteca Nacional e sem o qual, não é possível vender o livro em grandes livrarias físicas ou sites de vendas virtuais), além da despesa na gráfica com uma cota mínima de exemplares pré-estabelecida, estaria por conta do autor (fora todo o esforço de divulgação). E além do mais, para o próprio autor obter exemplares foi uma dificuldade, pois ele havia recebido apenas duas cópias do seu livro até então, apesar dos pedidos insistentes para contar com mais exemplares.
Ora, se fosse para pagar tudo, seria preferível lançar como o Cristiano havia proposto, ou seja, ao usar o selo da sua produtora, e mandar imprimir através do "Clube de Autores", uma cooperativa na qual qualquer autor publicava, sem avaliação de editores, sem cobrança de nada, a imprimir gratuitamente e o livro era impresso por demanda, conforme vendia ao público em geral e não apenas através do próprio site dessa cooperativa, mas a respingar em sites famosos de vendas da internet.
Ao ponderar sobre tais vantagens, claro que fechei a parceria com o Cristiano e assim, a "Matilda Produções", mesmo não sendo oficialmente uma editora, passou a ser a minha casa editorial. Cristiano assumiu a posição de meu editor e mediante a sua experiência em torno de seus próprios livros lançados anteriormente, se tornou o meu conselheiro, ao emitir todas as dicas, para lidar com os trâmites todos exigidos pelo Clube de Autores.
A jovem, Alynne Cavalcante, responsável pela revisão, diagramação e outros detalhes dos meus livros até aqui e espero, por muitos outros. Fonte: internet
Dentro do próprio site do Clube de Autores, eu logo descobri um imenso cadastro com profissionais da editoração a oferecer seus préstimos para os autores associados e mediante uma pesquisa básica, resolvi abordar uma jovem profissional pernambucana, chamada, Alynne Cavalcante, que oferecia vários serviços dessa natureza.
Dei muita sorte, pois ela é uma profissional muito competente, além de simpática no trato com o autor e assim, o bom trabalho que desenvolvemos juntos, motivou o convite para ela trabalhar novamente comigo, quando lancei em 2023, uma segunda obra, no caso o livro: "Humanos Pitorescos".
E foi ela, que na qualidade de diagramadora, me advertiu que seria inviável lançar o livro, "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" como um tomo único, pois ele ficara com uma metragem com mais de setecentas páginas, aliás a ultrapassar a meta do próprio Clube de Autores, e daí, foi muito solícita ao me orientar e ajudar a dividir a obra, ao fracioná-la em três volumes.
Foi uma construção súbita, pois devido à minha inexperiência, eu planejei lançar um livro e na prática, lancei três a demandar despesa em triplo, em todos os quesitos.
A jovem, Victoria Costa, popular "Vick" e que foi a responsável pela arte das capas e material de divulgação dos meus livros. Fonte: internet
Victoria "Vick" Costa é filha do Cristiano e profissional das artes gráficas. Foi sugestão do pai dela, mas eu dei aval total para que Vick cuidasse da arte das capas dos três volumes, pois já conhecia o trabalho dela na preparação das capas dos livros lançados pelo seu pai e eu havia gostado bastante do resultado. Ela também cuidou de todo o aparato de divulgação do livro.
O grande "uncle", Lincoln Baraccat, cuja grife forte que tem naturalmente ao assinar as minhas fotos de autor nos livros, abrilhantou em demasia as obras
E finalmente para fechar a equipe, eis que eu convidei o "uncle", Lincoln Baraccat, para criar a minha foto de autor nas três capas e ele fez uma sessão maravilhosa para compor esse item com muita categoria e dessa sessão, muitas outras fotos foram e ainda são usadas para a minha divulgação em geral.
Eu planejei, ainda em 2019, produzir uma noite de autógrafos para lançar tais volumes e com direito a um show d'Os Kurandeiros. Pensei até em convidar um amigo para fazer uma apresentação de entrada do espetáculo, na base da voz & violão, para interpretar canções oriundas de diversas trilhas sonoras dos filmes analisados nos três volumes e teria sido na casa noturna, "Santa Sede Rock Bar", do amigo, Cleber Lessa, ou seja, um autêntico "oásis hippie woodstockiano" encravado na zona norte de São Paulo e do qual eu havia tocado muitas vezes com Os Kurandeiros.
Todavia, eis que em meio à produção do livro em si, a pandemia mundial estourou e frustrou completamente o meu plano. Os livros foram lançados em maio de 2020, mesmo assim e para compensar esse momento difícil, eu tive uma cobertura acima do que esperava, com muitas solicitações de entrevistas para podcasts, programas de YouTube, emissoras webradio e até jornalismo mainstream, pois eis que fui parar no jornalismo da Rede Globo sob um súbito convite, além de um enxurrada de entrevistas impressas em revistas eletrônicas de blogs e sites.
Claro, mesmo não sendo a minha autobiografia a ser lançada, a conexão com a música, o Rock em específico e o cinema, foi estabelecida, e nesse caso a aproveitar a minha "fama" no mundo do Rock underground, foi automático que tal prestígio tenha aberto tantas portas e como eu já disse, algumas bem inesperadas. Enfim, aproveitei ao máximo tal "onda" midiática e vendi uma quantidade de livros bem acima do que mensurei.
O tempo passou, a pandemia se arrefeceu e eu levantei recursos em 2023, para lançar um novo livro. Mais experiente para lidar com todo o processo da produção, convidei todos os componentes da equipe de trabalho do livro anterior, e por sorte minha, todos aceitaram trabalhar na produção do novo livro.
Com muito maior rapidez, eis que eu consegui publicar o livro: "Humanos Pitorescos", uma obra de contos que eu também escrevi aos poucos, e quando cheguei a um número razoável histórias concluídas, e já a ciente da importância de se coibir o fator do exagero na metragem, dei por encerrada a obra, preparei prefácio, texto de contracapa, orelhas e press-release e coloquei a obra na rua com muito maior rapidez.
Sobre a obra, "Humanos Pitorescos", aí sim eu me desgarrei da minha imagem como músico, Rocker e ativista cultural com muita proximidade desse universo e criei um conjunto de contos de motivações as mais diversas, mesmo que alguns deles, sejam ambientados com a música, mas a se valer de ser algo meramente ocasional. Em suma, finalmente a demarcar a aura de uma obra literária elaborada por um escritor e não da parte de um músico que gosta de escrever.
E assim foi a minha história com a escrita, da infância transcorrida na década de sessenta até 2023, quando finalmente eu pude fechar o ciclo, a cumprir um rito da literatura que me faltara até então, na realização de uma "noite de autógrafos", algo tão protocolar na vida de um escritor, quanto um show de lançamento de disco representa para um músico.
Falo sobre isso em uma próxima publicação.
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