quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Autobiografia na música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 43 - Por Luiz Domingues

Kim Kehl e Ciro Pessoa em ação no Teatro Parlapatões de São Paulo em junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A situação que gerou tais áudios foi a seguinte: o Ciro marcou a noite de autógrafos do seu livro ("Relatos da Existência Caótica") para o dia 23 de outubro de 2015 nas dependências do "Café Delirium" no bairro de Pinheiros em São Paulo, e já a partir de agosto, enviara por e-mail para o Kim e para eu mesmo, Luiz, alguns poemas que fariam parte do livro, com intuito de que nós os musicássemos. Ele queria muito contar com músicas novas na apresentação que faríamos na mesmo noite e principalmente por serem estas criações de sua parte, vinculadas ao livro que apresentaria aos seus leitores e fãs da sua carreira musical. 

Nesses termos, eu e Kim trabalhamos separadamente e compusemos músicas nesse esforço de usarmos seus poemas com forte dose surrealista na essência, uma marca registrada do trabalho do Ciro.

Foi marcado um ensaio de reconhecimento dessas ideias brutas a visar ajustes na métrica, bem básicos, a fim de preparar minimamente o corpo dessas novas canções, para que pudessem ser ensaiadas de forma elétrica em dois apontamentos marcados próximos da data do show e noite de autógrafos. 

Em algum dia de setembro de 2015, nos reunimos então na residência do Ciro Pessoa, que ficava localizada no bairro do Jardim Bonfiglioli, zona sudoeste de São Paulo e lhe mostramos as ideias brutas. Participamos então com a minha (Luiz) presença, além dos demais companheiros, Kim Kehl e Carlinhos Machado. Isabela Johansen não participou do ensaio, apesar de ser componente da banda e esposa do Ciro na ocasião, pois ela estava fortemente gripada e naturalmente indisposta.

Nesses três áudios que eu encontrei em 2023, o que se ouve é o resultado bruto da apresentação de ideias para duas músicas que eu havia proposto mostrar aos companheiros, ao ter musicado os poemas que o Ciro havia me enviado previamente.

As gravações desse esforço de apresentação acústica, foram feitas através do telefone celular do Carlinhos Machado. E ali na hora, eu e Kim usamos violões e o próprio Carlinhos tocou percussão de forma bem simples, apenas para nos guiar ritmicamente.  

"Planície dos Sonhos" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - parte 1 - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=ylQBzarCRwE 

Em suma, se trata de uma captura bem modesta de um ensaio improvisado. Portanto, o áudio é muito precário, deixo essa ressalva bem assinalada para quem se interessar em ouvir o material. E mais um dado, a se tratar de uma preliminar apresentação de ideia, super crua, mediante violões & percussão e além do mais, com a melodia a carecer de muitos ajustes para alcançar a métrica necessária para ser bem moldada ao poema. Em suma, este material tem maior valor pelo seu aspecto de raridade em si do que pela excelência musical exposta.  

"Planície dos Sonhos" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - parte 2 - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=yhymGHmLrak

No caso da canção: "Planície dos Sonhos", eu apresentei uma ideia minha que eu havia apresentado para ser usada no meu tempo como componente do "Pedra", mas como é sabido pelo leitor que acompanha a minha autobiografia com atenção, naquela banda eu tinha muita dificuldade para propor ideias e não apenas as musicais e assim, quando o Ciro me pediu a colaboração para musicar um dos seus poemas, eu tentei resgatar essa concepção.

Musicalmente, o som que eu propus, se mostrava todo registrado em frases semi cortadas a conter o efeito da síncope e também sob o efeito anacruse, ou seja, mais a lembrar R'n'B com certo charme de Jazz'n' Blues do que algo verdadeiramente psicodélico como o Ciro desejaria que eu compusesse, mas isso em sua parte 1, pois eu acrescentei duas outras partes ao mapa primordial da canção e estes a remeter a uma espécie de "Space Rock" bem dos primórdios daquela transição da psicodelia britânica para o Rock progressivo, algo muito difundido principalmente entre 1968 e 1970. E claro que o Ciro adorou a ideia, assim que ouviu a proposta, "floydiano" contumaz que o era, no entanto, e é bem nítido nesses áudios que eu resgatei, a melodia carecia de ajustes para se encaixar na métrica mais complexa registrada entre a proposta de divisão rítmica e a poesia.

Sobre o poema escrito pelo Ciro Pessoa e que faz parte do seu livro, "Relatos da existência caótica", eis o seu teor:

PLANÍCIE DOS SONHOS (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) 

"Bem que eles me avisaram: cuidado, cuidado!

Mas uma vez acionado o botão nada mais poderia ser feito em termos de saída a entrada era quem dava o destino. 

Fios de arame cintilantes estendidos em sequência horizontal que conduziam a uma tarde de chuva na silenciosa cidade de vidro onde duas senhoras inglesas tomavam chá.

E mais além uma noite violeta debruçada sobre o livro encantado de uma menina de longos cabelos ruivos. 

Dezenas de quadros fixados simetricamente um ao lado do outro. 

Sequência de luzes coloridas e explosivas. 

Na usina dos desejos paredes de vidro e a extensão infinita da planície dos sonhos".

"Xadrez Cósmico" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=AoYQ4681DtU

Sobre " Xadrez Cósmico", a ideia foi em torno de um Rock'n'Roll bem mais básico, com intenção "Rollingstoniana" explícita. A posteriori, o Kim Kehl acrescentou ideias para a composição e se tornou coautor da canção, mas até esse ensaio, a criação esteve restrita ao Ciro e eu (Luiz).

Sobre a letra, apesar da roupagem musical ter ficado mais em torno do Rock visceral, a estrutura poética permaneceu surreal por excelência, o que talvez não fosse o mais adequado em termos de combinação, no entanto, nos soou bem interessante a conjunção proposta e assim, essa música foi bem mais facilmente preparada em seu arranjo e tocada ao vivo, embora a outra, "Planície dos Sonhos" também teve a execução no show que lançou o livro e da minha parte, uma outra canção que já havíamos preparado desde 2014, e igualmente de um poema que faz parte do livro ("ecos da tagarelice mental"), também foi executada. nesse citado espetáculo. Esta canção, por sinal, a conter além de Ciro e eu (Luiz), a coautoria do Carlinhos Machado.

Eis a letra de "Xadrez Cósmico":

XADREZ CÓSMICO (Ciro Pessoa-Luiz Domingues-Kim Kehl) 

"Agora que a ciência é a rainha da Magia-Turbulência e que os contatos de todos os graus são regidos por uma lei inevitável, o homem passa a ser um ser estritamente cósmico! 

Agora que o espaço ocupado pelas certezas ameaça o ciclo das luminosas revelações o vulcão sonâmbulo dá sinais de insanidade e vomita flores quentes sobre o vale azul!

Agora que hostes de extraterrestres e astronautas levitam em acrobático séquito através do espaço tem início o espiral jogo do xadrez cósmico!"

Para colocar esse material no YouTube, eu usei o recurso de um painel de fotos estático para ilustrar, a conter fotos do show que a nossa formação havia feito no Teatro Parlapatões de São Paulo, em junho de 2014, mediante fotos clicadas por Lara Pap e Birão Ramin

E assim foi a história desse resgate de um material bem improvável, mas que no entanto, reforçou o acervo que eu tenho sobre a minha passagem pela banda de apoio a Ciro Pessoa, "Nu Descendo a Escada", trabalho que efetuei de agosto de 2011 a fevereiro de 2016. 

Mas não parou por aí. Pois ao revistar o fundo do baú, eis que eu achei uma gravação a conter uma apresentação ao vivo de Ciro & Nudes e daí fui investigar a viabilidade de colocar esse material no YouTube e quiçá, lançar um CD pirata, o que seria sensacional para agregar mais substância à história desse trabalho.

Portanto, continua...   

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