terça-feira, 27 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Trabalhos avulsos (Golpe de Estado & Convidados) - Capítulo 124 - Tributo à Nelson Brito - Por Luiz Domingues

Na área social do estúdio Orra Meu, os cinco baixistas amigos de Nelson Brito, convocados para homenageá-lo ao vivo: Ricardo Schevano, Daniel "Kid", eu (Luiz Domingues), Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

No dia 21 de agosto, conforme havia sido marcado pelo Marcello Schevano previamente, eu me reuni nas dependências do estúdio Orra Meu de São Paulo para um ensaio com os membros remanescentes do Golpe de Estado. Eu sabia que seria um dia triste, pois fatalmente todos os envolvidos haveriam de falar e bastante do nosso amigo em comum que partira tão recentemente. Seria inevitável que as rodas de conversa fossem marcadas por tal pauta.

Eu mesmo passara os dias anteriores a rememorar passagens com o Nelson e também com o Hélcio, ou seja, as reminiscências foram múltiplas e a tangenciar fatalmente para um sentimento de saudade que seria difícil de controlar.

Foi o que aconteceu de fato, embora muitos momentos a evocar lembranças de ocorrências engraçadas tivessem produzido boas risadas e isso amenizou a melancolia generalizada, no sentido de que ficara a impressão que mesmo diante do pior cenário possível, ou seja, o desaparecimento de um amigo querido, as risadas produzidas mediante lembranças boas, certamente amenizaram o quadro e mais do que isso, não há melhor maneira de relembrar de alguém que partiu que não seja pela recordação de fatos bons por ele realizados e devidamente guardados na memória de todos.

Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Roby Pontes, Daniel Kid, Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Ao fundo, a cantora, Lucíola Felipe, com um homem desconhecido mais ao fundo. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

Bem, fomos ensaiar. Daniel Kid passou as três primeiras músicas com a banda, eu toquei a seguir. Fabio Cezzar foi o terceiro e Pepe Bueno foi o quarto. Não assisti a participação de Ricardo Schevano, pois sob estado gripal, eu não estava 100% bem disposto e a aproveitar a carona de Daniel Kid que estava de saída para ir ensaiar com um outro pessoal ainda naquela noite, parti com ele que me deixou na estação Praça da Árvore do metrô e assim facilitou a minha volta para a casa.

Ainda no ensaio, eu conhecia e de muito tempo a categoria de todos ali presentes. Da então atual formação do Golpe de Estado, não havia o que dizer sobre Marcello Schevano, meu velho companheiro de duas bandas (Sidharta e Patrulha do Espaço), pois o conhecia desde 1994 e sabia muito bem da sua genialidade. No entanto, havia sim o que dizer, pois a despeito de havermos tocado muitas vezes com a Patrulha do Espaço em shows "reunião" nos últimos anos e inclusive com uma ocasião dessas a se fazer muito recente (em junho de 2024), eis que a sua performance como substituto do grande Hélcio Aguirra, se mostrava espetacular, pois o Marcello Schevano de 2024, além da genialidade nata com a qual eu o conheci trinta anos antes, estava acrescida de uma gigantesca carga de especialização musical e também no quesito da engenharia de áudio, além de muito experiência adquirida, portanto, a se revelar como uma forma exemplar de músico de alto padrão.

Sobre Roby Pontes, a mesma coisa. Eu sabia há muito tempo que ele era super técnico, tocava desde criança, tinha uma técnica incrível e um gestual muito personalizado e claro, impressionei-me ainda mais ao vê-lo ainda mais técnico e experiente, com um grau de sofisticação na sua performance ao instrumento, a chamar demais a atenção. 

E quanto ao vocalista João Luiz, o mesmo raciocínio, ou seja, eu sempre soube que ele era dono de uma das melhores gargantas do Rock Brasileiro e mantinha consigo um padrão de presença de palco muito exuberante, e nesse ensaio, pude constatar que mais velho ele usara a prerrogativa vinícola, ou seja, tal como o bom vinho, ficara ainda melhor como vocalista e front-man de enorme desenvoltura.

Enfim, fiquei feliz por tocar com meus amigos da banda e também dividir espaço com os colegas baixistas, todos amigos meus e entre si a configurar ali uma confraria Rocker muito natural e claro, todos amigos do grande Nelson Brito. Isso amenizou a nossa dor pela perda dele, mas pelo menos na minha mente um questionamento se materializou: e no dia do show? Será que eu conseguiria tocar, homenagear o amigo Nelson e não me emocionar? Será que os demais baixistas co-irmãos também se controlariam no palco ao se deparar com os fãs do Golpe de Estado sob intensa emoção? E os membros da banda, também conseguiriam superar a emoção?

Eu, Luiz Domingues, Roby Pontes, o cantor Fabiano Sá, Daniel Kid, Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Ao fundo, Lucíola Felipe e um homem desconhecido mais ao fundo. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Ricardo Schevano

Ao vermos a foto que o Daniel Kid preparou para registrar a  participação dos cinco baixistas convidados, eu logo falei em tom de brincadeira que éramos os "filhos de Nelson" e assim batizou-se a nossa reunião para celebrar a amizade que cultivamos todos nós com ele.

"Os filhos do Nelson Brito": Ricardo Schevano, Daniel "Kid", eu (Luiz Domingues), Pepe Bueno e Fabio Cezzar. Dia do ensaio com o Golpe de Estado. 21 de agosto de 2024. Acervo e cortesia: Daniel Kid. Click: Fabiano Sá

Continua...

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