sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Autobiografia na música - Trabalhos avulsos (Golpe de Estado & Convidados) - Capítulo 123 - Tributo à Nelson Brito - Por Luiz Domingues

De uma forma penosa para todos os fãs do Golpe de Estado, colegas e amigos em geral dos membros e ex-membros, eis que recebemos atônitos a nota de falecimento do grande baixista, Nelson Brito, membro fundador desse histórico grupo de Rock, em 12 de julho de 2024. 

Ocorreu exatamente dez anos após o súbito falecimento do guitarrista Hélcio Aguirra e desta feita, o efeito surpresa que nos acometeu na perda do amigo Hélcio, teve outra perspectiva em relação ao Nelson, pois foi um perecimento anunciado, dada a constatação de que ele fora acometido de grave doença gastro-intestinal e que teve a agravante da somatização infeliz de uma doença contagiosa que teve. Nesse ínterim, a potencializar a sua completa perda de imunidade, foi minada a sua possibilidade de recuperação, pois o seu quadro geral piorou muito, portanto, os médicos fizeram de tudo, mas não deu para salvar o meu amigo e grande artista.

Eu fiz uma visita no hospital em que ele esteve internado em julho, assim que soube que saíra da UTI e fora para o quarto para se recuperar, mas assim que cheguei ao recinto, ele teve uma nova crise e foi reconduzido à UTI e assim, receio que ele não percebeu a minha presença, e a minha fala, mesmo com a sua esposa, Heloísa a enfatizar isso para ele notar que eu estava ali ao seu lado a lhe falar palavras de incentivo. Infelizmente eu presenciei a sua remoção de volta à UTI e de lá, nunca mais o vi com vida.

Impactado fortemente, fiquei com o questionamento sobre perdas de entes queridos, familiares ou amigos: o que é pior? Perder um amigo subitamente como foi o caso de Hélcio Aguirra, Rubens Gióia e Ciro Pessoa ou a saber que o amigo está debilitado, e de forma lenta, alimentar a nossa esperança de que melhore, mas na verdade, a situação é irreversível e dessa forma, o sofrimento de quem parte é vagaroso e o de quem fica, angustiante? 

Na qualidade colega de arte e amigo pessoal do Nelson, eu fui um dos tantos que sentiu o impacto da sua perda, sem poder fazer nada para mudar a situação, tampouco amenizar a tristeza pela qual fomos todos acometidos com a notícia. 

Particularmente, eu fui amigo do Nelson por quarenta e um anos. Nos conhecemos em fevereiro de 1983 nos bastidores da casa de espetáculos, "Victoria Pub" de São Paulo, quando a minha banda na ocasião, A Chave do Sol, se revezava com a dele, "Fickle Pickle", na missão de toda noite abrirmos os shows do "Tutti-Frutti", lendária banda comandada pelo guitarrista Luiz Carlini, por uma temporada longa que se estendeu até abril daquele mesmo ano. Nelson mal havia me conhecido nos bastidores do primeiro dia que lá fomos tocar e me ofereceu o seu amplificador pessoal para que eu me apresentasse e assim foi durante toda a temporada ali decorrida. Tal passagem está narrada com detalhes no livro "A Chave do Sol" da minha autobiografia, a corresponder ao volume V da obra. 

Simpático e solícito, tornou-se meu amigo de imediato. Desse ponto em diante, foram muitas jornadas a nos ajudarmos mutuamente. Ele já a bordo do Golpe de Estado e eu a passar por muitas bandas depois que A Chave do Sol encerrou atividades, mas curiosamente, sempre, em praticamente todas pelas quais atuei, a interagir com o Golpe de Estado através de shows compartilhados das mais variadas procedências e assim, sempre foi um prazer estarmos juntos nos camarins, coxias, no processo de soundcheck, mas ações de divulgação e claro, pelos palcos, ambiente de ensaios e estúdios de gravação, além de ambiente de rádio e TV. 

Nesses anos todos, também fui convocado a interagir como convidado em eventuais shows que o Golpe de Estado realizou e sempre fui acolhido pelo Nelson e demais colegas, da melhor maneira possível. Se eu já havia sentido muito a perda do guitarrista Hélcio Aguirra que nos deixou também de uma forma sofrida em 2014, o sentimento se repetiu em 2024, quando soube da partida do Nelson Brito. 

E assim como participei de um show em homenagem ao Hélcio Aguirra, alguns dias depois de seu falecimento, recebi um telefonema do meu amigo Marcello Schevano (desde 2014, substituto do Hélcio Aguirra para a condução da guitarra na continuidade de carreira do Golpe de Estado), para que eu participasse de algo semelhante, para prestarmos um tributo ao Nelson.

Seria diferente, no entanto, na medida que aquele "tributo" no qual participei em 2014, foi feito por um conglomerado de amigos e vários "combos" se apresentaram a tocar músicas de bandas pelas quais o Hélcio atuara e curiosamente, o Golpe de Estado a se tratar do seu trabalho mais significativo, ficara praticamente de fora. 

Desta vez, seria um show regular do Golpe do Estado, data essa que estava marcada previamente e que inclusive fora um pedido expresso da parte do próprio Nelson, ainda consciente no leito hospitalar de que nenhuma data agendada fosse cancelada.

Nesse termos, outras datas foram cumpridas mediante o apoio do baixista Daniel Kid, meu ex-roadie da Patrulha do Espaço em nossa  formação chronophágica, mas desta vez, a banda quis fixar uma homenagem a convidar cinco baixistas que foram amigos do Nelson e assim, eu aceitei o convite para tocar nesse compromisso que foi marcado para o dia 24 de agosto de 2024, com pouco mais de quarenta dias da sua morte, quando eu teria a honra de dividir o palco com o Golpe de Estado em regime de revezamento com quatro queridos amigos meus, baixistas e todos, amigos igualmente do Nelson, de forma fraternal. 

Dessa forma, além do Daniel "Kid" Ribeiro já citado, eu estive junto também a Marcelo "Pepe" Bueno, Ricardo "Soneca" Schevano (meus queridos amigos desde os anos 1990, tendo sido, ambos, meus alunos e cuja história está inteiramente narrada no livro VI da minha autobiografia, denominado como: "Sala de Aulas"). Além do ótimo, Fabio Cezzar, baixista de bandas seminais como o King Bird e Casa das Máquinas versão anos 2000 e meu amigo desde pelo menos 2007.

Todos nos unimos à formação então atual da banda e tocarmos as belas e complexas linhas de baixo criadas pelo nosso querido amigo que nos deixou. Foram designadas para mim, três canções para eu tocar no show: "Caso Sério", "Cobra Criada" e "Não é Hora", três dos muitos clássicos da banda.

Um ensaio foi marcado para ocorrer no estúdio Orra Meu, na quarta-feira, dia 21 de agosto de 2024.

Continua...

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