terça-feira, 24 de abril de 2012

Syd Barrett e o Elefante Efervescente - Por Luiz Carlos "Barata" Cichetto


Syd Barrett criou a essência do Pink Floyd, mas depois não coube mais dentro de sua própria criação. Aquilo era pequeno demais para caber sua genialidade. Syd Barrett era maior que o Pink Floyd. Sempre foi e sempre será. Segundo conta a história, ou melhor contam os remanescentes da banda, Syd foi colocado de escanteio por causa de sua "deterioração mental". Afinal, aprisionar aquela gostosa da Karine (a peladona que aparece na capa de "Madcap Laughs" era a namorada dele na época) num apartamento e lhe passar bolachas por baixo da porta era coisa de doido mesmo.  Aparecer no palco com a cabeça cheia com uma pasta de comprimidos é coisa de maluco mesmo. Ficar tocando uma nota apenas na guitarra, então, isso é coisa de doente mental.

Mas Roger Keith Barrett não era maluco, maluco eram eles. E sabiam disso. Tanto sabiam que continuaram a usar as idéias digamos pouco ortodoxas de Syd em um monte de discos que seguiram a saída dele. "The Dark Side Of The Moon", segundo Waters e Gilmour era uma homenagem á ele, pois "apenas os lunáticos podem enxergar o lado escuro da lua". Lunático? Syd era lunático? Claro que não. Chamar Syd Barrett de lunático é o mesmo que chamar Freud, Schopenhauer, Da Vinci, Einstein também de lunáticos.

Um sujeito que pegou o Rock e disse: "Ok, vamos à lavanderia!". Que pegou as experiências sonoras de John Cage (outro lunático?), colocou uma pitada de musica erudita, um quilo de Rock'n' Roll, bateu num liquidificador mental e transformou essa pasta num belo e florido Elefante Efervescente. Um elefante que esmagou os conceitos sobre música para sempre. Não era um maluco, nem doido, nem doente mental. Era um gênio. E a história da música deverá ser escrita no futuro da seguinte forma: AB/DB, ou seja, Antes de Barrett e Depois de Barrett.
Basta que escutem com atenção composições como "Astronomy Domine", "Interstellar Overdrive" e principalmente "See Emily Play" e mais ainda "Arnold Layne". Esta uma das composições musicais, incluindo letra, mais "malucas" da história da música. As ideias de Barrett até sua "demissão" do Pink Floyd estavam por toda parte. E não apenas na música, nos arranjos e nos mínimos detalhes musicais, com também na plástica, nos conceitos e em cada uma das letras compostas diretamente por ele, ou influencias por sua “loucura”.

E seus ex-companheiros sabiam e ainda sabem disso. Tanto que toda obra que o  Pink Floyd compôs desde sua saida é simplesmente a continuação das suas ideias, como se aquele prisma que Syd tinha dentro da cabeça tivesse sido lapidado e passasse a refletir outras tonalidades. Barrett era a luz que incidia sobre o prisma ou era o prisma que refletia a luz que partia de algum ponto do universo e criava o espectro? Karine conhecia Syd que não conhecia ninguém, não reconhecia seus amigos de banda... Bobagem. Roger comia Karine que estava sempre nua em sua dieta de bolachas. Syd comia as bolachas também? Syd usava drogas ou eram as drogas que faziam experimentos em sua mente, tentando entender até que ponto podiam chegar dentro da mente humana? Escolheram um gênio para suas experiências. 
"Há um lunático em minha mente", pensou Roger Waters, dentro de sua paranoia de Segunda Guerra Mundial. "Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu". Era Barrett dentro da cabeça de Waters e ele não podia suportar aquilo muito tempo. "E se a banda em que você está começar a tocar melodias diferentes" ainda pensou. "Eu te verei no lado escuro da lua"., ainda disse Waters antes de chutar Barrett do ventre de sua criação.

Waters em sua megalomania não podia suportar Syd, um louco diamante. E nem Karine suportou comer bolachas passadas por debaixo da porta, colocou a roupa e desapareceu. 
 
"Corra, coelho corra, Cave um buraco, esqueça o sol/E quando afinal o trabalho estiver feito/Não se sente, é hora de cavar mais um". 
 
E Barrett respirou fundo, cavou um buraco bem fundo dentro de sua própria mente, e feito um coelho assustado ficou quieto, calado, deixando que pensassem que era a loucura o que o afastara do mundo.
Era preciso ajustar os controles para o coração do Sol, rompendo a escuridão. E Syd foi cuidar das flores do jardim da sua mãe. Era preciso entender as flores ao Sol. Era preciso entender o Sol. Porque apenas quem entende o Sol, consegue fugir das sombras, da escuridão. O elefante efervescente o acompanhou, enquanto Arnold Layne pendurava suas roupas na janela. E o Octopus da morte disse: "Veja, veja Emily brincar". E Emily respondeu: "Não há outro dia!" .Então, o Elefante Efervescente “com olhos pequenos e uma tromba enorme sussurrou para a orelha de um inferior que para o próximo mês de Julho ele morreria.” 
 
Luiz Cichetto

18/04/2012

Luiz Carlos "Barata" Cichetto, é colunista ocasional do Blog Luiz Domingues 2. Poeta, escritor, webdesigner, editor artesanal de livros e revistas, blogger, radialista e ativista cultural. Acompanha o Rock desde 1970, com atenção arguta.

6 comentários:

  1. "acompanha o Rock desde 1970 com atenção arguta".. Obrigado pelo "complemento biográfico, meu amigo Luiz Domingues. E espero que os iniciados em Pink Floyd e particularmente no GÊNIO Syd Barrett apreciem mais essa efervescência. E obrigado mais uma vez pelo espaço.

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    1. Trata-se da verdade sobre sua atenção ao Rock em seu transcorrer ao longo desses anos todos.

      Quanto à matéria em si, certamente vai agradar aos fãs da fase Syd Barrett do Pink Floyd. Fãs do Pink Floyd pós-"The Wall" talvez não entendam direito as suas colocações, mas que lhes sirva de incentivo para pesquisar a história da banda e descobrir que a sua grande arte está lá atrás nos seus primórdios, principalmente com Syd no leme da embarcação psicodélica. Parabéns pelo texto !

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  2. Obrigado, brother. Esse foi feito, digamos, de encomenda para as pessoas que acessam o seu blog. De fato, procurem saber mais sobre aquele que a mim é, juntamente com Zappa, o mair gênio da musica contemporânea.

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    1. Maravilha. De fato o Blog é novo e essa força impulsionando-o com visibilidade é muito oportuna.

      Barrett e Zappa são gênios inquestionáveis, sem dúvida.

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  3. Ele era um visionário psicodelico tipo Raul seixas,gosto muito da musica''See Emily Play''ótimo texto amigo.

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    1. Obrigado pela atenção ao texto do Barata. Realmente o Syd Barrett foi um gênio, também acho.

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