quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - Capítulo 12 - Por Luiz Domingues

De fato, o clima entre eu e meu pai estava péssimo desde meados de 1979. O fato de ter ido tocar em uma mini turnê, com o Tato Fischer, não o animou nem um pouco, e pelo contrário, ficou muito bravo, pois eu perdi praticamente duas semanas de aulas (eu cursava o 3°colegial naquele ano de 1979). Eu não corria o risco de perder o ano, pois tinha minhas médias de notas, muito boas, e por ter sido assíduo o ano inteiro, não corria o menor risco em estourar minha cota mínima de frequência. Mas tudo era motivo para despertar a antipatia dele.

Por outro lado, do meu ponto de vista, o fim do trabalho com o Tato, não representou o fim do mundo. Além de surgir a oportunidade em formar o Terra no Asfalto, o trabalho autoral com Laert Sarrumor e o núcleo de música da Faculdade, começava a dar sinais de prosperidade. E de fato, através do guitarrista, Lizoel Costa, que entraria para a trupe do pré-Língua de Trapo, logo a seguir, surgiu também outras possibilidades para trabalhos paralelos que realizei em 1980, e que contarei logo mais neste tópico. Portanto, aos "trancos e barrancos", eu fui a batalhar em 1980, a desdobrar-me entre o então, pré-Língua de Trapo, o Terra no Asfalto, e uma série de trabalhos avulsos.


O meu pai não ligava-se nos sinais. Ele achava que era só uma fase esse negócio de banda; cabelos compridos, e visual de hippie. O sonho dele, era que eu formasse-me como advogado, entrasse para o serviço público, e militasse na política.
Ele era funcionário da Câmara Municipal de São Paulo, e desde muito pequeno, fui acostumado por ele a frequentar as sessões no plenário; ver vereadores a discursar e votar projetos de Lei; conheci muitos políticos em seus gabinetes e participei de campanhas, ao acompanhar o meu pai, que muitas vezes chefiou comitês eleitorais.
Vi também muitas apurações, no tempo dos votos manuscritos e jogados em urnas.
Ele era apaixonado pela política, e varamos madrugadas a acompanhar apurações, pois ele também ajudava como fiscal do partido. Era estimulante ver a contagem, indo aos ginásios do Ibirapuera; Pacaembu; Palestra Itália; Portuguesa de Desportos; Juventus; Parque São Jorge, e outros locais de apuração em São Paulo. Eu gostava, e muito dessa movimentação em torno da política e ainda gosto, mas no meio do caminho, tornei-me um hippie e Rocker... de certa forma, apesar de gostar do jogo político, eu tornei-me um contestador desse modelo, como pacifista e anti-establishment, ou seja, como dizia o Lennon : "Contra todos os Ismos"...
Então, foi isso. O conflito chegou ao clímax, quando ele viu que eu não tinha nenhuma intenção em abandonar os meus esforços para tornar-me um artista. Em relação a escola, eu nunca fui um aluno rebelde, contestador ou bagunceiro. Minha estratégia sempre foi a de não criar nenhum caso para piorar ainda mais o que eu achava horrível, ou seja, estar ali aprisionado naquela estrutura opressora.

Minha maior alegria naquela estrutura arcaica de ensino, sempre foi o sinal da saída, quando podia deixar aquela prisão entediante, e voltar ao meu Lar.
Eu não faltava; não tumultuava; não desrespeitava ninguém, e tirava a média suficiente para aprovarem-me, e eu poder sair dali o mais rápido possível. Portanto, não tive nenhuma crise existencial. 

Eu estava convicto do que queria, desde 1975. Comecei a tocar efetivamente em 1976, mas em 1975, isso já estava definido na minha mente, mesmo sem nunca ter chegado perto de um instrumento, a não ser como público, a assistir shows de Rock. E minha mãe apoiou-me, apesar de querer que eu estudasse para obter uma profissão tradicional em paralelo, naturalmente.



Continua...

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