quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 28 - Por Luiz Domingues

Tempos românticos onde permitia-se esse exercício de imaginação, pois hoje em dia, bastaria consultar o "Google", e procurar o set list básico da turnê do artista, para saber precisamente, quais músicas ouviríamos. Mas, lembro-me que o freak acertou bastante, só a falhar com o Blues, "Saint James Infirmary", que ele cravou como certo, mas Cocker não o cantou. A abertura do show foi realizada pela banda de baile, "Placa Luminosa". Tremenda banda, formada por músicos com alto nível musical, mas que não tinha nada a ver com o público formado por hippies; freaks & rockers, alí presente. Foi um enorme erro da produção, não ter convidado alguma banda de rock autoral, como “Mutantes”, “O Terço”, ou “Rita Lee & Tutti-Frutti”.




Os artistas do Placa Luminosa tocaram covers variados, indo de Funk à MPB (lembro deles a tocar até, "Meus Caros Amigos", do Chico Buarque). Como resultado, adveio uma tremenda vaia do público. Então o baixista enervou-se, e a perder completamente a compostura, falou ao microfone : -"vocês querem Rock" ? O público aumentou a vaia pela atitude, certamente ao interpretá-la como um sinal de prepotência de sua parte, e aí, eles começaram a tocar, "The Ocean", do “Led Zeppelin”. Muito bem tocado por sinal, mas a antipatia estava caracterizada, e dessa forma, saíram do palco uma vaia incrível. Após esse entrevero, um enorme atraso, que irritou muito, mas eram os primeiros shows internacionais no Brasil, que ainda não tinha a estrutura de hoje em dia. 



Lembro-me do guitarrista argentino, Tony Osanah, a tentar acalmar os ânimos, e assim dizer ao microfone : -"pessoal, o Cocker já está aí"... com aquele seu sotaque porteño, bem característico. Todavia, compensou tudo, quando o Cocker entrou no palco !





Foi um show esfuziante, do começo ao final, com o Cocker ainda a usar cabelos longos, sob um visual "Woodstockeano". Era a tour do LP "Jamaica Say You Will", mas o show foi recheado com clássicos dos seus primeiros discos. Cocker teve como companhia,  Bob Keys no sax e Nicky Hopkins ao piano, como convidados especiais. Quando Chris Staiton, começou os primeiros acordes de "With a Little Help From my Friends", no órgão Hammond, o ginásio veio abaixo ! Pareceu a reação de torcedores em estádios de futebol, na hora do gol de seu time, tamanha a euforia gerada. Vale lembrar que em 1977, ainda vivíamos os ecos de Woodstock, fortemente por aqui. Bateu uma emoção forte nessa hora. O coração veio à boca e muita gente chorou de emoção, à minha volta. Como última lembrança, o Cocker mostrou-se bom de cerveja, pois durante o show, bebeu sozinho um engradado, que ficara à sua disposição, em cima do praticável da bateria. O show do Joe Cocker foi inesquecível, pois ainda possuía o frescor da sua boa forma artística, "Woodstockena". Foi inacreditável estar a testemunhar aquele mito do festival de Woodstock, e que só conhecíamos pelo filme (e também pelo documentário, “Mad Dogs and The Englishmen”) ali, a esgoelar-se no seu vocal super dramático. O repertório foi incrível. Ele cantou seus grandes clássicos e a banda, esteve espetacular.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário