Eu, lago perdido numa floresta tão distante como o tempo
que não se conta, água doce, morna e fecunda, colhia duendes e nuvens, insetos e luas e refletia a placidez insondável de um abismo onde o sem fim é um sem fim que amedronta...
Eu, cheiro de chuva, da chuva que beija a terra e que, avidamente a seiva consome, afagada pelo silêncio estranho e cantante da noite fechada, brincava em paz entre as ervas miúdas de cores sem nome,
cantava o canto das Mil Vozes da Vida com o sol, com o corpo e com a alma e dançava, na minha floresta oculta, insondável e perdida a dança solitária e intocável de toda a minha imperturbável calma...
Até que, por entre os ninhos de ramos e das minhas flores tecidas
de mágicas teias lancinantes, no mais ignoto e abstrato silêncio,
teus olhos profundos e antigos como de uma era já esquecida,
inexorável e fatalmente me descobriram e, brilhantes de Vida,
rondaram meus recantos ocultos e mais obscuros que o peso mudo
da minha rota sem mapa, recantos onde eu vivia despreocupada
e irremediavelmente escondida.
E esses olhos de pura e límpida luz assistiram à dança que eu dançava comigo no meu compasso absurdo; contemplaram a minha nudez tão só e tão hermeticamente minha; a tua força mais estranha
que o silêncio doido e cantante da noite jorrou dias, meses e anos
sobre a minha dança serena e sozinha...e sobre o esconderijo em meio ao meu plácido Nada supostamente inatingível, dançou nas minhas subterrâneas e até então mansas águas, a tua dança ancestral, doída e desesperadamente imprevisível !
E eu, lago perdido na floresta onde o tempo não se pode contar,
danço no hoje que do louco imponderável surgiu...mas agora,
entrelaçado o corpo na poeira tênue de uma estrela
que em eras distantes fulgiu, o cheiro doce de noites estranhas me afaga de forma até então desconhecida e ausente porque é um afagar divino e secular que teima em me tomar inteira
de forma abismal, infinita e inclemente !
Ainda danço hoje...
Mas danço com uma dança onipresente e bruxuleante soprada pelo Incriado, porque é um dançar absoluto e abandonado ao que quer que seja de soberanamente estonteante !
Tereza Abranches é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Escritora e artesã, também desenvolve estudos sobre literatura e espiritualidade.
Aqui nos traz um poema onírico, evocando o poder energizante que a dança provoca em nosso corpo físico, mas sobretudo na psique e na alma.
O que dizer dessa magia "bruxuleante"?
ResponderExcluirVontade de bailar com o texto...mais...mais...e mais vezes!
Um talento literário desabrocha!
Que bom ler seu comentário, Joel... como sempre digo, são incentivos pra lá de importantes pra mim.
ExcluirObrigada pelo carinho e bailado das suas palavras.
Grande beijo e saudade, querido!
Que honra para o Blog receber mais uma vez a visita do escritor, jornalista e tradutor, Joel Macedo !
ExcluirPalavras de um mestre, só lisonjeiam este Blog ao exprimir uma opinião de peso sobre a nossa colunista Tereza Abranches.
Vindo de você que é um grande mestre do mundo editorial, a Tereza só pode alçar voos ainda maiores na literatura.
Muito obrigado !!
Simplesmente lindo!!!!! Parabéns, prima!!!! A dança tem o poder de me fazer mais humana, serena, a paz me invade realmente de forma inexplicável e o espírito, em transe. Você conseguiu descrever com esse poema, tudo o que sinto. Obrigada!!! Bj
ResponderExcluirExato, prima!
ExcluirA dança é algo de primordial e através dela o espírito se torna leve.
Fico feliz por ter conseguido, mais uma vez, encontrar solo fértil no seu coração.
Obrigada pelas palavras de carinho!
Beijo!
Que bacana saber que apreciou o texto e sobretudo a sua chave inerente : a dança !
ExcluirMuito grato por visitar o Blog, comentar e elogiar o trabalho da Tereza Abranches.
Como sempre maravilhosa!
ResponderExcluirSempre empolgante !!!
Obrigada, querida!!
ExcluirBeijo grande no coração!!
Mas que maravilha ter sua visita novamente, aqui !
ExcluirMuito grato, Beatriz !
Amei seu post,querida!!!
ResponderExcluirA dança é mesmo muito importante para o corpo e a alma!!!!
Bravo!!!!!
bjus
http://www.elianedelacerda.com
Eu também amei seu Blog, as coisas que você escreve e o modo como expõe o que sente.
ExcluirE como você, digo "Bravo!!"
Beijo, querida!!
Sim, a dança é fundamental para a movimentação energética !
ExcluirMuito grato pela visita, escritora Elyane Lacerdda !
Muito bom, realmente ficamos mais leve, corpo, mente, espírito com os movimentos da dança, como se nos livrássemos do excesso.
ResponderExcluirQuerida Tereza, mais uma vez tocando fundo.
Gratidão, beijos!!!
Jani querida!!
ExcluirComo sempre, sua sensibilidade vem ao encontro da minha e a leveza que resulta disso e tão leve quanto a dança!
Obrigada!
Beijo!
A sua sensibilidade veio de encontro à proposta do texto. Isso é que é uma química perfeita !
ExcluirMuito grato pela visita, comentário e sentimento de sincronia !
Muito bom! Sua cara!
ResponderExcluirA cada comentário desse tipo, me convenço mais que estou conseguindo fazer do que eu escrevo a xerox do que sinto!!
ExcluirLegal demais!!
Beijão, Rafa!
Muito grato pela visita, Rafael !
ExcluirParece que foi o Kvothe que escreveu esse texto. Estou começando a desconfiar que o Kvothe mora dentro de você. Te amo mais que a VIDA. <3
ResponderExcluirUau!!
ExcluirOuvir que meus textos parecem músicas do Zé Ramalho foi ótimo e agora ser comparada a um personagem medieval... precisa mais alguma coisa?
Pinto no lixo total !!!
Amo você muito também, muito!! <3
Mas você só tá na Era errada hahahaaha Amo você demais da conta!
ExcluirPois é, também acho...
ExcluirTe amo!
Muito bom !!
ExcluirA Tereza realmente sabe evocar os signos medievais, como ninguém !!
Obrigado por trazer à tona essa observação, Taís !