Havia um
repórter na TV que notabilizara-se por dar um enfoque muito humano em suas
matérias, ao aparentemente fugir do estereótipo engessado que aprendera na sala de aulas da sua
faculdade de jornalismo, mas sobretudo a desobedecer o manual de conduta das redações do
jornalismo televisivo.
Mas essa
suposta insubordinação do jovem repórter gerou efeito contrário ao que
geralmente esperava-se da parte da produção e por enxergar tal característica como
um trunfo e não uma afronta, o repórter recebeu o convite para apresentar um
programa jornalístico, com carta branca para pautar, produzir e conduzir como
o desejasse.
Uma meritocracia rara ao tratar-se do ambiente interno das
emissoras de TV, diga-se de passagem.
Medeiros de
Albuquerque (assim apresentava-se, a forjar apenas o seu sobrenome duplo como sua
alcunha), cresceu muito e seu programa tornou-se rapidamente muito apreciado
pela audiência, a gerar muitos pontos nas medições oficiais e consequentemente
a atrair patrocinadores, portanto, esse sucesso tratou de elevar muito a sua popularidade e inerente
poder pessoal.
E o seu grande
trunfo na condução de seu programa, foi o seu carisma e dessa forma, a tal
condução “humana” que imprimia, gerava enorme simpatia por parte de seus
telespectadores, que naturalmente, formataram a imagem de Medeiros de Albuquerque,
como um exemplo de candura, um verdadeiro bom rapaz que arrancava suspiros de
senhoras idosas e que acalentavam o sonho de ter um neto, assim, tão "bonzinho".
Em seu
imaginário, Medeiros seria o gentil rapaz que costumava ajudar idosos a atravessarem as ruas
perigosas ou coisa que o valha, em uma espécie de ideal do escotismo ou de
congregações formadas por jovens ligados a denominações religiosas etc.
Um dia, por uma conexão inesperada, um telespectador desses que muito o admirava, foi parar nos bastidores do programa do Medeiros de Albuquerque. A ideia não fora abordá-lo diretamente, mas de forma discreta, apenas usufruir da condição de um espectador silencioso e assim ele pôs-se a observar a frenética movimentação dos técnicos e assistentes de produção nos bastidores, certamente excitado pela oportunidade.
Um dia, por uma conexão inesperada, um telespectador desses que muito o admirava, foi parar nos bastidores do programa do Medeiros de Albuquerque. A ideia não fora abordá-lo diretamente, mas de forma discreta, apenas usufruir da condição de um espectador silencioso e assim ele pôs-se a observar a frenética movimentação dos técnicos e assistentes de produção nos bastidores, certamente excitado pela oportunidade.
Todavia, todo esse glamour veio terra abaixo, logo a seguir. Eis que Medeiros
chegou ao estúdio e o seu semblante mostrou-se muito diferente do que geralmente
aparentava ao seu público pela TV.
Tenso ao extremo e muito arrogante, só falava aos
berros com os seus assistentes e humilhava-os de uma forma aviltante. A cada dez
palavras que proferia, nove eram palavrões que as vovós que costumavam adorá-lo,
ficariam estupefatas por ouvirem, ao sair de sua boca.
Com uma
agressividade incrível, ele humilhava a todos, com palavras muito desdenhosas,
quando não em meio aos palavrões e insultos, fazia da ameaça constante de despedir a todos,
sumariamente, um modus operandi, a acrescentar que faria esforços para que colegas de outras
emissoras jamais os contratassem, sob uma bravata que denotava a sua prepotência
desmedida.
Foi quando então,
uma voz vinda de um alto-falante interno iniciou uma contagem regressiva. O
programa entraria no ar em segundos.
Faltava menos de trinta segundos e
Medeiros ainda gritava com uma funcionária que não colocara a dose de açúcar na
medida exata pela qual ele exigia que o servissem, diariamente em seu café, enquanto o rapaz observava sob
absoluto estado de choque, em meio a um misto de estupefação e decepção, certamente.
Então o
programa iniciou-se e o desapontamento desse rapaz só aumentou, pois Medeiros mudou
completamente o seu semblante e até a modulação de sua voz, ao falar de uma forma
mansa, com aquele bom mocismo habitual que seu público tanto apreciava.
Aquele
seu jeito tão “humano” para tratar as pessoas, com compreensão e carinho, comiseração
ao próximo, sempre a exortar que o caminho para uma boa convivência em
sociedade seria o da tolerância, do diálogo, como ele sempre enfatizava, enfim.
Bem comum essas atitudes, nem sempre o ídolo, o artista é o que parece ser, o que diz na frente da tela de tv, em um palco ou em sua música, conforme sua atividade. Triste ser assim, pois não precisamos ser uma Madre Tereza de Calcutá, um Buda, mas educação, bons tratos sempre é bom!!
ResponderExcluirExatamente, amiga Jani !
ExcluirInfelizmente, esse tipo de comportamento falso é muito comum entre pessoas que trabalham em veículos de comunicação de massa. E não é um fenômeno moderno, mas algo bem antigo, na verdade. Eu mesmo, na infância, tive uma experiência nesses termos, ao conhecer o lado obscuro e muito ruim de um humorista que eu adorava, ao gerar-me uma enorme decepção. Eu e muitas crianças que também presenciaram o sujeito sob um ataque de estrelismo, regado a arrogância e muito mau humor, ou seja, o contrário do que ele representava para as crianças brasileiras nos anos sessenta, quando era idolatrado por milhões de pequenos, onde incluo-me.
Sua colocação foi perfeita e saiba que eu adorei a sua comparação sobre a questão do equilíbrio. Perfeito, não é necessário ser santo como as pessoas que citou, mas balancear melhor as emoções e procurar tratar a todos com educação e respeito, é o mínimo que espera-se de uma pessoa minimamente educada, civilizada e cortês.
Sejamos gentis, com todos, sem dúvida alguma.
Grato por ler e comentar !