Aconteceu no
tempo da Magnólia Blues Band, em 2014
As
atividades da Magnólia Blues Band foram intensas enquanto tal banda existiu,
mas houve uma curiosidade sui generis ao seu respeito. Por ter sido criada para
ser uma banda fixa da casa de espetáculos (Magnólia Villa Bar), a banda nunca
apresentou-se em outro espaço. Todos os cento e poucos shows que a banda cumpriu
em sua trajetória, foram realizados no palco dessa citada casa noturna, localizada
no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo.
A casa ficava
localizada em um ponto nobre do bairro, exatamente na esquina das Ruas Aurélia
e Marco Aurélio e para quem conhece bem aquele quadrante do simpático bairro da
Lapa, sabe bem que haviam poucas casas noturnas e mesmo comerciais de atuação diurna ali,
pois trata-se de uma área completamente residencial.
Então, era costumeiro
tocarmos a olharmos o movimento da rua e se dentro do estabelecimento, o clima era
quente com a presença de um animado público e com o Blues e o Rock a contaminar
o ambiente com energia, nas ruas, o panorama era semelhante a um deserto, com
os moradores recolhidos em suas residências.
Nesse aspecto, era comum vermos senhores idosos a
saírem esporadicamente de suas residências, para na calçada depositarem o lixo doméstico, trajados com pijamas, o que chegava a
ser engraçado.
Mas o
movimento do bar atraia muitas pessoas à cata de estacionamento nas redondezas
e assim, as ruas ficavam desertas em termos de pessoas, mas lotadas com carros estacionados naquele
entorno.
Infelizmente, tal profusão de automóveis chamara a atenção de
malfeitores e houve relatos de ações de furtos nos carros, com o roubo de
objetos do seu interior e algumas vezes, até de pneus.
Pois foi em
uma dessas noites de quarta em que apresentávamo-nos que eu presenciei uma cena
bizarra. Estava a tocar e olhar vez por outra o movimento da rua, pelas muitas
janelas que a casa possuía, quando avistei quatro jovens aparentemente embriagados
a caminharem pelo meio da rua.
Logo que os avistei, não suspeitei de nada, pois
os três rapazes e um moça, componentes desse grupinho de transeuntes, não tiveram nenhuma atitude suspeita em princípio, a não
ser o sinal de embriaguez em comum para todos.
Talvez fossem jovens
universitários a voltarem para a casa, pois apresentavam boa aparência, no uso de boas vestimentas em ordem, e teoricamente não havia nada que chamasse a atenção em demasia em seu comportamento.
Foi quando eu percebi
que eles pararam bem perto de meu carro. No início, não preocupei-me exatamente, mas
logo vi que passaram a olhar para todos os lados e a confabularem entre si. Tal
atitude pareceu-me suspeita e tudo confirmou-se negativamente, quando vi que um
dos rapazes forçou a maçaneta da porta do motorista, enquanto um outro correu para
forçar as maçanetas do lado oposto. A moça parecia vigiar, ao olhar
freneticamente para todos os lados e o outro rapaz foi tentar arrombar o
porta-malas.
Foi ainda mais surreal tal cena, pois a banda
tocava a todo vapor e eu não parei e abandonei o palco para esboçar alguma
reação, pois naquela fração de segundos, percebi que o porteiro da casa já havia
flagrado a situação e sinalizara ao segurança do posto de gasolina do outro lado da calçada, que não
funcionava no período noturno, mas esse funcionário costumava ficar ali atento, durante a noite
inteira.
Eles mantinham um combinado entre si, para vigiarem mutuamente a esquina e assim, rapidamente
ambos marcaram presença e o quarteto do mal saiu a correr.
Provavelmente não eram
bandidos propriamente ditos e nem armados deviam estar. Talvez fossem apenas
usuários de drogas e vislumbraram um furto tranquilo para obter algum objeto de
valor, tanto que não possuíam ferramentas para arrombar o carro e apenas testaram
as portas no intuito de contarem com a sorte para descobrir alguma porta destrancada.
Talvez até quebrassem um vidro com um tijolo, se não houvessem sido
surpreendidos, o que prova que tratavam-se mesmo de ladrões de ocasião, pois bastaria
andar mais um quarteirão para que achassem muitos outros carros estacionados e aí
estariam completamente fora do campo de visão de quem estava dentro da casa
noturna em que tocávamos.
Enfim, o importante foi que o meu carro não foi
molestado naquela noite e eu pude tocar os meus Rocks e Blues e no caso dos
Blues, apenas a ficar nos lamentos poéticos que tal escola musical traz em sua
raiz primordial e não a lamentar um prejuízo desagradável.
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