Aconteceu no
tempo do Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, em 2012
Fomos participar de um festival produzido pelo Sesc, através da sua unidade da cidade de São Carlos-SP, mas não em suas ótimas dependências locais.
Entretanto não
lamentamos tal locação proposta, visto que o evento fora concebido para
realizar-se na plataforma de uma antiga e charmosa estação ferroviária em pleno
uso, ou seja com enormes composições a passarem o tempo todo e completamente
abarrotadas por produtos agrícolas, minérios & afins, a caracterizar a riqueza das
commodities vindas do interior de São Paulo e estados do centro-oeste,
sobretudo, rumo ao porto de Santos-SP.
Sobre os
pormenores desse show, eu já narrei no capítulo adequado sobre essa banda em
meu livro autobiográfico, mas ainda restaram alguns detalhes para narrar.
Como
por exemplo, o fato de que após o show, nós fomos convidados a deslocarmo-nos do
camarim improvisado para um outro ambiente desse bastidor montado em meio aos
trilhos, para atender a solicitação de uma equipe de TV local, afiliada da Rede
Globo na região, que manifestou o desejo de entrevistar-nos.
Sobre tal
ocorrência, não há muito o que descrever, pois foi algo bem ligeiro e trivial,
sem nenhum fato diferenciado que mereça ser mencionado. Entretanto, a motivação
que tirou-nos do nosso camarim tão devassado, provocou-me um lapso
imperdoável.
Ocorreu que
no exato momento em que fomos chamados, havia um razoável contingente de
pessoas ligadas à produção do evento, a ocuparem o mesmo espaço. Dessa forma,
inspirado na falsa impressão sobre a suposta segurança que isso transpareceu ali naquele
instante, todos nós, sem nem cogitar algum receio, saímos do camarim sem
levarmos os nossos pertences conosco e nesse aspecto, incluam-se instrumentos e
acessórios.
Foi algo muito imprudente e certamente inadmissível em meu particular
caso, pois exatamente dez anos antes dessa data, em 2002, eu mesmo houvera sido
vítima de uma ação de furto no camarim do Sesc, nessa mesma cidade, quando
atuava com a Patrulha do Espaço. Portanto, entre todos da nossa banda e
comitiva, eu deveria ter sido o mais atento a tal tipo de procedimento imprudente.
Ocorre que a
entrevista foi relativamente curta, mas no meio do caminho houve bastante
distração, com membros de diversas bandas que haviam tocado anteriormente a
abordar-nos, além de amigos de São Carlos-SP que surgiram para efetuarem um cumprimento etc.
e tal.
Nessa circunstância, o tempo que todos perdemos para voltarmos ao
camarim, foi maior que o esperado inicialmente. Pois quando eu cheguei ao
camarim, ele estava completamente vazio. Fui então até a van que serviu-nos
nessa produção e verifiquei que os companheiros já estavam todos ali, mas
quando perguntei-lhes sobre o meu instrumento, ninguém soube responder-me sobre
o seu paradeiro.
Pedi ao motorista para abrir o bagageiro e ele não estava
ali. O coração acelerou, acrescido pelos inevitáveis calafrios e imediato
desconforto estomacal certamente motivado pela secreção de ácidos gástricos
disparados pela sensação do medo ante a concretização de uma má notícia.
Como uma
última medida desesperada, eu corri novamente ao camarim e mesmo a saber que eu o
vira minutos antes, completamente vazio, não tive outra opção a não ser
estabelecer uma nova vistoria desesperada.
Foi quando ao adentrá-lo e já haviam
apagado os luminárias improvisadas que proviam a luz de serviço ali naquele espaço, eis que resolvi
agachar-me para olhar embaixo de uma mesa ali colocada e ... ufa, apalpei o seu
estojo (case), cuja textura do seu revestimento, eu conhecia muito bem.
Alívio
parcial, no entanto, pois o verdadeiro teste de fogo viria a seguir. Eu
precisava abri-lo e verificar a presença do instrumento em questão, em seu
interior. Segundos tensos sobrevieram enquanto eu abria as suas dobradiças. E
então, quando a caixa abriu-se, o alívio chegou, para fazer-me respirar fundo.
Lá estava o meu velho amigo, Rickenbacker!
Bem, não
posso queixar-me dos colegas, pois o mesmo sentimento dispersivo que ocorrera-me,
também sucedeu-se com os demais. Ninguém ali, sequer cogitou que o meu
instrumento ficara para trás na hora de carregar o nosso material para a van.
Cada um pegou os seus pertences e naturalmente consideraram que todos haviam feito
o mesmo, sem exceção. E vou além, quando saímos do camarim para a tal
entrevista, o meu estojo do instrumento estava visível, junto à guitarra e
pedaleira do guitarrista Kim Kehl e peças de bateria do Paulo Pires.
Sendo assim, o fato dele ter sido colocado debaixo da mesa, a posteriori, só pode ter sido perpetrado por alguém que o viu ali, visível e ao preocupar-se, tratou por camufla-lo até que o seu proprietário, no caso, eu mesmo, pudesse vir resgatá-lo.
Sendo assim, o fato dele ter sido colocado debaixo da mesa, a posteriori, só pode ter sido perpetrado por alguém que o viu ali, visível e ao preocupar-se, tratou por camufla-lo até que o seu proprietário, no caso, eu mesmo, pudesse vir resgatá-lo.
A despeito desse fato, tudo foi muito bom nesse
show e posso acrescentar, até esse susto em seu desfecho, para alertar-me mais
uma vez sob as normas de segurança a serem observadas, mesmo eu que eu já tivesse cinquenta e
dois anos de idade naquela ocasião, com trinta e seis de carreira, ou seja, a denotar
experiência e com a agravante de haver passado por uma situação desagradável de
furto no camarim, naquela mesma cidade e sob a produção da mesma instituição,
dez anos antes.
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