Isso ocorreu em uma típica republiqueta das
bananas, encravada em alguma parte da América Central, talvez até do sul, não
sabe-se ao certo e tudo confunde-se quando as informações chegam carregadas com
cargas indisfarçáveis de preconceito, ou seja, aquela velha visão sob extrema
soberba, a dar conta que todos os povos latino-americanos são hispânicos,
miseráveis e facilmente manipuláveis por forças extremistas a lhes controlar. Ou seja, aquela ideia de que tudo faz lembrar as
cenas do filme: “Bananas”, do Woody Allen, que aliás é bem engraçado ao satirizar
bem os estereótipos em torno dessa geopolítica cucaracha.
Pois tal país vivia dias difíceis em meio a uma ditadura
ferrenha, portanto, na contrapartida a resistência existia e embrenhava-se nas
poucas brechas deixadas pelo poder. Tais pessoas que opunham-se ao regime de
então, eram jovens idealistas e sonhavam em libertar o seu povo de tal jugo pesado,
mas como sempre acontece em situações desse porte, não dispunham de recursos
para organizar uma oposição que pudesse ter o menor espaço para contrapor as
ideias impostas pelo sistema e por sentirem-se frustrados pelo quadro
desfavorável que detinham à sua disposição, praticamente estavam a sentirem-se
derrotados e resignados com a falta de reação ante os poderosos.
No entanto, se estavam
vencidos pela força das circunstâncias, ao menos restou-lhes algum senso de
humor para lidarem com a derrota iminente.
Eis que um desses rapazes, chamado: Lalo Humoretes,
um dia surgiu no ponto de encontro desses jovens insurgentes, munido de um
pequeno troféu pessoal.
Ele arrancara tal peça do mural de uma repartição pública e obviamente
sem ser notado, pois seria severamente punido se descoberto, a se tratar de um pôster gigante do ditador do país. Em pose altiva, o temível,
Ernestino Geneziano, olhava frontalmente, como se estivesse a encarar cada
cidadão com aquela arrogância que lhe era peculiar, trajado com um terno caro,
muito bem cortado, possivelmente feito sob encomenda por um oficial alfaiate da
Itália e a usar a faixa presidencial ilegítima, forjada por um golpe de estado.
Foi quando sob uma primeira reação ali na salinha
que usavam para os seus encontros secretos, que os demais esboçaram rasgar a
peça, a dar vazão à sua raiva, por certamente denotar o desprezo que nutriam
por tal homem que julgavam ser execrável.
Mas Lalo pediu-lhes calma e propôs
outro destino ao cartaz. Bom desenhista por natureza e reconhecido por tal talento por todos
os outros, ele propôs um desfecho diferente ao pôster.
Eis que alguns dias depois, quando um outro membro
chegou primeiro e abriu o quartinho, surpreendeu-se ao ver a peça já
devidamente afixada à parede. Então, a sua reação, passou da raiva assumida ao
homem que representava a opressão aos seus olhos, para a gargalhada, afinal de
contas, ironizar o inimigo também é uma forma para extravasar a raiva. E quando
os demais chegaram, mesmo ao já ter rido muito, ele gargalhou novamente junto aos
colegas.
E o que houvera ocorrido com o cartaz estatal que
tanto odiavam por representar a opressão pela qual lutavam contra? Por acaso
Lalo o havia transformado em algo semelhante ao “Retrato de Dorian Gray?”
Bem, não foi bem assim, a opção não caracterizou-se pela metáfora do
horror visual a representar o mal, mas o humor prevalecera. Eis que o ditador
estava lá, sem alterações grotescas em seu rosto e no seu corpo de uma maneira geral,
entretanto, alguns detalhes foram acrescentados.
Por exemplo, acima da cabeça do ditador, foram desenhados dois
balões a denotar a existência de um diálogo, como nas histórias em quadrinhos. E
um outro aspecto, mais acintoso, com o acréscimo da ilustração da mão direita do
velho Geneziano a sinalizar o clássico xingamento universalmente reconhecido em
torno do dedo médio em riste. Mas o que dizia-se nos balões?
No primeiro, a
sugerir a pergunta vinda de um personagem fora do enquadramento, formulou-se uma
pergunta:
-“Mas, presidente, e o povo?”
E a resposta mais sincera e objetiva,
veio a seguir, vinda do antipático velhinho:
-"Povo? Eu quero mais é que se f... e
se alguém reclamar, prenda imediatamente”.
Como são ingênuos esses
povos latino-americanos e ao mesmo tempo, engraçados por conceberem piadas sobre
obviedades... acho que Woody Allen teve razão em seu filme.
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