Aconteceu no
tempo da Patrulha do Espaço, em 2001
Ainda bem, a Patrulha do
Espaço fez bastante shows em teatros, arenas e salões espaçosos, embora tenha
tocado também em casas noturnas, vez por outra. E principalmente na cidade de
São Paulo, não foram muitas as apresentações em casas noturnas, para a nossa
sorte, visto que tocar sob uma infraestrutura mais adequada, era (é) sempre muito
melhor.
Entretanto, foi em 2001 que o dono de uma casa noturna com bastante
tradição na noite paulistana, contatou-nos mediante uma oferta bastante digna
em termos de cachê. Ora, se aventou pagar-nos um valor bastante razoável e a
oferecer uma infraestrutura operacional satisfatória, claro que aceitamos
tocar.
E assim, com o tempo a
passar, a propaganda sobre a apresentação foi para a rua normalmente e quando chegou o dia do show,
a perspectiva pareceu-nos ser muito boa em torno da casa lotar e apesar de não
dependermos de tal desempenho popular exatamente para termos um bom resultado financeiro, claro que sempre
queríamos a lotação máxima, independente do cachê estar assegurado previamente ou não.
No entanto, enquanto ainda estávamos em meio aos trâmites do soundcheck
vespertino, foi que uma tentativa de coação foi perpetrada e só não foi
inteiramente deprimente, pois no calor dos acontecimentos, revelou-se tão
patética que gerou risos ao invés de indignação de nossa parte.
Pois eis que o proprietário
da casa entrou no recinto e ao mostrar-se eufórico, disse que a casa estava com
os seus telefones a serem requisitados de forma intermitente, com pessoas a perguntarem
sobre ingressos e a reservá-los. Disse-nos então em tom de euforia, que a casa estava a receber
uma consulta recorde e que já havia a certeza de uma superlotação e até cogitava-se a
possibilidade de ficar gente na rua, sem condições para entrar.
Que bom, ótima
notícia, pensamos e assim respondemos a ele. Entretanto, tal afirmativa super
otimista vinda de sua parte, teve na verdade, uma outra intenção e esta fora escusa. O fato, foi que a
seguir, o rapaz escancarou a sua real intenção quando propôs-nos uma mudança de
nosso trato financeiro, ao alegar que o cachê fixo que oferecera-nos, poderia
ser muito inferior à soma que a bilheteria poder-nos-ia render, dada a “demanda
excepcional” que ele alardeara ao início de seu discurso eufórico.
Mediante uma
calculadora manual, ele ficou a mostrar-nos então que poderíamos ganhar até o
triplo do valor acertado, se aceitássemos desfazer o acordo firmado anteriormente
e doravante, fechássemos com a resolução em torno de uma porcentagem sobre a
bilheteria, ao invés de um valor fixo em nosso cachê.
Relutamos, é claro, mas ele
insistia em sua argumentação, ao mostrar-nos o cálculo matemático que dizia ser plausível,
mediante a perspectiva que os telefonemas estavam a apontar, entretanto, mesmo
assim, tal oferta não demovera-nos de nossa decisão de mantermos o acordo anterior.
Melodramático,
o rapaz gastou todos os argumentos possíveis e em dado instante, esteve a portar-se como um vendedor de
eletrodomésticos em casas populares, ao usar um discurso piegas, risível e
certamente apelativo.
Quando notou enfim que não mudaríamos o nosso acordo, ele saiu do salão a
demonstrar contrariedade, ao repetir que nós fatalmente arrepender-nos-íamos
quando víssemos a casa super lotada e o dinheiro do nosso cachê ficar aquém do
que poderíamos ter recebido, se não fôssemos cautelosos em excesso.
Pois chegou a noite e a casa recebeu um bom público, porém, bem longe da
loucura excepcional que ele preconizara no período da tarde. Pois é, aonde estariam
aquelas pessoas ausentes que telefonaram enlouquecidas, no afã de conseguirem reservar
ingressos? Simplesmente desistiram de comparecer?
Recebemos então o nosso cachê combinado
e não falamos nada sobre o ocorrido com ele. Todavia, um funcionário da casa, que
presenciara toda a pressão que o sujeito exercera sobre nós anteriormente, não
conteve-se e ao abordar-nos, disse-nos:
-“ele sempre faz isso, com todo artista
que vem aqui apresentar-se. Combina um cachê fixo e na hora do soundcheck vespertino, vem
pressionar os artistas a mudarem o acordo, mediante a falsa esperança de que ganharão
muito mais, em face da “chuva de telefonemas” que supostamente estaria a
ocorrer no escritório administrativo da casa.
E quando chega a noite e a expectativa
não é cumprida, ele acerta a porcentagem, que sempre fica muito abaixo do
cachê anteriormente acordado e se o artista questiona sobre a quantidade de público
que fora dada como certeira, ele simplesmente inventa desculpas esfarrapadas sobre a
condição climática que repentinamente ficou desfavorável ou sobre possíveis transtornos
no trânsito da cidade e pronto, o artista vai embora com uma quantia modesta no
bolso e a lamentar a falta de sorte”...
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