Aconteceu no tempo de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, em 2011
Eu estava empolgado por participar da banda de apoio ao compositor/cantor e poeta, Ciro Pessoa, justamente após ter travado bons diálogos com ele nesse período em que precedeu a realização dos primeiros ensaios a visarem os shows e por conseguinte, ter desfeito a falsa impressão de que o Ciro, por ter sido um egresso da cena oitentista em torno da estética Pós-Punk (por ter feito parte de bandas desse setor, tais como os Titãs e o Cabine C), fosse naturalmente um adepto dos preceitos ordinários daquela estética.
Eu estava empolgado por participar da banda de apoio ao compositor/cantor e poeta, Ciro Pessoa, justamente após ter travado bons diálogos com ele nesse período em que precedeu a realização dos primeiros ensaios a visarem os shows e por conseguinte, ter desfeito a falsa impressão de que o Ciro, por ter sido um egresso da cena oitentista em torno da estética Pós-Punk (por ter feito parte de bandas desse setor, tais como os Titãs e o Cabine C), fosse naturalmente um adepto dos preceitos ordinários daquela estética.
Mas como isso não correspondera com a verdade e muito pelo
contrário, Ciro mostrava-se tão entusiasmado por estéticas sessenta-setentistas, quanto eu, tal fator não só trouxe-me a sensação de alívio por não
ter que enfrentar nenhum antagonismo, e dessa forma, a empolgação do que ali
entre nós, haveria por predominar o conceito: "o futuro é Pink Floyd", como ele mesmo gostava de alardear como
uma profecia para aludir ao resgate psicodélico.
Não foi no primeiro, tampouco no segundo, mas exatamente no terceiro ensaio, que sentimo-nos mais seguros, individualmente com a execução das canções e o entrosamento começou a surgir na parte coletiva da banda.
Não foi no primeiro, tampouco no segundo, mas exatamente no terceiro ensaio, que sentimo-nos mais seguros, individualmente com a execução das canções e o entrosamento começou a surgir na parte coletiva da banda.
E foi ali que o Ciro Pessoa impressionou-me com uma
performance intensa. Na verdade, já nos dois ensaios iniciais, por ser o autor
das músicas e com a responsabilidade apenas para cantar e não ater-se a
manipular instrumentos, ele já mostrou-nos a sua força interpretativa ao portar-se como
se já fosse o show em si e eu gostara dessa postura, pois além do profissionalismo,
ele demonstrou uma capacidade para mergulhar na emoção, sem receios.
Entretanto, foi no terceiro ensaio, com a banda a tocar mais naturalmente, sem inseguranças típicas de um conglomerado formado por músicos que ainda não se conhecem com a fluidez musical o suficiente para tocar sem se olharem mutuamente para sinalizar mudanças harmônicas e ou rítmicas, que ele mergulhou ainda mais na sua interpretação e aquela loucura cênica toda de sua parte, estava a empolgar-me, exatamente por ser versada na mais pura representação da psicodelia sessentista, uma de minhas predileções em termos de escolas dentro do Rock.
Entretanto, foi no terceiro ensaio, com a banda a tocar mais naturalmente, sem inseguranças típicas de um conglomerado formado por músicos que ainda não se conhecem com a fluidez musical o suficiente para tocar sem se olharem mutuamente para sinalizar mudanças harmônicas e ou rítmicas, que ele mergulhou ainda mais na sua interpretação e aquela loucura cênica toda de sua parte, estava a empolgar-me, exatamente por ser versada na mais pura representação da psicodelia sessentista, uma de minhas predileções em termos de escolas dentro do Rock.
Pois foi bem na parte final
da canção denominada: “Planos” (que aliás era uma das minhas prediletas,
exatamente por ser muito parecida com aquele estilo “Space Rock” do Pink Floyd,
bem naquela transição do trabalho dessa banda, da psicodelia pura para o Rock
Progressivo setentista), que ele costumava declamar um monólogo improvisado,
enquanto a banda executava um “looping” harmônico com quatro acordes e sob uma
levada ultra divagante, quase sob o poder de um mantra.
E assim, sob tais condições, o monólogo
manteve uma mola mestra, porém a cada execução, ele mudava a ordem e até algumas
citações inteiras, sob o poder do improviso. De fato, ele cometeu tal
procedimento em diversos shows que fizemos doravante, contudo, foi naquele
terceiro ensaio, que a sua inspiração chegou ao clímax, pois nunca mais ele reproduziu
aquela fala com tamanha intensidade.
Ocorreu dessa forma que foi entre várias
frases proferidas em tom de ode à psicodelia e ao surrealismo, que ele passou a enumerar
fatos e pessoas relevantes dentro desse universo, a citar de Syd Barrett a
Salvador Dali, de Magritte a Manoel de Barros, de Jimi Hendrix a André Breton e
Luiz Buñuel e outros tantos, quando até o controverso Marquês de Sade, que não fora nada
surrealista, tampouco psicodélico, entrou na lista por ele elencada.
Mas ao empolgar-se, Ciro foi
além e se a cada nome ele intensificava o seu gestual e ênfase vocal, foi
quando gritou: -“Viva a Loucura!”, que atingiu o ápice e aquilo impressionou-me
sobremaneira.
Pois eu entendi
perfeitamente a sintonia incrível em que entráramos, ao criarmos aquela
atmosfera carregada de plena loucura, sim, mas não falo da loucura enquanto
distúrbio mental e com a devida carga negativa a denotar uma anomalia em forma
de doença, no entanto, a loucura pelo viés da absoluta genialidade de quem
quebrara o paradigma da normalidade e nesse aspecto, a loucura como uma
superação e talvez mais do que isso, uma elevação da percepção humana tão
limitada.
Perfeito, por muitos anos,
eu persegui a oportunidade de estar inserido em um trabalho versado pela psicodelia pura
e onde o elogio à loucura não fosse uma mera referência da filosofia de Erasmo
de Rotterdam, mas sim uma reverência ao poder daquela energia especial que permeou
os anos sessenta, enquanto vislumbre da contracultura. Portanto, foi ali naquele
ensaio que eu tive a confirmação de que talvez houvesse alcançado tal
oportunidade, enfim.
Tempos depois, esse trabalho não avançou como que eu esperava e assim, na prática, isso não ocorreu com grande volume e tampouco a performance do Ciro nessa canção, jamais foi tão intensa quanto naquela noite de uma terça-feira de novembro de 2011, em uma sala de ensaio localizada no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Pois ali, nós atingimos o píncaro da loucura, certamente.
Tempos depois, esse trabalho não avançou como que eu esperava e assim, na prática, isso não ocorreu com grande volume e tampouco a performance do Ciro nessa canção, jamais foi tão intensa quanto naquela noite de uma terça-feira de novembro de 2011, em uma sala de ensaio localizada no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Pois ali, nós atingimos o píncaro da loucura, certamente.
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