Aconteceu no tempo do Pitbulls on Crack, em 1994
Sei bem o quanto era e ainda é (talvez nos tempos atuais de 2019, sob outros aspectos, é bem verdade), gravar um
disco e enfrentar a dura batalha pela sua divulgação. E mil vezes mais difícil, se
for um esforço empreendido por um artista independente, sob uma condição
praticamente crônica de falta de apoio, generalizada.
Portanto, ao pensar em
meu caso (aliás, independente de qual banda eu estivesse a atuar na ocasião), eu
sabia que a labuta sempre fora árdua, mesmo que eu estivesse em uma banda com
uma melhor condição e esse foi o caso do Pitbulls on Crack, que nunca atingiu o
mega estrelato do patamar mainstream, mas para divulgar os seus discos, teve apoio de duas gravadoras
consideradas sob porte médio no mercado fonográfico, a ostentarem uma infraestrutura muito acima da penúria total com
o qual um artista sem apoio algum enfrentaria normalmente essa tarefa.
Então, por saber bem
das dificuldades, a minha postura nunca mudou, pois eu sempre soube o que representa trabalhar com
parcos recursos e muito pior, sob ausência completa de uma estrutura mínima.
Foi em meados de 1994, quando empreendíamos esforços para divulgar as duas músicas que graváramos dentro da coletânea “A Vez do Brasil”, da gravadora Eldorado, que eu e os meus colegas do Pitbulls on Crack presenciamos uma cena que seria até engraçada, se não fosse, ao contrário, muito humilhante e posso até dizer, inadmissível.
Foi em meados de 1994, quando empreendíamos esforços para divulgar as duas músicas que graváramos dentro da coletânea “A Vez do Brasil”, da gravadora Eldorado, que eu e os meus colegas do Pitbulls on Crack presenciamos uma cena que seria até engraçada, se não fosse, ao contrário, muito humilhante e posso até dizer, inadmissível.
Ocorreu que
fomos conceder uma entrevista a uma emissora de rádio, aliás com bastante
relevância no dial das FM’s de São Paulo. Então, eis que alguns minutos antes da
nossa entrevista, os membros de uma banda da cena pesada e consagrada, inclusive, em seu nicho
de atuação, estavam a ocupar a sala da diretoria.
Os componentes dessa banda
eram amigos nossos, todos muito gentis e eu, particularmente os conhecia bem, desde os
anos oitenta. Esses artistas estavam ali para divulgar o
seu recém lançado novo LP e pleiteavam com o programador da emissora, a sua execução.
Em princípio, eles já haviam quebrado uma regra velada do meio artístico, é preciso
observar, visto que não é de bom tom, o próprio artista tratar de assuntos
dessa natureza. O mais adequado é tal tipo de negociação ser empreendida por um
empresário, agente, produtor ou melhor
ainda, o assessor de imprensa da banda ou da gravadora a tratar tal assunto.
Há notoriamente no meio midiático, uma tendência a considerar tal ato perpetrado diretamente
pelo próprio artista, como um sinal de amadorismo e isso causa uma má
impressão, que muitas vezes pode estigmatizar o artista de uma forma
irreversível.
Por saber de sua luta, há
anos, claro que eu entendi o propósito dos rapazes e mais do que isso,
compreendi completamente que se eles possuíssem um grande apoio empresarial, não
estariam ali pessoalmente, pois eles tinham consciência de como funcionava os bastidores da
relação entre artistas e órgão da mídia, mas se ali estiveram pessoalmente, denotara
que não tiveram outra alternativa a não ser eles mesmos a travarem tal contato.
Todavia, a paciência solidária que tiveram de minha parte, como um colega de
profissão, eles dificilmente teriam daquelas pessoas da emissora, viciadas em
usufruírem das benesses escusas da famosa e execrável prática do dito “jabaculê”
ou “Jabá”, na forma mais popular, ou seja, aquela famigerada forma de ”ágio”,
para expressar tal procedimento de uma forma mais amena.
Dessa forma, assim que
os rapazes da tal banda pesada saíram da sala e cumprimentaram-nos, eles falaram
conosco animadamente sobre a conversa ter sido muito frutífera com o pessoal da rádio e assim, o seu álbum ter garantido o lançamento na emissora com um depoimento testemunhal do
locutor, uma possível entrevista com a banda a ser agendada a posteriori e que uma canção de
“trabalho”, entraria na programação regular.
Os colegas estavam bem animados e a priori, se
contaram-nos tais novidades alvissareiras, certamente que não haveria por
duvidar-se da palavra dos dirigentes da emissora que prometeram-lhes tais ações
de divulgação de seu trabalho.
Porém, não era assim que
funcionava uma negociação dentro de uma emissora de rádio, definitivamente, pois assim que despediram-se de nós e partiram, um
dos programadores da emissora passou por nós e ao ironizar com bastante
sarcasmo os nossos colegas, vociferou:
-“eles vieram aqui para lançar o seu disco. Pois vejam só,
vou lançá-lo, agora... bem do alto”... foi quando esse rapaz abriu a janela e arremessou o
álbum, com capa e tudo e ainda arrematou: -“está lançada a porcaria
do disco deles”...
Ao considerar-se que estávamos em um andar muito alto de um edifício, tal ato poderia ser considerado engraçado por alguns ali, mas nós que também éramos artistas e sobretudo pelo fato de sermos amigos dos componentes daquela banda, ficamos bastante chateados com tal ato em tom de profundo desrespeito.
Ao considerar-se que estávamos em um andar muito alto de um edifício, tal ato poderia ser considerado engraçado por alguns ali, mas nós que também éramos artistas e sobretudo pelo fato de sermos amigos dos componentes daquela banda, ficamos bastante chateados com tal ato em tom de profundo desrespeito.
E por
outro lado, não causou-nos uma grande surpresa, infelizmente, pois nessa altura
dos acontecimentos, já tínhamos uma bagagem bastante considerável,
na música. Entretanto, foi óbvio que tal escárnio arrogante da parte de
quem deveria difundir arte livremente, mas agia dessa forma aviltante, revelou-se
intolerável.
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