sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Até Anjo Apanha no País - Por Marcelino Rodriguez


No atual estágio da civilização brasileira, até anjo apanha.

Arcanjos também não escapam. Escrevi um poema de inspiração delicada, com versos falando de vitória e esperança para o Arcanjo Miguel.

Pus na imagem mais conhecida pela Tradição que é aquela onde ele aparece subjugando o dragão e pensei comigo que agora o reconhecimento viria e com ele o Nobel.

As meninas do Leblon agora iriam olhar para mim.
Entreguei a um jovem que assim como eu, gosta de cachorros. O via como um aliado certo.
 

Ele pegou o santinho e começou a ler com olhos enigmáticos.
-- Desculpe, mas não posso aceitar.
-- Por que?
-- Sou ateu.
-- E o que tem isso? Estou apenas te dando um presente, aceita.
(Dentro de mim, mais uma chaga na lepra da rejeição.)
 

Mas eu não desisto. Logo meu coração de "Papaléguas" já passava para uma amiga crente, missionária.
 

Ela leu o escrito, também circunspecta.
--- Bonito, amigo. Mas nós não podemos adorar imagem.
--- Como assim, não estou adorando imagem. Pus nessa figura porque é a que conhecemos tradicionalmente e ai comecei a defender os pintores sacros, discursei por quase três horas sobre a tolerância, quase fiquei indignado e aí a amiga talvez penalizada de mim acabou comprando uma pizza, que dividimos.
 

Numa terceira senhora, essa católica, tentei seduzi-la dizendo que
tinha um presente e mostrei o Anjo, orgulhoso.

Pensava comigo que seria salvo pelos fiéis do Vaticano.
 

Ela olhou para mim:
-- Isso é presente? Pensei que ia ganhar uma toalha de banho.
Desabei. Não havia salvação possível. 


Adeus, Nobel ! Adeus,Vaticano.
 

Adeus, meninas do Leblon!
 

No dia seguinte, deprimido e com ansias, peguei o que havia de
restante na caixa do poema do Anjo e atirei no Rio Paraiba do Sul.
Nesse país, até anjo apanha da falta de educação.
Até quando permitiremos ?



Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. É um escritor consagrado e de extensa obra publicada. Nesta crônica, extraída de seu livro "Café Brasil", mais uma vez expressa a sua indignação pela total falta de estrutura educacional e cultural nesta terra tupiniquim. 

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