Chegou o dia do primeiro show, e mesmo ao saber muito bem que seria feito em um espaço
intimista e longe de conter uma infraestrutura que o trabalho do Ciro
mereceria ter, eu estava animado. Tive o sentimento que esse
primeiro show representaria a oportunidade para deslanchar em uma série de
outros shows, e notadamente, em meio a um circuito mais estruturado.
O
Club Noir era charmoso, sem dúvida, mas o seu espaço destinado aos shows
musicais, era bem discreto, para ser bastante tolerante, eu diria.
O
curioso, é que na parte traseira da casa, havia um pocket Teatro, com
estrutura muito melhor. Com um pequeno auditório, com visão
muito boa para o público, presença de estrutura de iluminação, palco muito maior,
camarim, e o básico do básico: presença de vários pontos de "AC"
(a trocar em miúdos: tomadas elétricas!). Ora, por que os shows não aconteciam ali, então?
A
resposta veio rápido, através da reação histriônica advinda de uma produtora da
casa, que ao nos ver a circular pelo teatro em questão, e sobretudo por notar-nos perplexos pela
proibição de termos o nosso show realizado ali, essa moça foi ríspida conosco, ao solicitar
para que saíssemos dali imediatamente, pois ali era um "templo sagrado do teatro"... muito bem, ficara entendido.
Eles só usavam aquele espaço, para apresentações
teatrais, e deviam ter problemas de isolamento acústico,
consequentemente, não poderiam promover shows musicais, principalmente
bandas de Rock.

E no restante, ficou na conta do esnobismo tolo da mocinha, e seus delírios como "Diva do Teatro". Conformados
com essa regra da casa, fomos montar o palco, e ali no espaço permitido e digamos, "menos nobre" a ser usado por reles artistas da música, o sofrimento foi
grande, pois a absoluta falta de estrutura do outro ambiente do estabelecimento, nos obrigou a
fazermos coisas que não seriam de nossa atribuição natural como artistas.

Mas
diante de tais circunstâncias, não tivemos nenhum pudor em trabalharmos
como roadies e técnicos, para fazer o show acontecer, ao demonstrar que
todos estavam animados, e não queríamos fazer com que dificuldades
técnicas atrapalhassem o espetáculo.
Bem, o esforço foi grande e
lembrou-me de certa forma os meus tempos com o "Terra no Asfalto", a minha
banda cover do início dos anos oitenta, onde tínhamos que fazer tudo
absolutamente sozinhos, inclusive por ter que nos preocuparmos em locar
equipamento de PA, o que sob um regime profissional, é o fim da picada.
Mas, no resultado final, valeu muito a pena!
Continua...