O local foi uma associação cultural multiuso, chamada: "Coletivo Galeria". A intenção pareceu ser muito boa de seus mandatários, mas pecara pela falta de uma infraestrutura mínima necessária, pois os equipamentos de som e iluminação e também pela dimensão minúscula do seu palco, a nivelara ao padrão de casas noturnas de baixo nível, infelizmente. Enfim, não cabe aqui nenhum discurso a reprovar tal condução do seu espaço, pois foi um "pegar ou largar", pura e simplesmente e o Ciro nos consultou previamente ao expor as condições e nós aceitamos, pelas razões já elencadas.
Sendo assim, fomos nos apresentar nesse espaço, que continha em anexo, uma pequena galeria de arte no andar superior, e na parte inferior da casa, produzia shows musicais de pequeno porte. Pelas condições estruturais ali presentes, o ideal seria usar o espaço somente para apresentações intimistas, com artistas a se apresentar ao estilo da voz & violão, de forma bem despojada entretanto, bandas costumavam se espremer ali naquela palco minúsculo e até shows de Punk Rock e Heavy-Metal ali aconteciam, normalmente.
Enfim, uma vez, aceitas as condições estava combinado sem direito a impor-se restrições posteriores...
Haveria uma presença a mais nessa noite, que o Ciro convidara para tocar conosco em duas músicas. Tratou-se de Miguel Barela, guitarrista que fora famoso nos anos 1980, por ter sido componente da banda: "Voluntários da Pátria" e de outras, igualmente (a Gang 90 de Julio Barroso, certamente foi uma delas). Apesar de ter sido uma banda inserida entre a turma do Pós-Punk, eu me lembro bem que era diferenciada, pois os seus membros eram músicos de alto gabarito musical, e que mesmo a estarem acomodados naquela estética, detinham raízes setentistas de ótimo nível, em meio ao Jazz-Rock, Prog-Rock, Krautrock, música experimental, Jazz etc.
Parecia até contraditório estarem naquela turma, cujo paradigma era o niilismo de caráter revanchista contra os valores setentistas, mas na verdade, eles transitavam sem indisposições com os seus pares, a espelharem-se principalmente no exemplo do King Crimson, então reformulado para atravessar os anos 1980, que se apresentara naquela década, todo "modernoso" e aparentemente a se coadunar com tribos oriundas da mentalidade da estética do Pós-Punk, mas na verdade, eram admiradores de música de qualidade.
Nesse aspecto, as
aparências enganavam e se por um lado eu demorei a perceber tais sutis
diferenças em torno de bandas e músicos nesses termos que eu descrevi acima, ainda
nos 1980 (que fique bem explicado), creio que da parte dele, Barela, também haver a possibilidade de se estabelecer margem para enganos.
Foi o tal negócio: ele deve ter passado a década de oitenta a imaginar que eu gostava do "Iron Maiden", pelas fotos que deve ter visto nas revistas de música da época, e em contrapartida, eu posso ter achado que ele compactuava com aquela visão mais niilista do Pós-Punk, ao estabelecermos um ledo engano de via dupla. Tremendo músico, foi um enorme prazer tocar com ele naquela noite, ainda que através de uma participação curta com apenas duas músicas designadas pelo Ciro para que ele atuasse.
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