sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 215 - Por Luiz Domingues

Chegamos em Blumenau com muita tranquilidade, na tarde do sábado. Esse show seria sui generis para a banda, pois a proposta do contratante era boa, pois seria uma festa a comemorar os dez anos da coluna de um jornalista social local, através do jornal estadual. Jornal de Santa Catarina.
Mas houve um componente exótico nessa história: seria realizado na praça de alimentação de um Shopping da cidade! Qual artista não passou por situações inusitadas no decorrer de sua carreira?

Pois é, a Patrulha do Espaço iria tocar em uma praça de alimentação de Shopping Center, onde naturalmente muitas mesas estariam reservadas para os convidados do colunista, Horácio Braun, mas muito usuários normais do Shopping estariam misturados, e naturalmente que haveria uma sensação de estranheza generalizada.

Outro fator a nos limitar seria a orientação prévia de que deveríamos observar uma disciplina férrea no tocante à dinâmica. Eu toco atualmente (2015), e já toquei anteriormente, em bandas que fazem/faziam dinâmica com muita normalidade, mas a Patrulha do Espaço não tinha essa característica. Banda com volúpia Rocker na tradição de bandas de expressão, do porte como The Who e Led Zeppelin, dinâmica não constava do dicionário da Patrulha do Espaço.
Bem, além do cachê, havia a vantagem da festa ser de um colunista social de prestígio na cidade, mas artisticamente estávamos apreensivos sobre a performance, ao pensar no local inadequado, a questão da dinâmica, e também pelo equipamento que sabíamos de antemão se tratar de um PA muito modesto, adequado apenas para apresentações intimistas de voz & violão, na melhor das hipóteses.

Bem, a hospitalidade estava ótima, e o mínimo que poderíamos fazer seria nos imbuirmos de muita boa vontade e dar o nosso melhor dentro desse cenário não adequado para nós, em respeito ao contratante e de seus convidados.

Sobre o repertório, cogitou-se fazermos algumas concessões e a ideia seria resgatar algumas músicas que tocáramos em formato acústico, em show realizado no Sesc Pinheiros em São Paulo, dois meses antes. De fato, o kit de violões estava conosco na bagagem da viagem, e poderíamos ter feito isso.
Todavia, ponderou-se que nunca mais houvéramos ensaiado músicas com tais arranjos e seria um risco apresentá-las assim, despreparadas. Então, resolvemos fazer o repertório habitual e tentarmos segurar na mão, o ímpeto natural da banda.

Havíamos nos hospedado em um hotel de categoria em Joinville, mas em Blumenau, o contratante não economizou e nos colocou em um hotel cinco estrelas, portanto, o conforto ali foi ainda melhor que o da noite anterior e o relaxamento pré e pós-show foi muito grande para nos dar energia para encerrarmos a turnê no dia seguinte em Florianópolis, e voltarmos para São Paulo, a seguir.

Bem, foi a véspera da final da Copa do Mundo e a cidade estava toda mobilizada para esse jogo que seria transmitido diretamente do Japão, na manhã de domingo.
Tão bonita quanto Joinville, Blumenau também tem traços fortes da cultura germânica. Isso é público e notório, mas constatamos in loco e apreciamos isso. O hotel era muito próximo do referido Shopping, e a caminhada foi prazerosa, mesmo com o frio intenso e outra lembrança que guardo é a do Junior a usar um chapéu alemão típico que comprou no comércio de rua, naquela tarde.
Quando chegamos ao Shopping Neumarket, vimos que ele estava lotado, o que era normal para um sábado a noite, ainda mais em uma cidade interiorana que não prima por ter muitas opções noturnas.

A praça de alimentação estava bem lotada e o jornalista, Horácio confraternizava-se com os seus amigos, quando uma banda de abertura foi se apresentar. Apreciamos o inusitado da situação, pois ao contrário de estarmos habituados a contar com bandas de Rock como abertura de nossos shows, desta feita se tratava de uma banda especializada de folclore germânico, típica, inclusive nos trajes que usavam.
Bem, Blumenau tem uma tradição fortíssima a começar pelo Oktoberfest, uma tradicional festa alemã, portanto, foi mais do que natural, para eles, esse tipo de atração programada.

De nossa parte, gostamos muito da apresentação da banda: "Meiose", com o seu cancioneiro folclórico teutônico e muito agradável. Mas ao mesmo tempo que assistíamos a apresentação desse grupo folclórico, nos preocupávamos, pois o som deles era uma "pluma" perto do nosso, e fora a aceitação deles que era total pela questão cultural da cidade e o nosso, sendo Rock autoral e fora do padrão maisntream, certamente haveria de causar estranheza. Enfim, estávamos na chuva e a melhor coisa seria nos molharmos com dignidade...

Portanto, fomos resignados para a apresentação e para a nossa total surpresa, o nosso set list não causou grande estranheza e pelo contrário, não observamos dispersão constrangedora, tampouco hostilidades. Tocamos com um patamar de volume bastante desagradável, é verdade, mas foi um show até razoável ao se considerar os nossos limites ali observados.

Claro, mesmo com tais condições mais adversas, sempre haviam fãs... eram poucos, mas lá estavam eles munidos de capas de discos em mãos, inclusive o "Chronophagia", que fora o trabalho mais recente da nossa formação, no afã de pedirem-nos autógrafos.  

Fomos dormir satisfeitos com o resultado e o jornalista Horácio, também apreciou a nossa apresentação, quando nos agradeceu por termos feito a apresentação em sua festa.

No hotel, o aquecedor no quarto foi providencial, com aquele frio rigoroso do sul e lembro-me de ter apagado, e só vim a acordar atordoado pelo foguetório, quando o centroavante Ronaldo mandou duas bolas para a rede do goleiro Oliver Kahn. Pior que essa gritaria nas ruas, foi quando o interfone tocou e eu ouvi a voz do Rolando Castello Junior...

Continua... 

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