A negociação para decretar a dissolução da parceria entre a banda e o
sócio/motorista não foi fácil, pois ele endureceu na sua pretensão, ao misturar
as motivações, no sentido de que não foi apenas o dinheiro que lhe interessara.
Realmente, na sua concepção, nós o havíamos "ofendido" por atitudes de "falta de companheirismo" e turrão, foi a se fechar nessa falsa
compreensão dos fatos, e assim levar tal disputa para o lado
pessoal. Aqui cabe destacar que ao não distorcer de forma alguma
os fatos, mas sendo absolutamente realista, o fato é que nada fizemos
para justificar essa interpretação errônea da parte dele, e a relação
azedou sem uma razão concreta para tal.
Todavia, por ter azedado,
tornou-se irreversível pela incompatibilidade total entre as partes,
e assim, não coube uma boa conversa de reconciliação e lavagem de roupa
suja, mas o melhor a ser feito para todos, era desfazer a
sociedade e cada um tocar a vida longe do outro.
De nossa parte, o
ônibus foi um mal necessário, pois não obstante ser um poço de
problemas permanente por conta de sua cara manutenção e a contrastar com a nossa total
inexperiência para lidar com isso, foi também o fator facilitador para
fazermos turnês constantes, um luxo para uma banda que a despeito de sua
dignidade histórica, estava a transitar pelo underground da música.
Por isso, com a
posse do veículo, poderíamos seguir na estratégia das turnês,
a minimizar os custos, algo antes impossível de se obter pelo fato de ter que
incluir o preço altíssimo do aluguel de vans ou micro-ônibus no cachê, e
por conseguinte a afugentar contratantes, como consequência.
Nas primeiras
rondas de negociação, quando percebeu que queríamos o carro a todo
custo, o ex-sócio endureceu e fez de tudo para nos atrapalhar. Pediu um
preço absurdo, mais para sabotar a negociação do que para tentar obter um
lucro real nessa história. Porém nós insistimos, e culminamos em fechar o negócio, mesmo com ele a se contrariar pelo desfecho.
No
dia em selamos o negócio, ele ameaçou cancelar tudo, quando exigimos
que a entrega dos cheques de nossa parte fosse realizada no ambiente de um cartório de
notas, com ele a transferir o documento de posse, de forma oficial para
nós. Ele se irritou, ao alegar que só um louco faria isso, pois o
correto seria quitar o último centavo, para depois efetuar a
transferência. Isso não foi um conceito errado, sob o ponto de visto da
legalidade de uma negócio. Ao considerar que vivemos em um mundo de
golpistas e velhacos por todos os lados, e que ninguém confia em ninguém,
ele tinha razão em sentir-se inseguro com a nossa exigência.
Contudo,
a nossa intenção fora honesta e claro que os cheques seriam honrados. Nem
passava pela nossa imaginação, qualquer outro tipo de atitude do que a da
lisura no compromisso, mas ao ver pelo nosso lado, não foi que
desconfiássemos dele, embora também teríamos o direito de desconfiar,
ao seguir o mesmo raciocínio moral.
Contudo, a nossa real necessidade foi a de que precisávamos do ônibus com
documentação legalizada em nosso nome, urgentemente, para podermos viajar
com tranquilidade, e não corrermos riscos em eventuais blitz nas
estradas, com o documento registrado no nome de uma pessoa que não fazia parte de
nossa comitiva, e todo problema inerente que tal situação poderia gerar e
nos atrapalhar muito.
Foi um clima e tanto, em um cartório
localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Ele
chegou a gesticular e se exaltar, mas não de forma hostil, mas apenas
para demonstrar o seu inconformismo com a nossa posição. Após alguns
minutos e ao ver que eu e Marcello estávamos irredutíveis na condução da
negociação, finalmente ele sentou-se na frente do tabelião, e assinou a
documentação, apanhou os seus cheques e assim, selamos a dissolução da
nossa parceria.
Estávamos felizes pelo desfecho dessa etapa, e
aliviados por termos assegurado o ônibus como patrimônio da banda, mas
sobretudo como alavanca importante de nossa possibilidade para
excursionar.
Nos livrarmos do ex-sócio também foi um alívio, e
aqui cabe dizer que meu objetivo não é demonizá-lo de forma alguma, mas
deixo claro que não foi a pessoa ideal para termos como parceiro e
certamente ele devia achar o mesmo em relação à nós. O primeiro
desafio foi premente... ele viera com o ônibus para a entrega oficial
sendo assim, pegou as suas folhas de cheques e nos deixou os documentos e a
chave do carro...
Nenhum de nós se aventurava a pilotar o carro,
ainda que no meu caso, eu tivesse a licença classe "D", que me permitia dirigir ônibus, mas eu nunca me aventurei a fazer isso. Não tenho experiência alguma com ônibus e caminhões, só conduzo carros de passeio.
Sendo assim,
arrumamos um estacionamento adequado, próximo à casa do Rolando Castello Junior, na
Aclimação, bairro onde eu e o Rodrigo também morávamos, e nesse dia, um
motorista da empresa do pai do Marcello, fez o favor de levar o nosso
carro para lá. No entanto, isso foi apenas um paliativo emergencial. Não
poderíamos contar com esse motorista, mesmo com ele estivesse interessado
pessoalmente, conforme nos confidenciou, mas impedido pelas suas funções na empresa, não poderia
viajar conosco em hipótese alguma.
Arrumamos um lugar para estacionar o
carro, mas precisávamos urgentemente contratar um motorista, e fazer uma
revisão no veículo, que agora estava por nossa conta...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 177 - Por Luiz Domingues
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