segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues

Logo de início, vimos que o ambiente estava tumultuado, por que a sua filhinha, a aparentar ter cerca de quatro ou cinco anos de idade na ocasião, se portava como uma criança incontrolável. 

Pai e mãe levavam um "baile" dela, que não parava de aprontar as suas peraltices. Foi difícil conversar nessas circunstâncias e tudo piorou quando descobrimos que o sujeito era quase surdo total, ao tornar a conversação cansativa por tudo ter de ser feito aos berros, literalmente, para ele compreender o que falávamos.

A esposa dele, muitas vezes fazia a interlocução, por estar acostumada a lidar com o seu marido e ela também era interessada na conversa, pois era assessora de imprensa e trabalhava junto com o marido, na pequena produtora cultural gerida por ambos. 

Eles não sabiam ao certo quem nós éramos, mas como estávamos a atravessar uma fase de franca ascensão, a fazermos shows, com resenhas super positivas a serem publicadas em jornais e revistas importantes, e com duas músicas a tocar na rádio, além de dois vídeoclips assinados por um diretor tarimbado, a atenção de ambos cresceu, naturalmente. 

E havia a perspectiva de um show com caráter internacional em breve, a ser realizado em uma das melhores casas de espetáculos de São Paulo, portanto, logo de início o sujeito percebeu que não tratava-se de uma banda qualquer, sem respaldo algum.

Outro fator, ele passou a falar de seus contatos pessoais e citava a rede do Sesc como o seu grande trunfo, pela qual dizia estar acostumado a vender os seus artistas. 

Bem, entrar nesse circuito de shows sempre foi um desejo nosso, e mesmo que não o conhecêssemos suficientemente bem para assegurarmo-nos de que realmente ele teria esse poder de fogo em mãos, fechamos o negócio, mesmo que apenas verbalmente.

Daí em diante esse sujeito entrou na nossa vida, mas seria por muito pouco tempo. 

Além de surdo, ele desenvolvera uma anomalia vocal, por perder a referência de sua voz. Então, nós tínhamos que berrar com ele para que entendesse o que falávamos, enquanto ele respondia com uma voz fanha, que comia as sílabas das palavras, vez por outra. 

E sem nenhum constrangimento, mesmo com essas dificuldades de dicção e escuta, o sujeito falava pelos cotovelos, era prolixo ao extremo. Não vou revelar o seu nome, para não causar-lhe nenhum constrangimento público, mas doravante nesta narrativa, o chamarei como: "R", a inicial de seu nome.

Continua...

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