Logo de início, vimos que o ambiente estava tumultuado, por que a sua filhinha, a aparentar ter cerca de quatro ou cinco anos de idade na ocasião, se portava como uma criança incontrolável.
Pai e mãe levavam um "baile" dela, que não parava de
aprontar as suas peraltices. Foi difícil conversar nessas circunstâncias e tudo
piorou quando descobrimos que o sujeito era quase surdo total, ao tornar
a conversação cansativa por tudo ter de ser feito aos berros,
literalmente, para ele compreender o que falávamos.
Eles não sabiam ao certo quem nós éramos, mas como estávamos a atravessar uma fase de franca ascensão, a fazermos shows, com resenhas super positivas a serem publicadas em jornais e revistas importantes, e com duas músicas a tocar na rádio, além de dois vídeoclips assinados por um diretor tarimbado, a atenção de ambos cresceu, naturalmente.
E
havia a perspectiva de um show com caráter internacional em breve, a ser realizado
em uma das melhores casas de espetáculos de São Paulo, portanto, logo de
início o sujeito percebeu que não tratava-se de uma banda qualquer, sem
respaldo algum.
Outro fator, ele passou a falar de seus contatos pessoais e citava a rede do Sesc como o seu grande trunfo, pela qual dizia estar acostumado a vender os seus artistas.
Bem, entrar nesse circuito de
shows sempre foi um desejo nosso, e mesmo que não o conhecêssemos suficientemente bem
para assegurarmo-nos de que realmente ele teria esse poder de fogo em mãos,
fechamos o negócio, mesmo que apenas verbalmente.
Daí em diante esse
sujeito entrou na nossa vida, mas seria por muito pouco tempo.
Além de surdo, ele desenvolvera uma anomalia vocal, por perder a referência de sua voz. Então, nós tínhamos que berrar com ele para que entendesse o que falávamos, enquanto ele respondia com uma voz fanha, que comia as sílabas das palavras, vez por outra.
E sem nenhum constrangimento, mesmo com essas dificuldades de dicção e escuta, o sujeito falava pelos cotovelos, era prolixo ao extremo. Não vou revelar o seu nome, para não causar-lhe nenhum constrangimento público, mas doravante nesta narrativa, o chamarei como: "R", a inicial de seu nome.
Continua...
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