sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 204 - Por Luiz Domingues

Em uma outra ação muito bem-vinda da produtora musical, Sarah Reichdan, tivemos a proposta para cumprir uma temporada em uma casa noturna, mas sob uma condição estranha. 

Em resumo: temporada denotaria uma continuidade de shows em progressão diária, normalmente, mas a proposta foi outra nesse caso. Sarah havia fechado cinco shows a serem cumpridos no mês de maio, toda quinta, através de uma casa noturna chamada: "Venice", localizada no boêmio bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo.  

Mais parecia a sistemática de um "Stand Up Comedy", que trabalha com esse tipo de agendamento em casas noturnas, mas para artistas da música não foi uma prática muito usual.  Ficamos contentes com o agendamento, é claro. Cinco shows no mesmo local, ainda que espaçados e diluídos em trinta dias, quase caracterizava uma mini temporada, mas ao mesmo tempo, ficamos muito ressabiados.

Isso por que a tradição desse tipo de dinâmica para uma banda de Rock, não era usual só para a nossa percepção, mas tínhamos dúvidas se o público entenderia tal predisposição em ver a banda bater ponto através de uma mesma casa noturna, de forma fixa, em um específico dia da semana, por cinco semanas consecutivas.

Aí, entraria aquela estratégia que era comum nas décadas de sessenta e setenta e que não existia mais, apesar do Rolando Castello Junior insistir nela, que baseava-se na repetição e na crescente audiência gerada pela formação de opinião. Naquelas décadas, o público tendia a ver o mesmo show várias vezes e tal movimentação ia a agregar progressivamente novos curiosos motivados pela propaganda espontânea gerada pelo "boca-a-boca", a tal da "formação de opinião".
O Junior ainda acreditava piamente nessa estratégia, mas eu não, e realmente preocupou-me essa temporada movida a conta-gotas que a Sarah fechou para nós.

É bem verdade que houve uma atenuante nessa história, pois a Sarah astutamente fechou os cinco shows com um cachê fixo, e sob um valor digno para os padrões da época. Isso foi um bálsamo de tranquilidade, mas sabíamos que se nos primeiros shows não houvesse um público razoável, teríamos problemas, pois contrato assinado não era garantia de que a casa cumpriria a sua palavra em uma situação adversa, como é bem comum em casas noturnas, lamentavelmente. Então fizemos a nossa parte e trabalhamos em uma divulgação a enfatizara  essa continuidade de shows a marcar ponto toda quinta-feira etc. e tal.
No dia do primeiro show, montamos o nosso equipamento e fomos fazer o soundcheck no período vespertino, quando o técnico de som da casa nos falou educadamente, mas de forma enfática, que teríamos que tocar sob um volume muito baixo, pois a casa estava com problemas com a vizinhança, e sendo vigiada e ameaçada pelos fiscais do "Psiu", um órgão ligado à prefeitura de São Paulo, e que controla o nível de ruído nas casas noturnas da cidade.

Isso era (é) comum na noite paulistana. Não há casa noturna que não seja incomodada pela fiscalização do "Psiu". Todavia, nos causou espécie tal afirmação, pois aquela casa noturna em específico, era vizinha de um sem número de outros estabelecimentos noturnos, aliás, uma marca registrada daquele bairro que tem fama boêmia justamente por abrigar uma quantidade absurda de bares e casas de espetáculos, e muitas, com música ao vivo.

Outro fator a desabonar a alegação estranha do rapaz, foi a de que na noite anterior, houveram se apresentado duas bandas no mesmo espaço. Uma era declaradamente orientada pelo Heavy-Metal e a outra, pela estética do Punk-Rock. Ora, teriam esses artistas tocado baixo, diante da obviedade de professarem estilos absurdamente barulhentos por natureza? Conhece alguma banda de Heavy-Metal ou Punk que faça dinâmica na performance, amigo leitor? Bem, eram obviamente duas contradições e o sinal amarelo acendeu imediatamente para nós.
Tudo bem que a foto promocional da banda era inadequada na tipologia da diagramação desse jornal acima (Jornal Agora). Mas descrever Rodrigo e Marcello como "integrantes do conjunto", no mínimo denotou a preguiça acentuada do jornalista que preparou a nota. E a manchete em si... para que dizer: "Rock do passado?" Foi a nítida vontade para nos estigmatizar com desdém. Bem, melhor ter a divulgação, mesmo com falhas assim, digamos, desrespeitosas, que nada, como se diz por aí...

Continua...  

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