quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 174 - Por Luiz Domingues

Ninguém, absolutamente ninguém olhava para nós, e a quadra estava repleta de estudantes. Já havíamos enfrentado situações adversas anteriormente, portanto aquela reação não derrubar-nos-ia de forma alguma, mas foi algo totalmente bizarro para uma banda autoral com a tradição e história que a Patrulha do Espaço ostentava. 

E tanto não nos abalou que estávamos a rir da situação, ao emendar uma piada atrás da outra, o que me fez lembrar até dos tempos do Pitbulls on Crack, quando de fato, aquela fora uma banda de piadistas, como eu já contei em seu respectivo capítulo. 

Começamos a tocar a nossa primeira música e sob um patamar de volume que não permitia que fôssemos ignorados, e o fato foi que ninguém nos olhava, o que provocava ainda mais risos de nossa parte. Foi uma situação tão inusitada que nem cogitamos ser algum tipo de desdém por parte daqueles jovens, tampouco uma espécie de bullying coletivo (naquela época ainda não existia o conceito do Flash Mob de internet).

Foi simplesmente uma reação de profundo desinteresse, e digo profundo, por que nem os incomodávamos, apesar do volume e da nossa pegada Rocker. Foi uma das reações mais estranhas que constatei em toda a minha carreira. Inexplicável a grosso modo, jamais esquecer-me-ei desse dia, justamente por ter sido algo intrigante e inusitado. E ainda haveria um requinte nessa história! 

O verdadeiro clímax ocorreu poucos minutos depois, quando ainda estávamos nas primeiras músicas do show, pois um alarme estridente soou no pátio e um aluno veterano com um megafone em mãos anunciou que começariam os "trotes", e quem ali desejasse se submeter à essa prática, deveria ir imediatamente à outra ala da universidade. 

Como um enxame de abelhas ensandecidas, todos saíram a correr atrás desse idiota, como cordeiros obedientes. Acho que eu nunca houvera visto uma demonstração de subserviência tão grande da parte de uma coletividade, acho que nem mesmo da parte do comportamento de torcidas uniformizadas em estádios de futebol.

Enfim, foi muito curioso ver a quadra a se esvaziar completamente, e assim deixar-nos a sós, em meio à um show de Rock em pleno curso.
Atônitos, mas de forma alguma a nos sentir ofendidos com tal reação, sinalizamos aos contratantes do Diretório Acadêmico no sentido de perguntar-lhes se deveríamos encerrar imediatamente a performance, diante de tal quadro.

Pelo contrário, eles nos disseram para prosseguir até o final, normalmente e então ficaram a nos ver a tocar, aquela meia dúzia de jovens contratantes. Entre nós, as únicas reclamações foram por conta do equipamento todo improvisado do PA e o horário insalubre, No mais, estávamos a sermos pagos para ensaiar, e de uma certa maneira, o sacrifício valeria a pena para manter a banda em forma, visto que voltaríamos a excursionar pelo interior de São Paulo, em breve. Dessa forma, fomos até o fim do show, com toda a dignidade e ao encerrarmos, tivemos uma surpresa ainda mais inesperada, mas não posso afirmar que fosse desagradável.
Continua...

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