domingo, 25 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 207 - Por Luiz Domingues

Após o show realizado do Sesc Ipiranga que foi um sucesso, teríamos alguns dias sem compromissos antes da próxima etapa da turnê pelo sul. Aproveitamos para solucionar enfim a questão do estacionamento do ônibus, e reiniciamos os esforços para dar andamento no material com seis músicas inéditas que graváramos em 2001, e estavam engavetadas desde então.
Sobre o estacionamento do ônibus, já havíamos sido convidados a deixar dois estacionamentos que haviam sido vendidos para a inevitável sanha da especulação imobiliária e nesse terceiro que havíamos nos estabilizado, o gerente havia nos dito que ficássemos tranquilos, por que o estacionamento não estava a ser pressionado por incorporadoras.

Mas não passara nem pouco tempo e o quadro mudou, como imaginávamos dada a quantidade de grandes pátios a serem cooptadas para a construção das torres residenciais e comerciais, a acelerar o processo de verticalização do bairro.

Chateados por mais essa repetição de um problema recorrente, passamos a procurar, já a nos acostumar com a ideia de ter que buscarmos em bairros vizinhos, visto que as opções estavam escassas para o nosso bairro, a Aclimação. 

Nessa dinâmica, em meio a tal busca, encontramos um estacionamento gigantesco situado no bairro do Cambuci, vizinho. Era especializado em caminhões e ônibus, sendo administrados por dois irmãos mal saídos da adolescência, mas de bom nível cultural, estudantes universitários. Se tratava do negócio da família, ou um dos, pois demonstravam terem posses e o pai de ambos delegou-lhes tal tarefa. Foi combinado um preço razoável, dentro da normalidade do mercado e assim o negócio foi fechado e ali naquele galpão imenso, coberto e com feição de pátio da "velha guarda" dos anos trinta (devia ser mesmo dessa época, pelo seu visual arquitetônico), o nosso bólido alojou-se definitivamente.

Sobre o tape que graváramos com seis músicas no estúdio Sonarte em 2001 (e curiosamente, sendo tal estúdio localizado muito próximo desse estacionamento citado acima), começamos a ver uma luz ao final do túnel, quando nos lembramos que um produtor teatral que conhecêramos em 2001, havia mencionado que era proprietário de um estúdio profissional, ainda que mais dedicado a atender uma clientela ligada no universo da música Gospel evangélica.

Mesmo ao pairar a dúvida sobre a intenção de só atenderem a demanda de artistas religiosos, não custava nada ir lá perguntar e nessa altura, estavam a rarear os estúdios que ainda detinham máquinas analógicas de gravação e se demorássemos mais um pouco, correríamos o risco de até perder toda a gravação, ainda armazenada com uma jurássica fita de duas polegadas, em pleno século XXI em curso...
O tal proprietário se chamava, Paulo, e era dono do Teatro Dias Gomes, na Vila Mariana, onde nos apresentáramos em 2001, em duas ocasiões.

Ele acumulava a função de pastor evangélico, em uma congregação por ele mesmo fundada e em anexo ao seu templo, era dono de um estúdio de gravação profissional, cuja clientela alvo eram artistas do espectro do universo da música Gospel, ou seja, a dita música evangélica. Tal filão era sólido como nicho de mercado e em franca expansão, ao contrário da música dita "secular", como eles mesmos se referiam à produção artística não religiosa.

Fizemos o contato com o produtor teatral, Paulo, e ele disse que não era regra dele só atender artistas que praticavam música religiosa, absolutamente. Era a sua maior clientela, mas o estúdio estava aberto para qualquer artista, sem preconceitos ou sectarismo. Ele nos convidou a conhecer as suas instalações, e então, sem compromisso, assim o fizemos na tarde de um dia útil de junho de 2002.
Ficava localizado em uma travessa da Avenida Bosque da Saúde, no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo. Era uma construção ampla, que devia ter sido residencial anteriormente, mas sofrera mudanças, pois estava toda adaptada para atuar como um templo evangélico, e mediante um anexo suspenso, estava montado o estúdio.

Gostamos do estúdio, apresentado pelo técnico contratado que era falante ao extremo, mas foi solícito conosco. Claro, a sua demonstração de áudio foi em torno das produções em que estava acostumado a trabalhar e tivemos uma demonstração baseada em bandas e cantores gospel naquele instante, com o rapaz que também era evangélico, a empolgar-se na sua exposição, a enaltecer aqueles artistas em demasia, que eram famosos, mas apenas dentro desse universo religioso.

Bem, com uma próxima etapa de turnê a se aproximar, reuníamos condições de fechar negócio com o estúdio e assim, uma perspectiva concreta de mixarmos aquele trabalho gravado um ano antes, surgiu, para abrir caminho para um novo álbum de inéditas a ser lançado pela nossa banda.
Continua...   

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