Enfim, ao se gostar ou não do nosso ônibus velho, foi tal bólido que garantira a sua volta à São Paulo.
Fizemos o soundcheck com tranquilidade nas dependências do ginásio de esportes do Sesc Bauru e enquanto eu passava aqueles momentos vespertinos ali, claro que fiz a minha reflexão pessoal sobre a longa trajetória pessoal que eu tivera, desde que ali mesmo me apresentara no então já longínquo maio de 1980, quando ali me apresentei com o Língua de Trapo, que dava por sua vez, os seus primeiros passos na carreira, ao concorrer em um festival universitário local. Bem, claro que tudo isso foi uma conjectura que durou poucos segundos, pois eu estava ali com outros propósitos e não para estabelecer uma visita afetiva e nostálgica.
De volta ao hotel, o relaxamento foi bom após uma viagem cansativa e sob aquele intenso calor interiorano. Lembro-me do Andreas Kisser a surtar no saguão do estabelecimento, mas no bom sentido, quando em meio a uma conversa sobre futebol, ficou eufórico ao exaltar o seu clube do coração, e assim, aos berros, ele lançou odes ao São Paulo FC, fanático torcedor que é daquele clube da Vila Leonor.
Nos reunimos para voltarmos ao Sesc, e dentro da van a descontração e camaradagem entre todos ali presentes, foi total.
Sim, apesar dele estar nesse espetáculo apenas como convidado especial, e não haver nenhuma menção de que se tocariam músicas do "Sepultura", o seu nome com apelo internacional no mundo do Heavy-Metal, despertava comoção, naturalmente. E assim ocorreu...
Quando passamos pelo séquito de fãs, estes separados pela ação dos seguranças, houve comoção total e vimos uma menina a passar mal de tão emocionada que ficou, ao ser acometida por uma crise nervosa a conter choro compulsivo, e assim, vir a desmaiar. Claro que foi socorrida prontamente pelos seguranças do Sesc e nada de mais grave lhe aconteceu, mas foi até chocante ver essa cena in loco.
Bem, assim como no show que fizéramos com a sua participação em janeiro no Sesc Pompeia, eu nutri preocupação em verificar a presença de tantos fãs do Sepultura presentes só para prestigiar o Andreas, e que fatalmente frustrar-se-iam ao constatarem que não tocaríamos nenhuma música de sua banda.
Mas durante o show, nada ocorreu que denotasse tal insatisfação de seu público em específico. Foi um show normal, um pouco reduzido, porém, para dar espaço ao Tutti-Frutti. Ao final, repetimos a dinâmica apresentada em janeiro, e as duas bandas e seus respectivos convidados, subiram ao palco para um número final. Foi uma boa noitada para as duas bandas e os seus convidados, com o público a responder bem.
Aconteceu no dia 15 de março de 2002, com público estimado de mil e quinhentas pessoas presentes, segundo informação do Sesc, passada à produtora Sarah Reichdan.
Nos despedimos de Sarah, Andreas, e Bocato que voltaram para São Paulo imediatamente após o término do espetáculo e fomos para o hotel repousar.
Nem todos no entanto, pois alguns foram aproveitar a noitada de Bauru, em uma casa noturna local. Claro, eu preferi o silêncio monástico do quarto do hotel.
No dia seguinte, bem cedo, fui ao saguão do hotel para tomar o café da manhã e lá encontrei-me com Luiz Carlini e Rufino Lomba, que também buscavam o mesmo objetivo. Na mesa do café, Carlini recordou-se das muitas vezes em que se hospedara naquele mesmo hotel em ocasiões anteriores, para tocar com o Tutti-Frutti ou mesmo para acompanhar medalhões da música mainstream, como Guilherme Arantes e Erasmo Carlos. Foi portanto, um café recheado por histórias saborosas do Rock brasileiro de outrora.
Estava tudo tranquilo e chegara a hora, pois fomos para a estrada com o objetivo de voltarmos para São Paulo.
Sob o clássico calor tórrido do interior paulista, iniciamos a viagem de volta e o clima no nosso bólido, o "azulão," foi o melhor possível.
Somente o "seu" Walter guardava para si a adversidade adquirida com uma pessoa ligada à comitiva do Tutti-Frutti. Quando essa pessoa entrou no ônibus, ele rapidamente procurou-me visualmente pelo retrvisor e deu aquela piscada de olhos com ar de deboche, para me fazer relembrar de sua bronca e eu ri, internamente, é claro...
Paramos exatamente nesse posto da foto, pertencente à Rede Rodoserv, na estrada Castelo Branco, cerca de 50 Km antes de Sorocaba, no sentido São Paulo, Capital
Por meio de uma parada no meio do caminho para nos refrescarmos em um desses super postos luxuosos e caríssimos de beira de estrada, nós conseguimos amenizar um pouco do calor tórrido que nos atormentava. A tal pessoa que criticara o nosso carro velho, estava esbaforida e teve razão por lamentar não ter voltado para São Paulo naquela van com ar condicionado glacial que a levara para Bauru no dia anterior.
Paramos em um outro posto adiante, para estabelecermos uma outra sessão de refresco geral, quando um pequeno fenômeno natural aconteceu entre nós e foi registrado em vídeo pelo Rodrigo. Um mini tornado levantou muita poeira do chão e ficou a nos circundar de uma forma engraçada.
O fato desagradável de se assistir esse vídeo nos dias atuais, é que dois membros do Tutti-Frutti que ali estavam a rir e brincar conosco, já não estão mais entre nós. Os saudosos Rufino, baixista e o tecladista, Rona.
Mas, mesmo com essa constatação triste, um dia essas imagens vão para o YouTube, com certeza.
Deixamos a comitiva do Tutti-Frutti na porta da residência do Carlini, na Vila Pompeia, e de lá, deixamos o nosso backline na minha residência na Aclimação, para a seguir, levarmos o ônibus para uma oficina de tapeçaria automotiva.
Já estava programado que deixaríamos o ônibus lá nessa oficina, após a volta de Bauru e que por alguns dias ele permaneceria em suas dependências para receber várias benfeitorias no seu acabamento interno.
E assim foi que ocorreu.
Teríamos um pequeno hiato de shows doravante e o nosso próximo compromisso ocorreria apenas no início de abril, na unidade do Sesc Pinheiros, no bairro homônimo, em São Paulo.
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