Quando o show da banda "Senhor X" encerrou-se, lembro-me que estávamos
mais relaxados no camarim. O pior parecia já ter passado, com tudo o que
vivenciamos de ruim naquele sábado, desde a tragédia em Ribeirão Preto,
a angústia para chegar a tempo em São Carlos e o susto que tivéramos
com o Marcello a se acidentar, em princípio a aparentar gravidade no ocorrido, conforme eu já relatei.
O hematoma
ficara muito feio, mas ele dizia que tocaria assim mesmo, ainda que a sentir fortes dores, e claro que a sua coragem foi enorme nessa circunstância. Os
membros do "Senhor X" chegaram ao camarim e eu cumprimentei a sua ótima
vocalista, Carla Viana e o guitarrista da banda. Eu os incentivei a
tocarem mais músicas autorais em uma eventual nova oportunidade.
A banda
era (é) ótima, mas eu fiquei frustrado em verificar que só tocaram cover sob orientação classic Rock. Muitíssimo bem, por sinal, mas uma banda boa daquelas
precisava estar a abrilhantar a cena autoral do Rock, e não a tocar
músicas do Black Sabbath, Jethro Tull, Led Zeppelin e outras bandas do
gênero, por mais agradável que isso soasse aos meus ouvidos sessenta-setentistas.
Foi a nossa hora de irmos para o palco e sem outra maneira
reservada, fomos pela beirada do ginásio, até a escada de acesso ao
palco, do outro lado, a passar pelo público, infelizmente.
Nem eu, nem ninguém se incomodou de deixar as nossas
malas de viagem no camarim, apesar dele ser aberto, improvisado como a
uma tenda. Certamente que o Sesc providenciaria uma segurança
monitorada etc. e tal. Ninguém questionou sobre isso, mas pareceu ser algo implícito que teríamos segurança, com o nosso camarim vigiado.
Lembro-me
que quando estava a um passo de subir ao palco, a vocalista, Carla Viana,
estava perto de mim e desejou-me boa sorte. Ouvi o apresentador do
evento falar algumas palavras com o público e nos anunciar como
locutores de pugilismo, com aquela ênfase clichê, e de certa forma
engraçada.
Quando eu dei um passo para o palco, vi que o cabo do meu
baixo, que estava ligado no direct box do amplificador, desconectou-se
acidentalmente, e quando fui reconectá-lo, ele pareceu ter se rompido no
plug. Naquela fração de segundos, não dava nem para avisar o roadie, e o
Junior já sinalizava iniciar a contagem da primeira música.
Fui
para o palco já a imaginar a banda a começar e sem o som do baixo, com
um tumulto a ser deflagrado e ao criar assim, um anticlímax, para quebrar o
impacto inicial do show, que é sempre importante para um show de Rock, e
não seria diferente para nós.
Mas mediante um ímpeto de minha parte, eu puxei e reinseri o plug e o som reapareceu. Ninguém
percebeu tal momento de angústia, e no tempo forte do primeiro compasso da música: "Não Tenha
Medo", eu estava lá no palco tocar a frase costumeira..."sol - la - do"...
Ninguém
percebeu que quase deu pane e seria mais um desastre a ser
contabilizado para essa etapa da turnê já caracterizada pelo azar absoluto. O
show foi energético, no entanto. Com som e iluminação de qualidade, palco
grande, cerca de duas mil pessoas na plateia e com a performance tranquila,
demos o recado da Patrulha do Espaço como se deve, e naqueles noventa minutos e nada de
errado mais aconteceu, ao dar-nos a falsa impressão de que a onda de azar
houvera cessado.
Até o nosso maior temor, que foi o Marcello não
conseguir tocar adequadamente, não se confirmou. Ele sentia dores, é
claro, mas tocou com o seu brilhantismo habitual. Mas infelizmente, desastres ainda aconteceriam!
Terminamos
o show em grande estilo, com ovação da plateia e volta ao palco para
bis. Tudo parecia ter voltado ao normal, enfim. Saímos do palco
e a lateral estava cheia de fãs a pleitear autógrafos e tirar fotos conosco.
Nesses momentos, tendemos a nos distrair uns dos outros e ao atendermos os
fãs, notei que apenas o Rodrigo estava próximo de mim, também a atender fãs,
quando ouço a voz do Rolando Castello Junior no PA.
Ele estava aos prantos, ao parecer estar muito
nervoso e chamava pela ajuda dos responsáveis pelo Sesc e imediata
presença da Polícia Militar! Os seus berros nervosos, estavam
confusos e claro que o meu coração acelerou e ao pedir licença às
pessoas que atendia, fui imediatamente ao camarim para ver o que estava
a ocorrer e aí...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 188 - Por Luiz Domingues
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