sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 210 - Por Luiz Domingues

Relembramos de imediato o fantasma da etapa "azarada" da turnê, quando tudo dera errado sob uma sucessão de desgraças que nos acometera em fevereiro daquele mesmo ano, ao viajarmos para três cidades interioranas paulistas.

Feita a constatação sobre o estrago, e no meio da estrada, o "seu" Walter conseguiu ao menos nos tirar do perigoso acostamento e a conseguir engatar a primeira marcha, nos advertiu que não dava para chegar à terceira e quarta marchas. Portanto, a rodarmos só com a segunda marcha, portanto ainda mais lento que o máximo que conseguíamos e que já era pouco, foi muito perigoso com aqueles caminhoneiros e outros ônibus mais modernos, a passarem por nós a voar por nós.

Para agravar, houve neblina e o frio que estava de rachar. Mesmo assim, ele conseguiu nos levar até a segurança de um posto de combustíveis a se mostrar razoável em suas instalações, onde outros caminhoneiros já haviam parado para dormir, também. Nesses termos, demos muita sorte, pois os frentistas do posto nos disseram que havia uma mecânica, localizada cerca de três Km dali, em uma pequena vila que ainda pertencia à Passo Fundo.

Mas claro, quase onze da noite de domingo, ela estava fechada. A única solução foi dormir para na manhã de segunda, um pouco antes das 8:00 horas da manhã, estarmos com o ônibus na porta, e torcer para que eles tivessem a peça em seu estoque, e aí, sabíamos bem como funcionava um comércio remoto de beira de estrada etc. e tal.

Bem, dormir no ônibus não foi lá muito confortável, mas também não era insuportável. Dava para aguentar uma noite ali nos bancos. Mas o grande problema foi o frio. Com a madrugada a avançar, o frio se colocou a se intensificar muito. Cada um de nós tratou de se agasalhar o melhor possível, mas mesmo que contássemos com cobertores, que havíamos levado por precaução, estes se mostraram insuficientes para um frio de padrão europeu e com a agravante da umidade. Em suma, passamos muito frio naquela madrugada, e essa foi uma lembrança que marcou. Há até um vídeo curto, mas significativo, que o Rodrigo gravou com a sua câmera mini-vhs, onde em um momento em que todos dormiam e só ele estava acordado, registrou-se a situação, inclusive a mostrar o gelo nas janelas do ônibus, causado pela forte geada.

Acordamos e a aproveitarmos a facilidade do posto, fomos à lanchonete para tomar um café da manhã às 6:00 horas da manhã. O frio era tanto, que batíamos os dentes, literalmente, quando tentávamos formular pedidos ao funcionário do balcão. 

Naquela mesma estratégia de primeira e segunda marcha apenas, rodamos até a tal mecânica no vilarejo e tivemos que esperar o dono chegar. Quando abriu a loja e ouviu a nossa queixa, tranquilizou-nos, pois tinha a peça nova em folha à disposição, mas claro, alertou-nos que a instalação demoraria um pouco, pela obviedade de ser uma operação mecânica relativamente trabalhosa. Isso já esperávamos, alertados pelo "seu" Walter. 

E ante essa morosa operação, verificamos que as ruas no entorno dessa oficina, continham um cascalho mesclado à centenas de pedras, obviamente não preciosas, mas de uma beleza incrível e muito usadas para artesanato, sob múltiplas formas. 

Falamos com os mecânicos da oficina e eles disseram que aquilo era da natureza local e que muita gente vinha de fora para apanhá-las. Eram tantas que eles não demonstravam nenhum interesse em preservá-las para si e dessa forma, enchemos vários sacos com centenas delas e rateamos entre nós na volta à São Paulo. Fiquei com algumas e distribuí à vontade para parentes e amigos. Limpas e polidas, tinham aspecto muito bonito.

Ao caminhar até uma banca de jornais vi a manchete no jornal "Zero Hora", o maior do Rio Grande do Sul: "Região de Passo Fundo registrou temperatura de -5º nesta madrugada... esteve explicado o frio que passamos dentro do ônibus!

Por volta das 10:00 horas da manhã, o dono do estabelecimento anunciou a conclusão da instalação da peça. Pagamos e claro que foi caro pelas circunstâncias todas.
Seguimos viagem enfim, com o "seu" Walter a se regozijar por que doravante, o "Azulão" estava com o câmbio a parecer com uma "manteiga", de tão leve que estava para passar a marcha.

Para amenizar um pouco a situação que nos cansara, certamente, arrancou-nos risadas até Porto Alegre, quando dirigiu eufórico com o câmbio "amanteigado" e berrava: -"Sai da frente que o azulão está com câmbio novo... ninguém segura o azulão"...

Chegamos em Porto Alegre no início da tarde e sem maiores problemas, ainda dentro do cronograma da turnê. Tínhamos um compromisso de TV, na TVE gaúcha, e um pouco adiantados para tal, deu para parar no hotel e descarregar a nossa bagagem pessoal e tomar um banho antes de irmos ao estúdio da emissora.
                  O ótimo guitarrista gaúcho, Evandro Demari

Nos encontramos no caminho com o guitarrista, Evandro Demari, que na excursão de janeiro, nos hospedara no sítio de sua propriedade nos arredores de Bento Gonçalves-RS. Ele nos acompanhou nessa incursão na TV, mas só como amigo, sem participar a tocar.

Na TV, fomos muito bem recebidos pela sua produção. Participaríamos de uma revista cultural vespertina, onde concederíamos entrevista e tocaríamos duas músicas ao vivo.
Montamos o nosso equipamento, e fizemos o primeiro bloco com entrevista. 

Havia um grupo de "rap" paulistano que apresentar-se-ia na mesma noite em Porto Alegre, e que esperava a vez de se apresentar também na TV. Não me lembro de seu nome, mas recordo que era enorme, com muitos componentes e estes ficaram a nos assistir e em um dado momento, o apresentador os inseriu na conversa e eles foram respeitosos, ao nos saudar com respeito, e obviamente que nós retribuímos na mesma gentileza.

Esses rapazes disseram serem oriundos de algum bairro da zona norte de São Paulo, Santana ou Mandaqui, talvez, mas sinceramente não me recordo exatamente. Fomos convidados a tocar, então, ao irmos para um palco montado em um outro lado do cenário, ao me fazer lembrar de programas como o de Jools Holland, da TV Britânica, com esse tipo de dispositivo de estúdio grande e vários artistas preparados para se apresentarem em palcos diferentes.

Tocamos as músicas: "Ser" e "Homem Carbono". Quando tocamos, "Homem Carbono", um acidente terrível, cenicamente a falar, ocorreu!

O suporte do teclado que o Rodrigo usou para tocar, cedeu e bem na hora do refrão, com ele em destaque a ser filmado por um cinegrafista móvel! Lembro do barulho do piano a cair no chão, mesclado ao acorde involuntário de sua mão ao tentar salvá-lo no reflexo, e simultâneo ao seu esforço em não perder a linha e continuar a cantar com intensidade e interpretação. 

Foi tragicômico, mas ao mesmo tempo, eu louvei a intenção dele em tentar manter a postura artística, apesar do desastre. Claro que rimos da situação depois, mas na hora sobrou bronca para um dos roadies que não apertara o suficiente os parafusos do suporte.

Voltamos ao hotel a lamentar o ocorrido, mas ao mesmo tempo contentes, pois a despeito desse acidente, a aparição fora muito boa no cômputo geral e o programa passava ao vivo para todo o estado do Rio Grande do Sul. 

Depois disso, foi a hora de irmos para o show...

Continua...

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