Estávamos extenuados e abalados psicologicamente pelo fato de termos suportado tantas adversidades nesses dias, e as palavras proferidas pelo "seu Wagner", soaram como um bálsamo naquele instante. Ninguém lhe respondeu, pelo menos verbalmente, pois a resposta veio com a atitude quase ensaiada de todos, com cada um a buscar se ajeitar individualmente nas poltronas do ônibus, em silêncio profundo. Porém, mais uma desgraça estava por vir.
Acordei
por volta de seis e meia da manhã, com um forte estampido, semelhante a um tiro de rifle, e claro que saí de imediato da
poltrona. Naquela fração de segundos, demorei um pouco para entender o
que havia ocorrido, porém, a voz do "seu" Wagner esclareceu tudo, de forma
prosaica, pausada e resignada: -"estourou um pneu"...
Apesar de estarmos sob uma velocidade razoável, tal ocorrência assustou mais pelo som desferido, pois o "seu" Wagner assegurou-nos uma condução tranquila até o acostamento. Bem, estourar um pneu não é o pior problema o mundo para ninguém, teoricamente. Troca-se rapidamente e por prudência se procura o borracheiro mais próximo, para efetuar o reparo e recolocá-lo, e assim providenciar a volta do estepe para o bagageiro.
Entretanto, um pneu de ônibus e/ou caminhão não é tão fácil de
consertar ou repor na estrada, como ingenuamente achávamos nós que nunca
fomos caminhoneiros. No primeiro posto onde paramos, não
conseguimos êxito e no segundo, o borracheiro nos informou que o pneu em
questão não suportaria um conserto e pior, o estepe estava nas mesmas
condições. Sem um pneu melhor para nos vender, ficou aquele
impasse insuportável para ser resolvido. O borracheiro sensibilizou-se
com o nosso caso e ofereceu-se a nos levar de carro até a cidade de
Taquaritinga-SP, cerca de oito kilômetros de onde estávamos e nos conduzir para uma concessionária, para comprarmos dois pneus novos ou seminovos.
Voluntariei-me para tal missão e junto com "seu" Wagner, fomos juntos nessa missão, por volta de sete horas da manhã. O cansaço e a contrariedade por estarmos a passar por mais essa adversidade, foi gigantesco. Porém, alguém precisava tomar a providência e lá fui eu, novamente. De fato, nesses três dias, eu fui o bombeiro da maioria das ocorrências e não foram poucas, devo acrescentar, conforme o leitor já notou.
Ao chegarmos
na cidade de Taquaritinga, ainda tivemos que esperar a loja abrir, e o meu semblante a denunciar a completa insatisfação por estar ali nessas circunstâncias deve ter sido gritante,
acredito.
Bem, fizemos a compra e retornamos ao posto da estrada.
Passou mais um bom tempo para efetuar a troca, e finalmente voltamos para a
estrada, com a viagem de retorno para São Paulo, a prosseguir. Claro
que o clima ficou pesado no âmago da nossa banda. Foram muitas as adversidades e para piorar
tudo, tivemos gastos monetários imprevistos, no entanto, seria melhor nos acostumarmos
com essa dinâmica: ter um ônibus próprio, demandava gastos com
manutenção, constantes. Chegamos em São Paulo fatigados e
chateados, mas a vida teria que prosseguir. Desde o começo das
atividades da banda, essa fora sem dúvida, a pior etapa da turnê, mas não havia
sentido em se lamentar, pois teríamos novos compromissos em breve, e não seria
oportuno abaixar a guarda.
Independente de tudo o que ocorrera
nesses três dias, o "seu" Wagner estava aprovadíssimo como
motorista & mecânico, e estávamos felizes por ele ter minimizado a situação, pois nas mãos do motorista anterior, teria sido muito pior, visto que
não aquele rapaz não continha os mesmos atributos e a vivência de estrada do "seu"
Wagner.
O próximo show seria em Osasco-SP, na Grande São Paulo,
portanto sem o uso do ônibus, contudo, uma nova investida no interior de São
Paulo, já estava marcada para a semana subsequente.
E assim,
encerrou-se a "fase do azar", com os três shows em Ribeirão Preto, São
Carlos e Mirassol, em 22, 23 e 24 de fevereiro de 2002, respectivamente.
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