segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 183 - Por Luiz Domingues

Enfim, constatações à parte, foi só um lamento e a direção artística de uma outra banda da qual eu não era componente, não era da minha competência, naturalmente. 

A casa estava abarrotada, apesar da precariedade de suas condições técnicas de som e iluminação e o show prometia pela grande audiência presente. Contudo, observador que eu era (sou), percebi que a despeito de haver no ambiente um bom contingente de Rockers e nitidamente alguns fãs da Patrulha do Espaço presentes, com discos de vinil em mãos para posterior abordagem e pedido de autógrafos, o clima reinante no ambiente pareceu ser um pouco blasé.

O "Homem com Asas" tocava sons incríveis que somente ouvidos Rockers mais refinados conseguiam identificar, e isso denotara que a maioria no ambiente não detinha esse refinamento de conhecimento, ao se considerar estarem alheios à ótima performance da banda. Foi um indício de que não seria mesmo o público mais adequado para uma banda autoral, com as nossas características.

Quando começamos o nosso show, de fato, tirante os Rockers mais antenados e os fãs confessos da Patrulha do Espaço, o clima foi blasé na maior parte do nosso set.

A despeito disso, cumprimos a nossa missão com a galhardia de sempre, e quem apreciava a nossa banda saiu muito satisfeito, e isso foi o que importou ao final das contas. Foi a noite do dia 22 de fevereiro de 2002, uma sexta-feira muito quente de verão, potencializada pela característica natural daquela cidade interiorana, tradicionalmente muito quente.

Saímos do palco extenuados, a suar em píncaros. Atendemos os fãs ali, sem uma estrutura adequada de camarins, como seria o ideal, com possibilidade de nos recompormos etc. Ficou combinado então que todo o nosso equipamento ficaria alojado na casa e no dia seguinte, após o almoço, passaríamos lá para resgatá-lo, e seguir viagem para São Carlos, onde apresentar-nos-íamos no sábado.

A nossa programação teve tudo para ser muito tranquila, pois a distância entre as duas referidas cidades é de apenas oitenta Km, portanto, um percurso curto que nos permitiria descansar, almoçar e partir no início da tarde, para chegarmos ao nosso destino antes do horário combinado do soundcheck. Todavia, não podíamos imaginar que os momentos amenos dessa etapa da turnê, estavam por se encerrar ali, com o final do show em Ribeirão Preto, pois uma incrível sucessão de fatos desagradáveis estava por acontecer.

Cerca de trezentas e cinquenta pessoas estiveram presentes nesse show.

Tranquilos até então, dispersamos entre nós, a iniciar um período livre onde cada um foi gastar as suas horas como quis. A maioria resolveu ir para o hotel, dormir. Outros foram dar uma volta com companhias femininas adquiridas no pós-show. 

Um membro de nossa comitiva, o roadie Samuel Wagner, foi dar uma volta na avenida Junqueira, ali próxima do hotel onde estávamos e voltou bem rápido, pois o clima que encontrara foi de uma verdadeira "cracolândia" no local e ao sentir a iminência de um assalto, com marginais a rondá-lo, ele não quis arriscar. 

De fato, a Ribeirão Preto pacata que eu conhecera na minha infância, não existia mais. Andar pelas ruas do centro da cidade durante a madrugada, não era nada recomendável como outrora.

Eu resolvi esperar acordado pelo café da manhã que já estava para ser servido no hotel. Fiquei ali no saguão vazio, meditativo por alguns minutos, quando o Samuel chegou, a contar-me sobre o perigo que passara na rua, e logo depois chegou o Rodrigo acompanhado de uma garota que conhecera naquela noite. O saguão onde servia-se o café matutino abriu-se e pela janela, vi que iniciara-se uma chuva leve, nada que assustasse, mas que comemorei por representar uma chance para amenizar o forte calor típico da cidade.

Terminado o café, eu fui para o quarto dormir e eram quase sete da manhã quando notei que a chuva começou a se intensificar. "bom para dormir", eu pensei...



Continua...

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