quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 191 - Por Luiz Domingues


O ônibus simplesmente não deu ignição, a dar reinício ao pesadelo infelizmente. Nessa altura, o destino fizera com que eu estivesse perto novamente do desastre. Estavam todos a almoçar e alheios ao problema que novamente nos rondara.

Desta feita, o compromisso que tínhamos era bem mais longe, em Mirassol-SP, e não teríamos tempo hábil para essa viagem, se não resolvêssemos essa questão imediatamente.

Como eu já estava envolvido diretamente com esse problema desde o início da madrugada, abri mão do almoço e pus-me a buscar uma solução prática. Achar uma bateria nova para um automóvel de passeio seria uma tarefa relativamente fácil, mesmo sendo um domingo em uma cidade interiorana, mas uma bateria de potência "24" (carros de passeio usam a de "12"), para ônibus e caminhões, era bem mais complicado. 

Fui ao ponto de táxi de uma praça bem próxima ao hotel onde nos hospedamos e e ao perguntar aos taxistas ali presentes, vi que teríamos problemas, pois eles demonstraram dificuldade em dar-me uma resposta rápida. Ficaram a se entreolhar e a conjecturar sobre possíveis lugares onde nós poderíamos comprar uma bateria nova. 

Ao citarem três ou quatro nomes de estabelecimentos cujos donos moravam próximos e sob uma emergência poderiam abrir as suas respectivas lojas para efetuar a venda, pareceu ter surgido uma luz no final do túnel, enfim. 

Quando os demais membros da banda tomaram ciência do ocorrido, um nervosismo instaurou-se em nossa comitiva, mas não cabia fazer reclamações ao léu e sim tomar uma providência prática, fator que eu estava a tentar fazer.

Nesse ínterim, o "Seu " Wagner já estava a fazer uma tentativa de recarga mediante o apoio de um caminhoneiro que havia parado para ajudar. Naquela "conversa de boleia" que ele sabia tratar com os seus pares, estava também a tentar uma solução. Sem sucesso, no entanto, da parte dele, prontifiquei-me a ir aos tais lugares citados pelos taxistas e sem outro meio, contratei corrida com um deles, e a solidariedade ficara só na conversa, pois o senhor não teve dó de baixar a "bandeira 2", ao alegar ser um domingo etc. e tal... 

Enfim, mesmo ao verificar o taxímetro a voar sob uma velocidade assustadora, eu não via naquele instante uma outra solução melhor, e assim, fui à captura de uma bateria.

Rodamos bairros por periféricos da cidade e sem querer fazer mal juízo do senhor que me atendeu, pairou-me a dúvida durante o trajeto ao se levar em conta o fato de que eu não conhecia a periferia daquela cidade, e por isso não ter a certeza de que tal busca fosse realmente plausível e não uma encenação, com a possibilidade dele ter certeza de que não lograria êxito e o seu objetivo fosse apenas corrida bem grande e onerosa com um incauto forasteiro como eu, em um domingo sem perspectivas para ganhar uma boa féria. Vá saber...

O fato, é que fomos à três ou quatro lugares e realmente eram oficinas de auto elétrico e/ou lojas de autopeças. Mediante abordagem de residências próximas onde supostamente os seus donos moravam, ninguém foi achado. Nesse caso, será que ele tocava realmente a campainha de casas desses supostos conhecidos e sabia que não estavam e tudo não passou de uma manobra? Que horror pensar isso, eu sei... 
Mas na hora, eu estive bastante desconfiado da ação do taxista, porém, nada poderia fazer a não ser confiar nele. Ao desistir da busca, voltamos ao ponto da praça de onde partimos e outra caminhonete estava atracada ao nosso ônibus, a tentar fazer a recarga, e os ânimos estavam acirrados. Faltava pouco tempo para extinguir-se o limite confortável para entrarmos na estrada e prosseguirmos rumo à Mirassol, distante dali, cerca de duzentos e cinquenta Km.

Foi quando o dono da loja de CD's "Cosmic", um simpático Rocker e amigo e entusiasta da Patrulha do Espaço, apareceu e ao se comover com o nosso drama prosaico, lembrou-se de um amigo que era proprietário de uma loja de autopeças, e que mediante uma checagem rápida, tentaria nos ajudar. Bingo!

Aquilo que eu tentara cumprir sem sucesso e com uma ajuda suspeita da parte de um taxista, poderia ocorrer de fato, com o rapaz a se prontificar a abrir sua loja em caráter excepcional para nos vender uma bateria nova, enfim...

Em uma questão de mais alguns minutos, o rapaz já estava ali com uma bateria selada em mãos... 

Instalada, enfim, o ônibus deu a ignição esperada e feitas as despedidas e agradecimentos, fomos para a estrada já com a a tarde a se findar.  Naquele horário em que partimos, nós havíamos planejado já estarmos em Mirassol, dentro na logística da turnê, mas as circunstâncias não nos permitiram isso.

Não seria possível correr além do limite da estrada para compensar o atraso, mediante problemas com multas/polícia rodoviária e também para não forçar o carro que estava bem debilitado, depois de tantos problemas acumulados.

Ligamos para a casa noturna de Mirassol, onde apresentar-nos-íamos e comunicamos aos seus dirigentes que atrasaríamos, a se dispensar o soundcheck anteriormente combinado. Dessa forma, se nada mais ocorresse para nos impedir, a perspectiva melhor possível seria a de chegarmos só a tempo de montar o palco com muita pressa e iniciarmos o show sem chance para nos recompormos da viagem, jantar e nem mesmo concluir um soundcheck decente.

Completamente extenuado por não ter dormido como os demais e também por não me alimentar adequadamente, eu apaguei no fundo do carro, e só despertei com o movimento do carro a estacionar na porta da casa onde tocaríamos em Mirassol, e nessa altura, já se fizera a noite profunda, com o horário muito estourado.

Foi a etapa da azarada da turnê... e em Mirassol, não haveria de ser diferente... pois mais problemas nos aguardavam... 

Continua...

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