quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 19 - Por Luiz Domingues

Antes porém de tocarmos, tivemos uma notícia surpreendente e desagradável, que teve o contorno de uma arbitrariedade. Fomos informados à nossa revelia que haveria uma banda de abertura, perspectiva essa não esclarecida previamente.

Fora um verdadeiro trabalho hercúleo arrumar o tímido palco da casa, para tentar ajustar o equipamento pobre de PA que ali havia, ao nosso backline, ao estabelecermos uma ginástica contorcionista para caber todo mundo, mas sobretudo, fazer com que a banda soasse dignamente naquelas condições inóspitas. E tudo piorou quando alguém da casa veio nos comunicar laconicamente que uma outra banda tocaria como abertura, e que isso seria uma condição sine qua non e inquestionável.
Bem, ali as soluções seriam: se irritar e sair rosnar da casa para desistir do espetáculo ou resignar-se e aguentar o incômodo. Optamos pela solução "B" e dessa maneira, tratamos de afastar o nosso equipamento para a outra banda colocar o seu e tocar. Nada contra os rapazes que tocaram, mas o sujeito que impôs essa sandice, certamente não tinha nenhuma noção de como funciona o soundcheck de uma banda de Rock.

Foi um fardo fazer isso e ainda tornou-se pior remontar o palco, a tentar buscar o mesmo ajuste, com a agravante de já haver público presente na casa, e sob a pressão do relógio.
A tal banda citada era um combo instrumental e "indie", como sempre ocorre nesse espectro de casas que dizem abrir para o Rock, mas sob uma equivocada perspectiva que nem vale a pena explicar nesta altura, mas que eu já mencionei em capítulos anteriores. Não eram maus músicos no entanto, como geralmente ocorre, ao se estabelecer uma espécie de praxe do mundo "indie".

Contudo, o seu som era repetitivo, maçante mesmo, e entediou o público que ali comparecera para ouvir o trabalho do Ciro. Se dependesse de nós, jamais chamaríamos uma banda nessas características para abrir o nosso show, mas à revelia, a casa adotou uma postura deselegante da pior espécie, ao desagradar a todos, literalmente.
Enquanto esperávamos pelo término do longo show de abertura (outro aspecto do abuso), ficamos no andar superior da casa, onde funcionava uma mini galeria de arte. Apreciamos a exposição ali instalada e o artista em questão estava presente e provocou a conversa conosco, para falar sobre a sua obra etc. Sinceramente eu não me recordo de seu nome e não achei o cartão de visitas que ele me forneceu à época, para registrar esse evento, com a sua nomeação.

Encerrado o longo set da banda de abertura, descemos e tivemos o incômodo trabalho de arrumar novamente o palco, indevidamente desarrumado por esse empecilho inesperado. Tudo bem que a casa era muito despojada e havia pouco público presente, mas se assim não o fosse, teria sido bastante embaraçoso ter que arrumar o palco na presença do público, ao se considerar que estávamos sem uma equipe de roadies à nossa disposição...
Continua..

Nenhum comentário:

Postar um comentário