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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 68 - Por Luiz Domingues

Último capítulo desta parte importante de minha trajetória musical.
Como de praxe, deixo claro que posso reabrir o capítulo em qualquer momento, desde que fatos novos apareçam, com a possibilidade de materiais perdidos que possam surgir; correções; adendos; contatos com ex-membros que tragam algum elemento diferente à narrativa etc. Como já deixei claro ao longo de toda a narrativa, o Terra no Asfalto foi mais que um meio para ganhar dinheiro, meramente, em um momento em que foram cruciais dois aspectos em minha vida : 

1) Ganhar dinheiro e; 
2) Autoafirmação como músico profissional.
Ao ir além, foi um verdadeiro curso intensivo que fiz, para dar-me experiência musical; destreza ao instrumento; segurança; postura de palco, e convívio com músicos de alto nível. Infelizmente, além da narrativa desta autobiografia, praticamente não existe material dessa banda. Por tratar-se de uma banda cover, nunca cogitamos fotografar apresentações, tampouco fazer uma sessão com fotos promocionais. Não existe um release oficial, histórico ou qualquer material, a não ser as minhas anotações de apoio com datas, locais e quantidade de público presente nas apresentações, fora pouquíssimos itens de portfólio, que tenho usado e abusado como ilustração, nos capítulos. Melhor que nada, diria o otimista, mas muito pouco para o pessimista de plantão...
Mesmo assim, e por considerar ter sido um celeiro com grandes músicos, eu mesmo criei uma comunidade na extinta rede social Orkut, a visar preservar um pouco da história da banda, embora eu reconheça que o pouco que ali conteve, fora o conteúdo que eu mesmo reuni e disponibilizei nesta autobiografia. Mesmo assim, o objetivo foi agregar material; histórias e observações sobre o trabalho dessa banda, que embora não fizesse música autoral, foi uma banda formada por grandes músicos que por ali passaram. O Orkut fechou as suas portas, infelizmente, mas eu abri comunidades em outras redes sociais com o mesmo teor. Portanto, esse recurso encontra-se nas Redes Sociais, "Google+" e "Yoble", em um primeiro instante, mas tenho planos de seguir tal estratégia em outras redes, igualmente. Estejam convidados a participar, e já deixo o recado : quem porventura possuir algum tipo de material (fotos; filmagens; recortes de jornais & revistas, cartazetes e filipetas), por favor divulguem-nos na comunidade, seja de que Rede Social, for. 

Agradeço a todos os companheiros que passaram pela banda, por todos os shows que fizemos. Mas sobretudo pela enorme ajuda que ofertaram-me, ao fazer a transição de que tanto necessitava, em suplantar a barreira inicial dos primeiros e difíceis anos de minha carreira, para uma condição de músico profissional, em condições de lutar por uma carreira autoral no mundo musical. Obrigado ao Cido Trindade, por acreditar em minha pessoa, sobretudo em um momento onde percebeu que eu melhorara como instrumentista, quando vislumbrou levar-me para um trabalho como side-man, a acompanhar o cantor, Tato Fischer, e sem o qual, não acarretaria na oportunidade por ter conhecido o tecladista, Sérgio Henriques. Agradeço Sérgio Henriques por ter tido a perspicácia em indicar esse trio que acompanhava o Tato Fischer, para fundir-se a um outro trio de músicos, e ter nascido assim, o primeiro sexteto raiz do Terra no Asfalto. Sem Sérgio Henriques, eu não teria conhecido Paulo Eugênio, que foi o homem aglutinador do Terra no Asfalto.
Através de Paulo Eugênio, conheci Wilson Canalonga Jr.; Geraldo "Gereba"; Fernando "Mu", e Aru Junior, quatro guitarristas da pesada. 

Obrigado, Paulo Eugênio Lima, onde estiver, por ter proporcionado-me a chance para tocar com essas feras, por oitenta e três apresentações, onde sem dúvida, tal carga teve o peso de um curso intensivo para a minha formação profissional.

Obrigado ao Wilson Canalonga Junior, pelo convívio, amizade, conversas animadas sobre os Beatles, que adoramos, e pela possibilidade em ouvir as suas vocalizações nos bonitos backing vocals que fazia.

Obrigado, Geraldo "Gereba", pela sua guitarra "arretada". Seus solos inacreditáveis ainda ressoam em minha memória, cheios daquela brasilidade que só você, e o Pepeu Gomes possuem... e que esteja a tocá-los aí, do "outro lado" !

Muito grato, Fernando "Mu" ! Você foi o primeiro grande guitarrista Rocker com o qual eu pude ter a honra em tocar. Tocar contigo, foi como estar no palco do festival de Woodstock, a tocar com um Deus do Rock, verdadeiramente. 

Jamais esquecer-me-ei de sua interpretação para : "Star-Spangled Banner", ao fazer toda a ruideira proveniente das alavancadas criadas pelo Jimi Hendrix, , só que através de uma guitarra Gibson Les Paul Jr, a puxar o headstock na mão ! Fazer aquilo sem alavanca, foi inacreditável, e deixaria o Hendrix com o seu queixo caído !

Obrigado, Aru Junior ! Você foi um professor e um maestro para a minha trajetória. Sua dica em torno do mise-en-scenè, mudou mesmo a minha vida, e se sou respeitado em minha carreira, devo muito à essa orientação valiosa. E que bom que esteja do "lado de cá", espero que por muitos anos, ainda.

Obrigado, Luis Bola ! Você foi muito generoso comigo, e os sons do Frank Zappa que ouvimos na sua casa, foram sempre muito inspiradores.

Edson "Kiko" : já expressei através da narrativa, as minhas desculpas, reiteradas vezes. Espero que esteja bem neste momento !  
Um agradecimento especial ao Edmundo, pelo apoio recebido logo no início das atividades da banda, e amizade expressa por muitos anos, ainda que vejamo-nos sazonalmente.

Aos agregados, amigos e músicos com passagens rápidas, um muito obrigado, igualmente.

O Terra no Asfalto teve méritos, apesar de ter sido somente uma banda cover. E nos agradecimentos expressos acima, fica uma constatação : teve o efeito de uma verdadeira teia... uma peça ligou-se à outra, e sem as quais, eu não teria tido tantas oportunidades. O fim do Terra no Asfalto foi o começo da história d'A Chave do Sol em minha trajetória. Basta continuar a ler, dali em diante...

Muito obrigado por acompanhar, amigo leitor !



Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 63 - Por Luiz Domingues


Geraldo "Gereba": 

Nunca mais vi o Gereba depois da frustrada tentativa em reativar o Terra no Asfalto, na metade de 1982. Sei apenas que ele faleceu anos depois, por conta de uma cirrose. Não tenho essa confirmação oficial sobre a época do ocorrido, nem onde foi. O que posso dizer para ilustrar sobre ele, acredito já ter expresso amplamente no capítulo inteiro, sempre que referi-me à sua pessoa. Para reforçar, o Gereba foi um talento bruto, sem nenhuma instrução musical. Era puro ouvido e sensibilidade. Seu estilo era brasileiro, e o seu ídolo máximo foi o Pepeu Gomes, de quem tirou todos os solos à perfeição. E tal como Pepeu, tocava sem nenhuma estrutura digna de seu talento. Usava uma guitarra da marca "Rei" (parecida com a da foto acima), uma grosseira réplica da guitarra Fender, modelo Jazz Master, mas verdade, longe da qualidade da norteamericana famosa, e a revelar-se, péssima. Portanto, ele nunca teve uma guitarra importada com qualidade. 

Outro ídolo seu, foi o Alvin Lee. Mesmo sem entender uma só palavra em inglês, ele adorava o Ten Years After, e sabia tocar muitas músicas, a reproduzir fielmente o som do Alvin Lee, de uma forma muito emocionante. Como ser humano, o Gereba era um rapaz com boa índole. Sujeito simples e alegre, o tempo todo. Foi, guardadas as devidas proporções, uma espécie de "Garrincha" do Terra no Asfalto. Prosaico e ingênuo em certos aspectos, porém um monstro pela sua criatividade e desenvoltura à guitarra, tal como o jogador das pernas tortas, o foi em relação ao futebol. Assim como quase todos os membros do Terra no Asfalto, fico a dever uma foto, pois nada tenho em portfólio, tampouco achei na internet.

Wilson Canalonga Jr. ou "Wilsinho":

 
Na primeira foto, Wilson em foto bem mais atual a atuar ao vivo pelo nordeste. O Wilson usou no Terra no Asfalto, um modelo de guitarra exatamente como esse da foto, acima. Tratava-se de uma guitarra da marca, Giannini, modelo "Pingo de Ouro", preta como a da foto. Era uma guitarra que a Giannini lançara no mercado ao final dos anos setenta, como réplica da guitarra britânica, "Vox", modelo "Tear Drop", imortalizada pelo saudoso guitarrista dos Rolling Stones, Brian Jones, nos anos sessenta, que a usou bastante. Mas aqui no Brasil, esse modelo da Giannini também era conhecido como "Guitarra Craviola" ou "Pingo de Ouro"
 
Quando deixou o Terra no Asfalto, início de 1982, o Wilson já estava imbuído de um objetivo pessoal: estudar música. E de fato, ele se matriculou no "Clam", a famosa escola dirigida pelos componentes do Zimbo Trio. 
 
Naquela escola, que era excelente pela sólida pedagogia baseada em cursos norte-americanos, a mentalidade era excessivamente jazzística. Nada contra, mas quem entrava naquela egrégora, tendia a afastar-se do Rock, ao criar paradigmas e preconceitos.  
 
Encontrei com ele em 1983, mais ou menos e verifiquei que a sua mentalidade já estava diferente, só a citar as feras do Jazz, etc. e tal. Depois disso, fiquei muitos anos sem notícias, até que o Edmundo, nosso amigo em comum, contou-me em 2000, quando esteve presente em um show da Patrulha do Espaço, que o Wilson havia mudado-se para o nordeste, há muitos anos, e havia desenvolvido uma técnica enorme na guitarra, a tocar Jazz, e nem queria saber mais do Rock.  
 
Em conversa que tive com o Aru, ele passou-me mais informações, para enriquecer esta narrativa. Foi quando eu soube por exemplo, que ele, Wilson, estava a morar no Recife e teve outra filha. E indo além, soube também que no início dos anos noventa, ele chegou a formar uma banda orientada pelo Rock Progressivo setentista, com o próprio Aru Junior, denominada: "Nave". Após alguns desentendimentos, o "Nave" foi conduzido adiante pelo vocalista, Roger Troyan, ex-“Yessongs” (banda cover do Yes, cujo guitarrista fora o Aru Junior).
 
Essa circunstância não foi muito agradável, segundo o Aru contou-me, com discórdia sobre o nome da banda, sendo que o fundador e criador do nome, fora o próprio, Aru. Mas o Wilson mudou-se para Recife e a sua predileção era mesmo, atualmente, e desde muito tempo, o Jazz. Ele continua casado com a Consuelo, que no tempo do Terra no Asfalto, era uma adolescente bem novinha, apenas.
Paulo Eugênio tinha razão, Wilsinho tinha traços faciais bem parecidos com o Paul McCartney
 
A falar do Wilsinho que eu conheci ao final de 1979, ele era um guitarrista iniciante, mas com muita vontade de desenvolver-se ao máximo, na guitarra. Se nos solos e harmonizações, ainda não era o grande músico que viria a ser depois, a sua participação como guitarrista base, violonista e backing vocals do Terra no Asfalto, sempre foi muito importante. 
 
No quesito humano, era um rapaz tranquilo, gentil e sempre disposto a ajudar as pessoas. Fanático pelos Beatles, tinha bastante semelhança fisionômica com o Paul McCartney e nas apresentações, o Paulo Eugênio brincou muitas vezes com ele, ao chamar a atenção do público para esse detalhe. 
 
Em 2012, acrescento que através do Aru Junior, o guitarrista, Wilson Canalonga Junior, descobriu o meu endereço no Facebook e adicionou-me. Fiquei muito feliz com essa solicitação de amizade, e claro que o aceitei imediatamente e dessa maneira fui direto ao seu “inbox”, e escrevi-lhe uma longa saudação, onde expliquei-lhe a minha determinação de estar a escrever as minhas memórias, e que havia um capítulo exclusivo para contar a trajetória do Terra no Asfalto. 
Na foto recortada acima, a persona de Wilson Canalonga Junior a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido
 
Para encerrar, eu reforço o meu agradecimento ao Wilson, pelo companheirismo que tivemos entre 1979 e 1982, quando atuamos juntos no Terra no Asfalto.
 
Continua...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues


Bem, o Terra no Asfalto foi uma banda cover que apesar de ter sido criada com esse objetivo, exclusivamente (salvo a vã tentativa para tornar-se banda autoral, ao final de 1981), teve muitos méritos. O primeiro e óbvio, foi no sentido em proporcionar-me uma escola viva, onde libertei-me enfim da fase inicial da minha carreira, onde a insegurança em apresentar um nível técnico como principiante, fora superada.

Claro, um pouco antes, quando eu fui tocar na banda de apoio do cantor, Tato Fischer, em 1979, na verdade eu já estava seguro e com um nível técnico mínimo necessário para considerar -me um músico profissional, mas no Terra no Asfalto, ganhei ainda mais desenvoltura e cancha de palco (apesar da banda ter atuado predominantemente circunscrita aos humildes palcos de casas noturnas). O segundo ponto também é motivo de orgulho. Mesmo por ser uma banda irregular, com diversas idas e vindas, o Terra no Asfalto teve em suas fileiras, grandes músicos. Não é toda banda cover que pode orgulhar-se por ter tido tantos músicos bons assim, em sua trajetória. O terceiro ponto são as histórias acumuladas. Algumas engraçadas, outras desagradáveis, mas no cômputo geral, quando uma banda, mesmo sendo cover, reúne um repertório com histórias ocorridas em sua carreira, é sinal de que foi prolífica. O início foi sob puro improviso.

A maneira com a qual foi formada, foi inusitada, com praticamente uma fusão feitas às pressas. Aquele primeiro show de 1979, que gerou a semente inicial, foi de uma insanidade total, mas provou também que havia uma "química", e de fato, aquele conglomerado formado por músicos juntados às pressas, gerou uma banda. A entrada do Fernando "Mu", trouxe um élan. Foi o meu primeiro contato com um guitarrista de alto nível, e embora muito genioso, e difícil para lidar-se como Ser Humano, foi a oportunidade para ter a minha primeira sensação no sentido em estar dentro de uma banda com comprometimento Rocker, e dotada de um nível técnico compatível com essa pretensão. Não levo em conta o trio do Tato Fischer nesse mesmo sentido, pois ali eu também estava a tocar com músicos de um nível alto, principalmente o Sérgio Henriques, mas não foi exatamente uma banda de Rock.

O crescimento da banda, a atrair público nos primeiros bares, e posterior oportunidade para tocar em bares mais categorizados, foi bonito, apesar de ser meramente o trabalho de uma banda cover. Os momentos difíceis do meio do ano de 1980, não amargurou-me, pois eu estava a todo vapor a tocar nos primórdios do Língua de Trapo, e a participar de vários trabalhos paralelos. E convenhamos, com dezenove para vinte anos de idade, as intempéries da vida nem são sentidas inteiramente.

Na foto recortada acima, eis a minha própria persona (Luiz Domingues), a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido

A volta do Terra no Asfalto, ao final de 1980, coroou a trajetória da banda, ao dar-lhe a sua melhor fase, com regularidade, várias apresentações memoráveis, e um dinheiro providencial. Banda cover não é, nem nunca foi o meu objetivo de vida, mas recordo-me com carinho de várias ocasiões onde o Terra no Asfalto tocou para públicos entusiasmados, e arrancou aplausos e gritos. Não fora o nosso som, e sim o sucesso fácil da criação alheia, mas ficou a lembrança de uma banda azeitada, e com recursos técnicos muito bons.

Após a parada forçada, no meio de 1981, a banda perdeu o fôlego e nunca mais alcançou esse patamar máximo que conseguíramos anteriormente. Entre muitos percalços, finais e recomeços, estendemos o Terra no Asfalto até proporcionar-me uma oportunidade de vida, enfim, quando nos seus estertores, conheci o guitarrista, Rubens Gióia, e finalmente montei a minha banda de Rock autoral, sonho perseguido desde 1976, e que o caráter infantojuvenil do Boca do Céu, não permitira-me realizar em sua plenitude. Posso afirmar sem medo de errar, que o Terra no Asfalto foi a semente primordial do nascimento d'A Chave do Sol.
Continua... 

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 59 - Por Luiz Domingues


Portanto, o último suspiro de vida do Terra no Asfalto, deu início à gestação d'A Chave do Sol, e tal história prossegue nos capítulos dessa banda. Antes de encerrar a história do Terra no Asfalto, vou recuar um pouco na cronologia para contar algumas histórias que não ficaram registradas, por não haver uma cronologia fixa sobre cada uma dessas ocorrências.

Uma delas, trata-se sobre a mania compulsiva que o Paulo Eugênio; Gereba, e Wilson mantinham como uma tradição na confraria formada pelos três, formatada por anos de convívio juntos, e revelava-se muito engraçada. Isso nada tem a ver com música, devo esclarecer previamente. Eles praticavam uma pequena transgressão quando estavam juntos em alguma festa particular, ou mesmo a visitar a residência de alguém. Ao fornecer desculpas tolas, como por exemplo, ir ao banheiro, ou mesmo à cozinha para beber água, eis que atacavam a geladeira e a despensa das pessoas, mais pela brincadeira em si, do que qualquer outra motivação possível. 

Mostrava-se hilária tal ação, pois em questão de segundos, como se fossem gafanhotos famintos, comiam tudo o que podiam. A rapidez e a voracidade com que faziam essas brincadeiras teve requintes até, pois chegaram a fritar ovo, e esquentar arroz na panela, sem que o anfitrião percebesse, pelo menos ao ponto em dar flagrante, pois panelas e pratos sujos os denunciavam a posteriori. Eu cheguei a ver isso acontecer, e ficava impressionado como enchiam as respectivas bocas, e até os questionava sobre isso poder causar-lhes um sério dano, ao engasgar. E fui vítima também, pois uma vez em minha casa, mediante uma reunião da banda, o Paulo Eugênio descobriu na minha cozinha, uma torta de banana recém saída do forno, que minha mãe preparara. O objetivo daquela torta, fora servir à eles mesmos, mas após diversas saídas suspeitas do Paulo Eugênio, que saía a todo instante para "beber água", descobri que ele a devorara sozinho. Eu achei até engraçada essa compulsão, mas a minha mãe ficou horrorizada quando contei-lhe o ocorrido...

Continua...

domingo, 15 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 55 - Por Luiz Domingues



Após essa frustrada tentativa para tornar o Terra no Asfalto, uma banda autoral, dispersamos de vez. Mas em meados de fevereiro de 1982, o Paulo Eugênio recrutou os velhos componentes da banda novamente, um a um, por considerar que todos estavam sem dinheiro, e sem grandes perspectivas naquele início de ano.

Dessa maneira, mediante poucos ensaios, eliminamos a ferrugem adquirida pelo ócio e colocamos de novo a banda no circuito, com a perspectiva em tocarmos em um circuito de bares, novamente, mas sobretudo pela promessa do Paulo Eugênio em abrir uma nova frente de trabalho, a investir no setor de espetáculos fechados para escolas. Essa foi uma ideia que ele mantivera como meta, desde a época em que fizemos com grande êxito uma apresentação na Escola de Idiomas Cultura Inglesa em 1980, com um desdobramento posterior em uma unidade dessa mesma escola, em Campinas, no interior do estado. E segundo ele, já estava encaminhado um projeto semelhante, preparado para vender em colégios particulares, oriundos da clientela de seu tio, que detinha uma agência de turismo, especializada em excursões escolares para a Disneylândia, em Orlando, Florida. Cido Trindade estava agora dividido entre estudar alucinadamente para obter nível técnico no patamar de seus ídolos virtuoses da bateria, e ensaiar com a cantora Lily Alcalay (onde ele encaixou-me, também, e esse assunto já foi contado no capítulo dos Trabalhos Avulsos); Wilson estudava guitarra no Clam, e dividia-se entre o seu emprego público, e as atividades como pai recente, com o nascimento da sua primeira filha. O Aru Junior também aceitou, e o Sérgio Henriques contava com a perspectiva em trabalhar com a Gal Costa, mas estava parado naquele instante, e bastante chateado com a morte da Elis Regina, com quem estivera muito envolvido, desde 1980. Sendo assim, o Terra no Asfalto voltou à ativa na noite de 20 de março de 1982, quando subiu ao palco do Café Teatro Deixa Falar, com um surpreendente público de cem pessoas, na plateia. A formação dessa volta, contou com o quinteto mais estável da história do TNA (Paulo Eugênio; Aru Junior; Cido Trindade; Wilson Canalonga Junior, e eu, Luiz Domingues), com o acréscimo do membro nem sempre presente, mas antigo, Sérgio Henriques.

O clima, no entanto, não fora o mesmo de outrora. Mesmo por ser uma banda cover, e como já salientei diversas vezes neste capítulo, uma banda cover tem relação interna frágil, pois não possui a "argamassa do sonho", o clima na banda fora melhor em 1980 & 1981.

Nesse instante de 1982, foi nítido que todos estavam ali meramente por absoluta falta de perspectivas melhores para cada um, individualmente. Uma nova apresentação ocorreu no mesmo Café Teatro Deixa Falar, em 3 de abril de 1982, com quarenta pessoas presentes na casa. Paulo Eugênio estava a centrar os seus esforços nesse plano em realizar apresentações em colégios, com cachet fixo, e estava difícil retomar o embalo de 1981, na melhor fase da banda.

Mais uma vez tivemos sorte por embalar uma festa fechada.
No dia 15 de abril de 1982, voltamos ao Café Teatro Deixa Falar, desta feita para uma festa fechada e promovida pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. Acredito que o Deixa Falar não recebia um público assim tão significativo, desde o tempo de suas glórias vividas em sua encarnação anterior, como o "Be Bop a Lula", nos anos setenta. Foram trezentas e cinquenta pessoas naquela noite a dançar e vibrar com o nosso som. Mas, nos dias posteriores, 16 e 17 de abril de 1982, a rotina decadente da casa, restabeleceu-se, e tocamos assim, respectivamente para vinte e trinta pessoas, apenas. Porém, o clima melhorou novamente, como a estabelecer uma autêntica gangorra, ao tocarmos novamente em uma festa fechada, desta feita realizada em um espaço onde nunca havíamos tocado anteriormente, e que revelava-se um sonho de consumo para todas as bandas cover da cidade : o bar "Sem Fim", que ficava localizado na Rua Bela Cintra, próximo à Av. Paulista. Foi um dos mais curiosos casos em que a banda envolveu-se. 
Foi uma festa fechada por esquerdistas, simpatizantes do Partido Solidariedade da Polônia, que comemorava os feitos do líder sindical, Lech Walessa, que lutava por mais democracia ante a ditadura de esquerda e ferrenha da parte dos soviéticos. Mas, por aqui a ditadura era de outra extremidade, e a despeito do Partido Solidariedade representar uma luta contra o esquerdismo extremo, ainda assim mostrara-se uma atividade proscrita, ao prestar essa solidariedade ao "Solidariedade", com o perdão da redundância.

Portanto, tocamos sob um clima tenso, com pessoas a entrar no bar apenas mediante senhas e um clima de medo, pois houve rumores de que poderia haver uma batida policial da repressão etc e tal. Fomos instruídos a tocar com um volume aquém do nosso padrão habitual, e embora fosse uma festa em tese, e as pessoas dançassem e bebessem, ao parecer divertir-se, deu para sentir uma tensão. E a decoração denunciaria qualquer tentativa em ludibriar a polícia, caso ela aparecesse, pois havia bandeiras do partido Solidariedade e várias pessoas usavam bottons com o logotipo de tal agremiação política, grafado em polonês. Não aconteceu nada de mal, e pudemos sair do local dentro de nossa rotina habitual da noite. Mas foi bem sui generis essa festa.
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sábado, 7 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues


No dia seguinte a essa festa (com direito à indisposição com a dona do "Papete"), voltamos ao Bar Beatles 4 Ever. Desta feita, com a presença de público fraco, com apenas trinta e cinco pessoas. Foi no dia 20 de setembro de 1981. Essa volta da banda, após o retorno do Aru Junior, não teve o mesmo bom embalo de outroras, e estava a desanimar a todos. O Wilson Canalonga Junior estava casado, e a sua primeira filha, estava para nascer; o Aru Junior também estava recém casado; o Cido Trindade estava a assumir compromisso em morar com a namorada, enfim, a pressão externa pela necessidade de ganhar-se dinheiro, contrastava com a fase permeada por escassez que a banda enfrentava, desde que perdera o bom embalo do primeiro semestre.

Tirante esse fato, de minha parte havia uma insatisfação nessa altura, pois a vocação do Terra no Asfalto foi covers, mas o meu anseio nunca foi esse. Portanto, o meu raciocínio foi simples : se não embalava uma agenda com possibilidade para ganhar dinheiro, tornara-se frustrante permanecer em uma banda sem perspectivas para investir em um trabalho autoral, e que também não estava a render financeiramente. Esse sentimento foi também o do Aru Junior, mas por outro lado, o Cido Trindade estava cada vez mais distante, e Wilson Canalonga Junior e Paulo Eugênio Lima, nem cogitavam tal hipótese. Essa fator e a fase ruim financeira, puseram a minar as forças da banda nessa fase, para condená-la a um final, logo a seguir. Mas ainda aconteceu duas situações que prorrogaram esse final definitivo.
Continua...    

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 52 - Por Luiz Domngues


Voltamos ao Casablanca, na noite de 18 de setembro de 1981.

Foi um bom público, com duzentas pessoas presentes, e eu lembro-me que nessa noite, um grupo formado por garotas norteamericanas estiveram presentes e a esposa do Aru, Mary Ellen, relutou em abordá-las, talvez por timidez. Só ao final da noitada, quando carregávamos o equipamento na Kombi, foi que ela finalmente criou coragem para abordar as suas compatriotas, que já atravessavam a Avenida Vereador José Diniz. No dia seguinte, 19 de setembro, fomos tocar em uma festa fechada no bar : "Papete". Tratava-se na verdade, do ex-Le Café, e ex-Barbarô, que mudara de nome pela terceira vez. Não lembro-me, contudo, se tratou-se de uma festa corporativa. Nos meus registros consta apenas como : "festa fechada", portanto deve ter sido um aniversário, pura e simplesmente. Cento e dez pessoas estiveram presentes, e e por ser uma casa sob pequenas proporções, estava completamente lotada.


Um incidente do qual eu nunca soube a fonte, gerou um clima ruim, bem no momento de nossa saída. Só lembro-me em estar a carregar o equipamento para a Kombi, e constatar a presença do Paulo Eugênio aos gritos, com a dona da casa, Paulette, que gritava vários impropérios, ao agir como um homem, muito masculinizada que o era. E sobrou-me, pois ao ver-me na escada, a descer com uma pesada caixa de amplificador em mãos, fitou-me e com raiva disse-me : -"vocês não merecem nada"... bem, isso ocorreu há tantos anos atrás, e até hoje eu não sei o que ocorreu ali, verdadeiramente. O Paulo Eugênio nunca revelou-nos a razão dessa desavença. Só sei que de fato, nunca mais apresentamo-nos naquela casa.

Continua...   

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 51 - Por Luiz Domingues


No final de agosto de 1981, o Aru Junior voltou dos Estados Unidos, e com mala & cuia, a trazer toda a sua mobília que havia deixado na América, onde morava com a sua namorada norteamericana.
Na foto, eu com meu querido, Fender Jazz Bass, em um show d'A Chave do Sol, no Centro Cultural São Paulo, em 1988.

Lembro-me do dia em que chegou em São Paulo, quando trouxe o meu primeiro baixo "bom", meu Fender Jazz Bass, em sua bagagem. Essa camaradagem dele em trazer-me esse instrumento, merece a minha gratidão eterna. E conhecemos enfim a sua namorada, a norteamericana, Mary Ellen, que mostrou-se logo de início, simpática e esforçadíssima para aprender o idioma português o mais rápido possível, e reconheço, para os norteamericanos e britânicos é muito difícil, pois mal conseguem diferenciar a nossa língua do castellaño, falado pelos povos hispânicos. Fizemos alguns ensaios para voltarmos à velha forma e a volta foi realizada em uma casa nova, denominada  : "Beatles 4 Ever", localizada no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Sem a presença de Sérgio Henriques que estava a excursionar novamente com Elis Regina. Então o quinteto mais estável da carreira da banda foi para o palco com Aru Junior; Wilson Canalonga Junior; Paulo Eugênio Lima; Cido Trindade, e eu, Luiz Domingues. Um bom público compareceu à casa, com duzentas pessoas aproximadamente, nesse dia 5 de setembro de 1981.


E na semana seguinte, estávamos de volta ao Casablanca, com quatrocentas e cinquenta pessoas presentes na noite de 11 de setembro de 1981, exatos vinte anos antes do atentado às torres gêmeas... quem pensaria nessa catástrofe naquela noite de 1981, no Casablanca ? Nesse dia, ocorreu uma história inusitada com a namorada de um dos nossos companheiros. Em um dado momento em que tocávamos, um impetuoso playboy a agarrou e roubou-lhe um beijo. Só eu, da banda, testemunhei essa cena, enquanto tocávamos, ainda bem, pois poderia tornar-se um tumulto se o namorado tivesse presenciado tal cena. Como notei que ela não contou ao namorado no intervalo, mantive-me discreto. Dois dias depois (13 de setembro de 1981), voltamos ao Beatles 4 Ever e dessa vez o público foi muito fraco : apenas vinte e cinco pagantes.

Continua...
 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 49 - Por Luiz Domingues


O mês de maio mostrou-se bom em termos de agenda e logo a seguir, tocamos nos dias 16; 22; 27, e 30 desse mês, sempre no palco do Casablanca. Estávamos praticamente fixos naquela casa, e o nosso repertório agradava em cheio o público habitue, formado por adultos jovens, oriundos das classes sociais, A e B. Foi de fato uma plateia formada por muitas mulheres jovens e bonitas, e consequentemente a atrair os paqueradores. Alheio a esses dados sociais, gostávamos do bom cachet que pagavam-nos ao final das noites cheias, e lamentávamos os dias fracos, naquela rotina tradicional do músico da noite. No dia 16, tivemos um público com sessenta pessoas. Em 22 de maio, foram oitenta. Já no dia 27, foi outra festa fechada. Tocamos para um público constituído por médicos e enfermeiras da Santa Casa, um tradicional e antigo hospital de São Paulo.

E como sempre foi um costume em festas fechadas, um bom cachet fixo foi oferecido-nos e com bastante gente animada a dançar com o nosso som. Estiveram presentes cerca de quinhentas pessoas daquele hospital, claro, a contar com esposas; maridos; namorados etc. Mesmo assim, o hospital não ficou sem atendimento naquela noite... 

E finalmente no dia 30 de maio de 1981, tocamos para cento e cinquenta pessoas em uma noite normal, sem festas corporativas. Entretanto, ao final de maio, tivemos uma notícia inesperada que ofertaria uma quebra nessa sequência : o nosso guitarrista, Aru Júnior, teria que ausentar-se por um tempo, para tratar de assuntos pessoais pendentes nos Estados Unidos.

Logicamente, o embalo seria interrompido, mas não houve outro jeito a não ser resignarmo-nos, e tentar achar alternativas nesse período (que alongou-se por cerca de três meses), para cada um prover o seus sustento com a banda inativa. E outra baixa estava também anunciada anteriormente, com o tecladista, Sérgio Henriques a anunciar que entraria em um período de ensaios, para tocar na nova turnê da Elis Regina. Portanto, o hiato que faríamos forçadamente, serviu também para pensarmos em uma reestruturação a partir da volta dele (Aru), da América. Essa fase sob hiato do Terra no Asfalto, eu já relatei no capítulo dos "Trabalhos Avulsos", pois formei com Cido Trindade; Pitico Freitas, e a vocalista Vilma, um quarteto ao estilo MPB, emergencial para tocar na noite e ganhar dinheiro (Quarteto Toulon). Para quem ainda não leu, convido a fazê-lo, pois tem histórias engraçadas, incluso a do dia em que fomos assistir juntos o show da Elis Regina, sob um convite do Sérgio Henriques. Antes do Aru Junior viajar, ainda fizemos, contudo, algumas apresentações.

Continua... 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 47 - Por Luiz Domingues


Seguiu-se mais um show no Bar Casablanca, em 24 de abril de 1981, e depois disso (25 de abril de 1981), fomos tocar em uma nova casa para nós, chamada, "Taverna Boêmia", no coração da Rua 13 de Maio, no tradicional bairro do Bixiga, de São Paulo. Esse bar tinha uma característica engraçada. O fato, foi que o palco estava colocado sob um mezanino altíssimo, e assim, na parte de baixo, era quase obrigatório ficar com o pescoço muito levantado para ver a banda, e a depender do ponto onde a pessoa estivesse, simplesmente não conseguiria enxergar o baterista da banda. E outro fator bizarro : não havia proteção alguma para os músicos, e o perigo era evidente, diante daquele precipício.
A única margem de segurança fora um arame esticado na extensão do comprimento do palco, e que segundo o dono, servia como uma lembrança "psicológica" tão somente, pois em um eventual acidente, não conteria uma pessoa de forma alguma. Apesar de tocarmos com cuidado, na realidade, éramos seis músicos ali em cima munidos de nossos enormes amplificadores Palmer; bateria, e um piano elétrico Würlitzer, a quase três metros de altura do solo... 

Isso ocorreu no dia 25 de abril de 1981, e esse esforço em colocar e tirar todo o equipamento dessa altura, foi compensado com uma bilheteria boa, oriunda de trezentos e cinquenta pagantes, nessa noite. E no dia seguinte (26 de abril de 1981), tivemos mais uma boa apresentação no "Roda D'água", do bairro do Brooklin, apesar do pequeno público com apenas quinze pessoas presentes, sob um domingo nublado, e já com o frio de outono a intensificar o seu ímpeto.

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