quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues


Bem, o Terra no Asfalto foi uma banda cover que apesar de ter sido criada com esse objetivo, exclusivamente (salvo a vã tentativa para tornar-se banda autoral, ao final de 1981), teve muitos méritos. O primeiro e óbvio, foi no sentido em proporcionar-me uma escola viva, onde libertei-me enfim da fase inicial da minha carreira, onde a insegurança em apresentar um nível técnico como principiante, fora superada.

Claro, um pouco antes, quando eu fui tocar na banda de apoio do cantor, Tato Fischer, em 1979, na verdade eu já estava seguro e com um nível técnico mínimo necessário para considerar -me um músico profissional, mas no Terra no Asfalto, ganhei ainda mais desenvoltura e cancha de palco (apesar da banda ter atuado predominantemente circunscrita aos humildes palcos de casas noturnas). O segundo ponto também é motivo de orgulho. Mesmo por ser uma banda irregular, com diversas idas e vindas, o Terra no Asfalto teve em suas fileiras, grandes músicos. Não é toda banda cover que pode orgulhar-se por ter tido tantos músicos bons assim, em sua trajetória. O terceiro ponto são as histórias acumuladas. Algumas engraçadas, outras desagradáveis, mas no cômputo geral, quando uma banda, mesmo sendo cover, reúne um repertório com histórias ocorridas em sua carreira, é sinal de que foi prolífica. O início foi sob puro improviso.

A maneira com a qual foi formada, foi inusitada, com praticamente uma fusão feitas às pressas. Aquele primeiro show de 1979, que gerou a semente inicial, foi de uma insanidade total, mas provou também que havia uma "química", e de fato, aquele conglomerado formado por músicos juntados às pressas, gerou uma banda. A entrada do Fernando "Mu", trouxe um élan. Foi o meu primeiro contato com um guitarrista de alto nível, e embora muito genioso, e difícil para lidar-se como Ser Humano, foi a oportunidade para ter a minha primeira sensação no sentido em estar dentro de uma banda com comprometimento Rocker, e dotada de um nível técnico compatível com essa pretensão. Não levo em conta o trio do Tato Fischer nesse mesmo sentido, pois ali eu também estava a tocar com músicos de um nível alto, principalmente o Sérgio Henriques, mas não foi exatamente uma banda de Rock.

O crescimento da banda, a atrair público nos primeiros bares, e posterior oportunidade para tocar em bares mais categorizados, foi bonito, apesar de ser meramente o trabalho de uma banda cover. Os momentos difíceis do meio do ano de 1980, não amargurou-me, pois eu estava a todo vapor a tocar nos primórdios do Língua de Trapo, e a participar de vários trabalhos paralelos. E convenhamos, com dezenove para vinte anos de idade, as intempéries da vida nem são sentidas inteiramente.

Na foto recortada acima, eis a minha própria persona (Luiz Domingues), a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido

A volta do Terra no Asfalto, ao final de 1980, coroou a trajetória da banda, ao dar-lhe a sua melhor fase, com regularidade, várias apresentações memoráveis, e um dinheiro providencial. Banda cover não é, nem nunca foi o meu objetivo de vida, mas recordo-me com carinho de várias ocasiões onde o Terra no Asfalto tocou para públicos entusiasmados, e arrancou aplausos e gritos. Não fora o nosso som, e sim o sucesso fácil da criação alheia, mas ficou a lembrança de uma banda azeitada, e com recursos técnicos muito bons.

Após a parada forçada, no meio de 1981, a banda perdeu o fôlego e nunca mais alcançou esse patamar máximo que conseguíramos anteriormente. Entre muitos percalços, finais e recomeços, estendemos o Terra no Asfalto até proporcionar-me uma oportunidade de vida, enfim, quando nos seus estertores, conheci o guitarrista, Rubens Gióia, e finalmente montei a minha banda de Rock autoral, sonho perseguido desde 1976, e que o caráter infantojuvenil do Boca do Céu, não permitira-me realizar em sua plenitude. Posso afirmar sem medo de errar, que o Terra no Asfalto foi a semente primordial do nascimento d'A Chave do Sol.
Continua... 

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