quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Sidharta - Capítulo 2 - Por Luiz Domingues

Então, ao saber que ele acabara de encerrar as atividades com a sua banda adolescente, o "Eternal Diamonds" (cujo baixista era o meu aluno, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues, e hoje em dia, é o baixista e líder do Klatu), fiz-lhe o convite, no que ele aceitou prontamente. Conheci o Rodrigo em 1992, apresentado pelo Alexandre como seu colega de escola, e guitarrista de sua banda.
Apesar de ser um adolescente imberbe, logo impressionei-me quando o vi a tocar violão. Tinha uma técnica muito acima do esperado para um adolescente, e com ótimas influências.
Rapidamente soube que seu pai (meu grande amigo, Tufi Hid), era guitarrista desde os anos sessenta, quando teve uma banda, que apresentou-se no circuito de bailes; domingueiras, e matinês de clubes paulistanos, como o Clube Atlético Ypiranga, por exemplo, o glorioso CAY, no Ipiranga, bairro onde os membros da sua banda, viviam. Tufi estudou no Colégio São Francisco e os outros membros da banda, no Colégio Alexandre de Gusmão, e eu apreciei muito saber através dele, que nos anos sessenta, não havia um quarteirão do Ipiranga que não houvesse ao menos uma banda, e isso correspondia ao mesmo que eu lembrava-me em relação à Vila Pompeia, do outro lado da cidade, onde eu vivia em 1966 e 1967. Tempo mágico...
                      Rodrigo e Tufi Hid, em foto bem atual

Tal banda chamava-se "D'Bicols", um trocadilho engraçado com o fato de considerarem-se "bicos" (uma gíria de época que designava gente "folgada" que entrava em festas alheias, sem ser convidada), com a óbvia  menção à banda máxima dos anos sessenta, The Beatles. Tal banda fora fundada em 1966, e Tufi Hid foi seu guitarrista até 1969, quando saiu e a banda continuou em atividade por mais um tempo. Muito interessante notar que na sua formação, passou gente que faria carreira na música, posteriormente, como Gal Oppido (futuro baterista do Grupo Rumo, nos anos 1970 / 1980); Zé Gaspar (atua até hoje, com uma big band de R'n'B / Soul e Blues pela noite paulistana); e Irineu Gasparetto (irmão de Luiz Gasparetto e filho de Zíbia Gasparetto), além de Xandão, e Ricardinho Correia (filho do famoso repórter, "Tico-Tico", que foi muito famoso na Rádio e TV Bandeirantes, por muitos anos). Tufi contou-nos que existe uma filmagem em película Super-8, de uma apresentação do "D'Bicols", feita pelo próprio "Tico-Tico", mas infelizmente ele não possui uma cópia. Certa vez, em um show realizado na cidade de Praia Grande / SP, por volta de 1967, Tufi chegou a tocar com uma guitarra que pertencia ao Roberto Carlos, oferecida como empréstimo por Mariozinho Rocha. 

Tufi ensinara violão e guitarra ao Rodrigo, desde criança, além dele ter tido aulas de piano. E aos oito anos de idade, Rodrigo venceu um desafio de execução de músicas dos Beatles, ao concorrer com adultos. Isso aconteceu em uma festa do Fã-Clube "Revolution" (não na sede da Av. Faria Lima, mas em uma casa noturna chamada : "Espaço Retrô"), dos Beatles, onde o Rodrigo tocou com adultos, membros de bandas cover do Fab Four (sua memória não foi precisa, mas contou-me ter sido membros de bandas cover famosas da noite paulistana, como "Comitatus" e "Beatles Forever"), e com seu desempenho impressionante para um menino de oito anos, ganhou um disco pirata dos Beatles. Esse feito foi registrado pelo jornalismo do SBT, e o Rodrigo tem essa reportagem registrada em uma fita VHS, mas não sei se providenciou a sua digitalização.
Além disso tudo, eu sabia que ele tinha talento vocal, pois diversas vezes o vi a imitar o Greg Lake, a cantar trechos de músicas do King Crimson, e ELP, com um timbre absolutamente parecido e muito alcance; sustentação; afinação e emissão potente.

Sabia então, desde muito tempo, que ele era um tremendo vocalista.
E para completar, tinha noção de seu talento como compositor, pois costumava mostrar-me as suas canções e apesar da sua suposta imaturidade à época, o material apresentava enorme qualidade. Uma vez, chegou a mostrar-me uma, com um arranjo de cordas sofisticado, que elaborara em um sintetizador. Na época, setembro de 1997, eu tinha trinta e sete anos de idade e ele, quase dezenove. Sob um primeiro instante, eu tinha a convicção de seu talento, mas confesso que internamente fiquei martirizado por um conflito, pois estava a formar uma banda com alguém muito inexperiente, e isso gerou-me dúvidas. Entretanto, relevei essa insegurança, e mantive o convite.

Continua... 

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