O nosso primeiro compromisso para o início de agosto de 2017, foi uma volta a um espaço onde havíamos sido muito bem tratados pela direção do estabelecimento, em nossa primeira estada ali, mas que também havia proporcionado-nos alguns dissabores, perpetrados por alguns membros da plateia que exageraram no uso de bebidas alcoólicas e naturalmente com tal fator a tirar-lhes o freio social, a torná-los assim, inconvenientes. Outro aspecto negativo foi por conta da estrutura inadequada, principalmente na questão do suporte de energia elétrica para a banda poder montar o seu equipamento.
Portanto, sob uma análise objetiva, eu diria que nas questões negativas e não por culpa da casa, bastava tomarmos providências para evitar ou minimizar os problemas e foi assim que planejamos uma volta ao estabelecimento.
Mas o local da apresentação era externo e sim, estou a referir-me ao boulevard onde ficava a casa: "Cervejaria da Granja". Prevenidos em relação às dificuldades no suporte energético ali naquele espaço, providenciamos mais extensões.
Mas pelo fato de que o show seria mais uma vez ao ar livre, as intempéries da natureza poderiam atrapalhar e esse risco foi permanente nessas circunstâncias.
Por muito azar, um dia antes da apresentação, choveu muito. Ora, nos meses de inverno, a incidência de chuva em São Paulo é praticamente nula, historicamente, todavia, tal fato deixou-nos receosos pela realização do show no dia seguinte.
Em suspense, ficamos por horas a consultar sites com dados de meteorologia para saber das condições na Granja Viana, bairro onde ficava o estabelecimento e assim, só quase no início da noite, resolvemos não cancelar, mediante a perspectiva de que esteve afastada a possibilidade de uma chuva torrencial, mas apenas uma garoa.
Mesmo assim, ao chegarmos no estabelecimento, uma tenda fora providenciada pela casa, portanto, mesmo se a garoa viesse conforme o previsto, a nossa integridade e sobretudo de nossos instrumentos e equipamentos que de forma alguma poderiam ficar expostos, estaria garantida.
Resolvida essa questão de abrigo, e com extensões extra para prover a energia com maior segurança, tudo pareceu ocorrer bem, mas no entanto uma surpresa desagradável ocorreu. Ao providenciar a extensão principal, ligada na caixa de força da Cervejaria, o funcionário ligou no parâmetro "220", e não avisou ao Kim, que usaria essa fonte primordial para alimentar a sua mini usina energética, que daí sim, alimentaria todas as demandas da banda.
Assim que ligou o seu estabilizador de voltagem, o inevitável ocorreu, com o ruído típico de queima, seguido da fumaça característica, Bem, essa apresentação já estava sob judice desde a suspeita de chuva, portanto, queimar a usina foi a prova cabal de que não deveríamos ter saído de casa e seguido a orientação do horóscopo de jornal...
Mas resilientes como sempre, Os Kurandeiros dificilmente desanimavam ante adversidades e banda "cascuda" que foi desde sempre, deu um jeito, por que com o perdão do clichê surrado, "o show deve continuar"... portanto, ao arriscarmos ligar tudo com extensões e sem a usina, a garantir a estabilidade da eletricidade, a banda achou uma solução e começou a tocar, heroicamente, eu diria.
Tudo ia relativamente bem, até o término da primeira entrada, quando confraternizamo-nos com amigos que ali prestigiaram-nos. Entre eles, Landoneto, o responsável pela nossa primeira ida ao estabelecimento, mais Regina de Fátima Galassi, que estava a acompanhar a banda há tempos e a nos fotografar e filmar constantemente.
E também com uma surpresa, a compositora paranaense, Suka Rodrigues, viúva do grande Ivo Rodrigues, este, o ex-guitarrista/ cantor e compositor de bandas seminais do Rock brasileiro setentista, tais como "A Chave" e "Blindagem".
Ela estava a visitar a sua filha que morava em São Paulo, no bairro de Alphaville, portanto relativamente perto da Granja Viana. Agradável surpresa, conversamos bastante. Isso sem contar a presença simpática de um casal de amigos da Regina, cuja moça, chamada Sandra, já houvera assistido-nos ali, por ocasião de nossa primeira apresentação e tanto ela quanto o seu marido, a serem super simpáticos.
Os Kurandeiros em ação na Cervejaria da Granja, em São Paulo, no dia 3 de agosto de 2017. Ainda bem que a tenda deu-nos um abrigo mínimo ali. Click de Regina de Fátima Galassi
Mas aí a tal da garoa fina tratou de intensificar-se e ao insinuar-se como uma chuva, mesmo, com pingos grossos que vieram sobre a mesa onde estávamos a conversar, só nos restou corrermos para recolher o equipamento e o cancelamento sumário do espetáculo pareceu inevitável.
Contudo, por ter fica só na ameaça, nós resolvemos voltar para a segunda entrada. Foi quando uma outra surpresa ocorreu. Uma viatura da polícia e um carro oficial com funcionários públicos munidos de pranchetas e aparelhos de medição de decibéis em mãos, surgiram. Uma reclamação eclodira da parte de uma residência próxima e pareceu que o nosso Blues-Rock estava a atrapalhar a melhor compreensão dos diálogos travados pelos personagens da novela das nove na vizinhança.
Go, Kurandeiros! Os Kurandeiros em ação na Cervejaria da Granja, em São Paulo, no dia 3 de agosto de 2017. Foto: Regina de Fátima Galassi
Seguiram-se pedidos para que abaixássemos o som imediatamente e nós resolvemos parar, ao vermos a dona da casa a conversar com os fiscais e policiais. Todavia, de súbito, eis que todos foram embora e a proprietária sinalizou-nos para que continuássemos. apenas a contermos o ímpeto sonoro.
Mesmo com tal resolução da parte da mandatária da casa, não existe nada mais anticlímax para uma banda, do que esse verdadeiro choque térmico em ter que conter o volume e assim quebrar completamente o astral do show.
Mesmo com ânimo coibido, seguimos a tocar, ao fazer uso de um repertório mais ameno, é bem verdade.
Nesse ínterim, vimos várias viaturas a passarem pela rua por duas vezes os policiais pararam e ficaram a conversar com a dona e o gerente. Isso sem contar que um funcionário público ficou ostensivamente parado do outro lado da rua, no estacionamento de um supermercado, a usar o medidor de decibéis, por pelo menos meia hora.
Não critico, ao pensar como cidadão, pois eu entendo que shows ao ar livre tendem a irritar as pessoas que não estão a apreciar o evento. Isso é muito normal e claro que o direito delas ao silêncio nesse horário avançado é legítimo.
Por outro lado, ao não ser parcial pela obviedade da situação, mas a relatar fidedignamente o que ali eu vi e vivi, o nosso volume ali praticado não foi nada ensurdecedor. Eu e Kim usávamos amplificadores ao estilo "cubo", bem modestos em sua potência e não plugados no mini PA. O PA, por sua vez, também bem comedido e a alimentar apenas as vozes e tendo como atenuante o fato da bateria estar completamente "in natura", sem tratamento sonoro algum, portanto, não foi nada absurdo o que produziu-se ali.
"Meu Último Blues", (trecho - a criaro a música ali ao vivo e bem na hora em que os dirigentes da casa conversavam com policiais e fiscais a respeito do volume) Cervejaria da Granja, São Paulo. 3 de agosto de 2017
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=d8el07lK9PE
Fomos a conduzir a apresentação, mas sem dúvida que o astral por conta dessas inspeções policiais foi afetado e assim, a apresentação arrastou-se até o próximo intervalo. Sinceramente, achei que estaria encerrada a nossa participação. Se mais cedo a polícia e os fiscais ficaram de prontidão ao alegarem reclamações da vizinhança, como acreditar ser possível haver uma terceira entrada, com o horário ainda mais avançado?
Mas o Kim não só começou a tocar Rocks mais vigorosos, como aumentou o volume e fez as suas costumeiras brincadeiras ao microfone, para brincar com o público etc. Portanto, acredito que a senhora idosa que queria ver a sua novela em paz, foi dormir e após a ingestão de seu reconfortante chá de maracujá, tenha apagado no sofá e ignorado por conseguinte, o som do Led Zeppelin que tocamos com acentuado vigor...
Desta feita, a presença de playboys impetuosos foi bastante amenizada, pois a casa organizara uma festa para motociclistas e com tal público em maioria ali presente, predominou a sua reação muito mais calorosa e respeitosa para conosco.
Mas houve sim o contingente de garotões bem nascidos e malcriados, altivos como sempre e muitos que estiveram ali, por ocasião da nossa primeira vez nesse espaço e fato esse já relatado anteriormente.
Mais uma vez, bêbados sem noção vieram pedir para "cantar" e pasmem, aquela senhora que destratara-nos na primeira vez e cujo caso eu comentei anteriormente, novamente veio pedir para assumir o microfone, também. Bem, como diz o Kim nessas situações: -"o karaokê é ali na esquina"...
"Dead Flowers" (trecho) (The Rolling Stones), na Cervejaria da Granja, de São Paulo, em 3 de agosto de 2017
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0MHweM2os3A
Tirante tudo isso, a apresentação foi boa nos momentos em que tocamos livremente sem a apreensão gerada por reclamações, presença policial e de fiscais etc. E mais uma vez, a hospitalidade ofertada pelo simpáticos Prado, pai & filha, mais os garçons e o gerente, foi muito cortês.
E a noite encerrou-se sob intenso frio, para ter como antídoto uma sopa quente e saborosa, servida por um "food truck" estacionado em frente e espertamente a atrair a atenção dos frequentadores da cervejaria.
A noite de revés encerrou-se com mais uma surpresa, nem tanto grave, mas que tratou de coroa-la como uma noite de infortúnios. No caminho para a estrada que deixar-nos-ia na pista certa, sentido São Paulo, sob um emaranhado de ruas estreitas, eis que nos deparamos com uma súbita interdição para obras, da parte da companhia de água e esgoto do estado de São Paulo, a gloriosa "Sabesp".
Sem outra alternativa mais prática, mediante uma longa passagem pela pista contrária da estrada, eis que finalmente encontramos um retorno. Cerca de 3:00 horas da manhã e a estrada mostrava-se repleta de caminhões que estavam a se deslocarem de diversos quadrantes do interior do estado rumo à capital.
Todos pareciam ensandecidos, em velocidade muito acima da permitida e muitas vezes a disputarem corrida entre si, perfilados nas quatro faixas da autoestrada. Tivemos que dirigir com bastante atenção naquele inferno tenso que recordou-me o filme dos anos setenta: "Duel" ("Encurralado"), com o personagem do ator, Dennis Weaver, a ser perseguido por um caminhoneiro assassino que deseja matá-lo a todo custo e sem nenhuma motivação plausível e aparente.
Aconteceu no dia 3 de agosto de 2017, na Cervejaria da Granja, no bairro da Granja Viana, na zona sudoeste de São Paulo. O próximo compromisso seria na semana subsequente, no Santa Sede Rock Bar, a sempre simpática casa dos amigos Cleber Lessa e Fernando Camacho.
Continua...
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