quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 75 - Por Luiz Domingues

Então eis que chegou o dia de dizer adeus a um espaço que representou muito na história d'Os Kurandeiros. Mais que isso, o Magnólia Villa Bar foi seguramente o palco onde a banda mais apresentou-se, ao menos nesse período em que tornei-me seu componente, desde agosto de 2011 e de forma emblemática, foi ali mesmo a minha estreia com a banda na ocasião citada.

Foi uma grande pena, mas o proprietário, Alexandre Rioli driblou as dificuldades o quanto pode, contudo, a falta de perspectiva de uma melhora na movimentação da casa, culminou em decretar a impossibilidade do estabelecimento prosseguir em sua normalidade e assim, com pesar, mas ao mesmo tempo honrados, recebemos o convite para fazermos o show de encerramento das atividades e convenhamos, nada mais justo e significativo, visto que entre tantos artistas que ali apresentaram-se ao longo de doze anos de atividades (e a acrescentar o dado adicional de ter tido um leque enorme de vertentes e não circunscrito ao espectro do Rock e do Blues, apenas, mas com variadíssimas manifestações musicais), que fôssemos nós, Os Kurandeiros a fecharmos a noite. 

Ao ir além, a nossa parceria foi tão forte ali dentro que é sabido, pública e notoriamente que através dessa casa nós mantivemos uma dupla atividade, ao assumirmos a identidade como "Magnólia Blues Band", por dois anos e para tanto, o trio base d'Os Kurandeiros, acrescido do próprio dono da casa e tecladista, Alexandre Rioli, passou com tal denominação por mais de cem apresentações naquela palco, a receber artistas convidados da cena do Blues, inicialmente, mas aos poucos o leque foi a alastrar-se e muita gente do Rock, também compareceu. Isso sem contar um período em que a Magnólia Blues Band tornou-se um quinteto com a presença do vocalista carioca, Bruno Mello em nossa formação.

Então, convocados para tocar nessa noite de despedida, a ideia foi concretizar um show d'Os Kurandeiros, com o seu set list autoral em 100% e uma breve inserção da Magnólia Blues Band, a demarcar a sua presença, igualmente. 

No entanto, estava marcada uma terceira atração, no caso uma banda cover denominada: "Old Boys Band", com um repertório igualmente calcado no Blues-Rock e com pitadas de Pop e que estava agendada previamente como atração sazonal, mas com a decisão do Alexandre de fechar o estabelecimento, ele decidiu manter a data dos rapazes normalmente e claro, sem problemas para nós, inclusive, ao se tratar de uma noite festiva, embora o mote da reunião fosse triste, em tese. 

Então foi assim, na noite de 27 de outubro de 2017, o grupo, "Old Boys Band" subiu ao palco e exibiu o seu set, inclusive ao tocarem várias músicas internacionais habituais do repertório cover d'Os Kurandeiros e da Magnólia Blues Band, em uma boa apresentação, a arrancar aplausos da plateia.

Os Kurandeiros receberam o amigo, Cesar Gavin, persona simpaticíssima. Magnólia Villa Bar de São Paulo, em 27 de outubro de 2017. Acervo e cortesia de Cesar Gavin. Click de Adriana, sua namorada

E por falar em plateia, foi com alegria que recebemos a visita do Cesar Gavin, amigo de longa data da banda. Gavin é baixista e teve no início dos anos noventa, uma banda com o nosso baterista, Carlinhos Machado. 

Desde muito tempo, Gavin tornou-se um dos maiores agitadores culturais do Brasil, ao manter um site, mais uma Blog e um canal de YouTube, e munido por tais ferramentas a trabalhar fortemente pelo Rock brasileiro. Gavin acompanhava shows constantemente, escrevia resenhas dos espetáculos que acompanhava, anunciava lançamentos e manteve um talk-show sensacional, no qual entrevistava músicos ligados ao Rock Brasileiro de todos os tempos, e nessa altura, o acervo já era tão impressionante que tornou-se ao meu ver um museu vivo com depoimentos ricos, a alinhavar histórias e reminiscências trazidas pelos seus convidados. Eu mesmo já havia gravado a minha entrevista e que renderia no futuro, sete programas, dada a enorme profusão de histórias que eu ali narrei. 

A gravação ocorreu em agosto de 2017 e foi um prazer participar do programa "Vitrola Verde".

Os Kurandeiros em ação! Magnólia Villa Bar, 27 de outubro de 2017. Clicks, acervo e cortesia de Cesar Gavin
 
Então chegou a hora e Os Kurandeiros subiram ao palco do Magnólia Villa Bar, para realizar a derradeira apresentação no famoso palco dessa simpática casa. Fizemos um set autoral e bastante animado, com a plateia a responder com entusiasmo. Não percebi tristeza no ar, apesar dos pesares e sinceramente, achei que o show seria um tanto quanto tristonho pelos fatos já mencionados, mas pelo contrário, o clima ali, de forma generalizada, foi sobretudo pautado pelo agradecimento da parte de todos. 

Foi um show marcado por tal sentimento, devo salientar e ao menos na minha percepção isso foi bastante marcante ali, não apenas durante o nosso show, mas na noite inteira de uma forma geral.

Os Kurandeiros com a inclusão do tecladista, Alexandre Rioli, a se transformar automaticamente na Magnólia Blues Band. Noite de 27 de outubro de 2017. Click: Lara Pap

Ao final, sim, houve uma inserção da Magnólia Blues Band e foi ótimo tocarmos alguns clássicos do Blues e do Blues-Rock, além de duas músicas que foram praticamente obrigatórias pelas circunstâncias, ao meu ver: "Magnolia" e "I Got my Mojo, Working". E claro que foi muito bom tocarmos tais canções que muito representaram para Os Kurandeiros e também para a Magnólia Blues Band. 

Confraternização final ao final da última noitada da casa de espetáculos, Magnólia Villa Bar, em 27 de outubro de 2017. Da esquerda para a direita: Caio Gouveia (vocalista da banda "Old Boys Band"), Kim Kehl, Carlinhos Machado, Patrícia Araújo (essa moça foi a responsável por indicar Os Kurandeiros à casa, em 2009, ao darmos início assim a longa parceria), Alexandre Rioli (tecladista e proprietário da casa), Luiz Domingues, o baterista do "Old Boys Band" (foge-me o seu nome) e o tecladista do "Old Boys Band", Eduardo Castro. Click de Lara Pap
"Pro Raul", no show de encerramento das atividades da casa de espetáculos, "Magnólia Villa Bar, de São Paulo. 27 de outubro de 2017.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=N-5gaB7UYlY&t=65s
"Anjo", no show de encerramento da casa de espetáculos, "Magnólia Villa Bar", de São Paulo, em 27 de outubro de 2017.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Xm7TBmRpl64  

Finito para a famosa casa da Lapa, na zona oeste de São Paulo, mas a vida seguira para Os Kurandeiros e dois dias depois estávamos escalados para voltar, curiosamente, ao mesmo bairro de São Paulo, mas desta feita para tocarmos em um evento ao ar livre, a se tratar da 8ª Feira de Artes & Cultura da Lapa.

Realizada pelo Centro Cultural Pompeia, o bairro vizinho, a Feira da Lapa é bem menor que a tradicional Feira da Vila Pompeia e isto é um paradoxo, ao se considerar que o bairro da Lapa é muitíssimo maior em extensão territorial e densidade populacional, mas salvo alguma explicação lógica sobre tal fenômeno e da qual desconheço, o fato é que assim acontece anualmente. 

Todavia, mesmo dessa forma, ao fechar-se apenas um quarteirão de um bairro imenso, a festa apresenta normalmente atrações boas para os moradores e atrai moradores de bairros vizinhos e até longínquos, mesmo por que os artistas que ali apresentam-se anualmente, culminam por atrair os seus fãs e isso encorpa bem o contingente

E houve ainda um componente pessoal, no meu caso,  pois naquele quarteirão da Rua Faustolo, entre as ruas transversais, Sabaúna e Tibério, eu mantinha as minhas lembranças pessoais, visto que morei na rua paralela (Rua Clélia), exatamente na mesma altura, nos idos de 1966 e 1967, portanto, que nostálgico em meu caso, participar de um evento ali nas imediações bem próximas de onde morei, há cinquenta anos atrás e com o palco virado para o muro da escola estadual onde eu quase estudei no ano de 1967 e só não iniciei os meus estudos primários ali por conta de uma burocracia de ocasião, que a secretaria de educação estadual criou e por força do destino, com a minha família a se mudar para um bairro da zona sul, ao final desse ano de 1967, eu só pude começar a estudar de fato, em 1968, em outra escola desse outro bairro. Mas foi divertido tocar ali, por tudo o que mencionei acima.

O dia amanheceu nublado e a previsão meteorológica foi bem pessimista pelos dados fornecidos por parte dos meios tradicionais da mídia e na internet, mas na realidade, a ameaça de uma chuva torrencial não se confirmou. Ficou apenas manifestada em poucos pingos e que nem chegou a abalar a animação das pessoas e predisposição dos organizadores. Ótimo, quando Os Kurandeiros subiram ao palco, o tempo mostrara-se firme e a empolgação muito boa. 

Antes porém, assistimos várias bandas que precederam-nos, com boa performance de todas. Gostei do trabalho dessa rapaziada, embora a maioria se empenhasse a tocar covers em excesso, o que em meio a um festival ao ar livre foi um pouco decepcionante, visto que ali deveria ter sido um espaço ideal para a música autoral. 

Espero que os organizadores pensem nessa hipótese com carinho em futuras edições, e não digo a proibir, mas a criar mecanismos  para abrir mais espaço para quem cria e digo isso também para essas bandas que tocam covers predominantemente, pois ao se mostrarem como boas bandas, eu gostaria de revê-las a executarem os seus trabalhos próprios, em outra oportunidade.  

Os Kurandeiros a tocarem em cima de um caminhão de trio elétrico, em plena Rua Faustolo, na Lapa, bairro da zona oeste de São Paulo, durante a 8ª Feira de Artes & Cultura da Lapa, em 29 de outubro de 2017. Click, acervo e cortesia de Rogério Utrila

O palco em questão foi montado em cima de um caminhão de trio elétrico e quando subimos a fim de prepararmos o nosso set, notamos que ele balançava muito. Todavia, essa percepção não fora clara quando vimos as outras bandas a atuarem, pela nossa percepção dali da plateia. 

Bem, a despeito desse incômodo, fizemos um show de choque bastante animado. Confesso, foi estranho ter que tomar um cuidado extra no tocante ao equilíbrio e realmente o balanço causara um desconforto ao ponto de sugerir a vertigem. 

O Kim disse-me que tocou estático e preocupado com isso. Para o Carlinhos foi ainda pior, visto que tocar bateria nessas circunstâncias é realmente um sacrifício, com as peças do instrumento a saírem das suas posições básicas e além disso, há a sensação de labirintite e não estou a exagerar. A minha impressão foi a de ter tocado em pé, em uma canoa em alto mar.

 
Fotos dos bastidores do show que realizamos na 8ª Feira de Artes & Cultura da Lapa, no dia 29 de outubro de 2017. Esquina das Ruas Faustolo e Tibério, no bairro homônimo da zona oeste de São Paulo. Foto 1: Fora do enquadramento à esquerda, Luiz Domingues, com Carlinhos Machado, Lara Pap, Paula Simone Iannone (amiga) e Kim Kehl e fora do quadro à direita, Duck Strada. Foto 2: o casal Kurandeiro em destaque, Kim Kehl & Lara Pap, com Duck Strada e Carlinhos Machado ao fundo no lado esquerdo e Luiz Domingues por detalhe no canto direito. Foto 3: Kim Kehl em destaque, com Lara Pap por detalhes e de costas. Foto 4: da esquerda para a direita, Duck Strada, casal desconhecido, Áureo Alessandri (guitarrista dos Blues Riders e escritor), João Pirovic (músico e fotógrafo), Luiz Domingues, Carlinhos Machado, Kim Kehl, Carlos Dutra (fotógrafo), Geraldo "Gegê" Guimarães (guitarrista do "Pompeia 72" e coorganizador do evento), e na frente de todos, o radialista/agitador cultural e coorganizador do evento, Rogério Utrila. Fotos 1, 2 & 3: Acervo e cortesia de Paula Simone Iannone. Foto 4: Lara Pap      

Todavia, falta de estabilidade física a parte, foi um show divertido e pela boa quantidade de amigos queridos que ali compareceu e tornou o bastidor, muito agradável.
Os Kurandeiros a tocarem em cima de um caminhão de trio elétrico, em plena Rua Faustolo, na Lapa, bairro da zona oeste de São Paulo, durante a 8ª Feira de Artes & Cultura da Lapa, em 29 de outubro de 2017. Click, acervo e cortesia de Paula Simone Iannone
"Anjo" (Kim Kehl), na 8ª Feira de Artes & Cultura da Lapa, em São Paulo, no dia 29 de outubro de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=q4j45Hjxp8w

"Oh Rita" (Kim Kehl), na 8ª Feira de Arte & Cultura da Lapa, em São Paulo, no dia 29 de outubro de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=DaumUKhiIUo
A nossa próxima missão dar-se-ia poucos dias depois e na verdade, veio a inaugurar uma mini temporada que prometera ser animada! 

Continua...

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