Quando eu cheguei ao parque, notei que a estrutura da feira se mostrara bem grande, mediante uma infinidade de barracas e também de "food trucks" estacionados em seu interior, ao comprovar a vocação do empreendimento em torno da gastronomia que estava plenamente justificada, com muito boa organização. Já da rua localizada na lateral norte do parque, na qual eu estacionei o meu carro, eu ouvi o som produzido por um "DJ", certamente contratado para sonorizar a feira dentro de seus propósitos mais adequados, ou seja, pelo fato do som por ele proposto estar a envolver música eletrônica com aquele sentido mecânico na acepção do termo e sobretudo, pelo volume muito alto que mesmo à distância e no posicionamento contrário do PA por ele usado, já deu para notar com muita veemência e na minha opinião, já bem desagradável pelos dois aspectos citados (escolha de "repertório" e volume excessivo imposto por tal rapaz).
Bem, à medida em que eu caminhei pela face lateral do parque em direção ao portão principal localizado na rua Machado de Assis, me impressionei, como já citei, com a quantidade de opções gastronômicas ali oferecidas nas barracas, caminhões culinários e também negativamente pelo som ambiente proposto pelo DJ, que realmente se mostrara muito alto. Tudo bem, eu entendo a intenção do rapaz e com a qual certamente fora apoiada pela direção da Feira, no sentido de se manter o volume muito alto para que o som chegasse na feira como um todo e a se considerar a dificuldade para sonorizar um espaço ao vivo de forma mais equânime como devia promover em ambientes fechados. Todavia, ali perto do PA contratado pela organização, estava ensurdecedor e sim, houve a presença de muitas barracas também instaladas naquela cercania e as pessoas simplesmente evitavam ir conhecer as bebidas e comidas oferecidas por tais expositores, por simplesmente não aguentarem a trilha musical sob um volume inadequado, a se parecer como uma "boite" ou casa noturna similar.
Uma pessoa ligada à Associação Cultural do Rock, no caso, Fátima Stoppelli, foi conversar com a organização da Feira e solicitou que o DJ atenuasse um pouco aquele volume acachapante e também reivindicou alguns minutos para que a nossa banda pudesse organizar o som minimamente antes de se apresentar e anote-se, não seria um soundcheck profissional de fato, mais minucioso e imprescindível para nós e igualmente para a técnica de som responsável pelo PA, porém, a se tratar de uma arrumação muito ligeira, inadequada certamente, mas melhor do que nada para que pudéssemos fazer o show com condições mínimas para tal.
A resposta que ela obteve não foi malcriada da parte de um rapaz que se apresentara como um assessor da organizadora geral, mas o que ele proferiu, infelizmente se mostrou insensível e descabido no sentido de que o sujeito não fazia a menor ideia da nossa necessidade e dessa forma, tal pedido formulado pela Fátima, deve ter sido interpretado na sua avaliação incauta, como um arroubo inconveniente da nossa parte. Além, é claro, de que na ótica dele o DJ não poderia ser interrompido de forma alguma, a não ser enquanto tocávamos. Bem, isso denotou bem o tipo de mentalidade à qual eu aludi anteriormente, isto é, a Feira não tinha familiaridade com o Rock e vice-versa e neste caso, não caberia reclamação de ambas as partes, embora a disparidade causasse espécie para todos, eu acredito.
Muito bem, já que os shows de Rock foram contratados, devo ressaltar mais uma vez a perspicácia da parte da Associação Cultural do Rock (ACR), que vendeu o pacote para a Feira e por outro lado, incômodo a parte, aguentar certos disparates teria que ser relevado da parte dos músicos envolvidos e assim, no cômputo geral, creio que suplantar certos aspectos inconvenientes de parte a parte se tornou prudente.
Também acho que faltou uma tenda a ser usada como camarim e algumas cadeiras de plástico para que os músicos tivessem um refúgio para aguardar a vez de tocar e se abrigar do forte calor, mas tudo bem, eu entendo que a Feira não estivesse preparada para tal tipo de abordagem e ao contar com um "PA" para que um DJ sonorizasse o evento, lhes bastara apenas isso para suprir o tipo de ambientação com a qual estavam acostumados a produzir os seus eventos com vocação gastronômica.
Cabe destacar também o estranho nome que a Feira utilizou: "Big Food Festival - Festival da Iguinorança", algo que realmente me despertou a atenção de uma forma negativa. Veja, não quero passar a imagem de um sujeito intransigente, mas na minha ótica, "Big Food Festival", apesar do anglicismo desnecessário, cumpriria a função, mas eu sinceramente não gostei do anexo proposto, ainda mais: "Festival da Iguinorança", no sentido de que além de achar o mote desnecessário pela sua intenção popularesca, pior ainda foi forçar uma grafia errônea, talvez para tornar ainda mais coloquial a comunicação, bem naquela predisposição equivocada de que ao se falar ou escrever de forma errada, criamos empatia com pessoas simples, dotadas de poucos recursos educacionais e culturais. E assim, para a minha percepção criou-se o inverso, ou seja, com a ortografia assassinada dessa forma, eu antipatizei com certeza.
Duas equipes de reportagem estavam no local a transmitir ao vivo através dos seus respectivos telejornais vespertinos, a representar as duas maiores emissoras de TV do país na ocasião e assim a denotar que a organização da Feira realmente trabalhava bem em diversos outros aspectos, além de deter prestígio e isso foi positivo, eu pensei.
Carlinhos Machado, meu amigo e colega d'Os "Kurandeiros atuou desta feita com a Uncle & Friends". Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
A formação da banda apresentou uma ligeira mudança em relação ao time que representou o trabalho do nosso Uncle-mor, Lincoln Baraccat, no show anterior (Casa de Cultura Chico Science e já relatado anteriormente), com a presença do meu amigo e companheiro n'Os "Kurandeiros", Carlinhos Machado, ao invés de Dmitri Medeiros que atuara na ocasião citada.
Bem, o calor se mostrava abrasador e sem uma tenda, gazebo ou barraca com função de camarim, buscamos refúgio na sombra das árvores e nos poucos e disputados bancos de jardim disponíveis naquela circunstância, dada a demanda e sobretudo pela incidência de muitos idosos e crianças pequenas no ambiente. Dessa forma, sem muitas opções, ficamos relativamente perto do palco e consequentemente, expostos ao massacre sonoro proposto pelo "DJ" e sim, infelizmente além de irredutível, esse rapaz se mostrou bastante altivo ao responder que não abaixaria um "DB" sequer, quando foi interpelado pela produtora da ACR, ao argumentar sobre o disparate por ele perpetrado em termos de volume. Paciência, ficamos ali a torrar sob o calor semelhante ao do deserto do Saara e a aguentar uma seleção abominável de música mecânica sem sensibilidade artística alguma e devo ser justo, talvez ele tenha tentado criar um ambiente mais "Rocker" antes de nos apresentarmos, ao propor uma seleção de Pop-Rock dos anos oitenta. Tudo bem, na comparação com o que colocara antes, ficou um pouco mais palatável, mas aquela pasmaceira Techno-Pop oitentista também me aborreceu sobremaneira e só reforçou a minha impressão pessoal negativa sobre tal produção dentro das história do Rock, desde a sua época em voga, devo salientar.
Bem, finalmente o "DJ" desligou o seu laptop e sob o delicioso som do silêncio, eu pude ver no seu semblante que ele estava incomodado com a "interrupção" da sua atuação em detrimento de uma banda de Rock a ocupar o palco e a fazer uso do PA. Ora, ora, ao que tudo indica, a determinação de haver a realização do nosso show, o incomodou e se me permite o leitor, a recíproca foi verdadeira de minha parte a configurar um empate técnico, digamos assim.
Bem, a contrariar a orientação amadora da parte do rapaz que se apresentara como assessor da Feira e que nos "proibira" terminantemente de preparar o som e que ao contrário, na determinação de sua parte, nós deveríamos subir ao palco e tocar imediatamente, eis que o afrontamos ao gastarmos reles cinco minutos para prover uma arrumação muito básica, algo inconveniente para o nosso padrão de profissionalismo, mas certamente também na inadequada ótica dele, que devia achar que uma banda formada por músicos de carne & osso funcionavam exatamente como o seu DJ que mudava de uma música para outra mediante um click no seu laptop. Em suma, a caracterizar dois padrões de percepção de mundo bem diferentes entre si.
Da esquerda para a direita: Roy Carlini, Caio Durazzo, Carlinhos Machado (atrás, na bateria), Lincoln Baraccat e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Ufa, finalmente o Rock and Roll visceral tomou conta do ambiente e devo ressaltar que a técnica de som responsável pelo PA se mostrou muito hábil ao prover uma equalização bastante agradável. Esqueci de perguntar o seu nome para poder nominá-la com louvor neste relato, mas gostei da atuação dela ao se mostrar discreta na sua maneira de agir, competente na sua atribuição como técnica e além do mais, ela não nos falou nada, mas ficou implícito que também estava cansada do massacre proposto pelo DJ que nos antecedera e sim, sob um padrão de volume muito mais ameno que ela imprimiu na equalização do PA sob a sua responsabilidade, o nosso som se mostrou muito agradável para todos ali presentes.
Da esquerda para a direita: Roy Carlini, Caio Durazzo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Há de se ressaltar também que a banda, mesmo sem ensaios prévios, e nem ao menos uma combinação de última hora estabelecida entre os músicos, empreendeu de uma forma muito natural um padrão de dinâmica admirável. Lembro-me de haver comentado com o Caio Durazzo sobre esse aspecto, após essa apresentação e ele também havia ficado com tal impressão, o que foi muito agradável para todos nós. Com dinâmica tudo fica mais agradável para todos, é um pressuposto básico para a boa música exercida de uma maneira profissional.
Da esquerda para a direita, vemos Roy Carlini a conversar com Lincoln Barracat. que sentado ao fundo, estava em momento de repouso estratégico, pois o calor esteve abrasador naquele instante. Também no fundo, mas centralizado, Carlinhos Machado. Na frente, Caio Durazzo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Tocamos praticamente o mesmo conteúdo do set list usado na apresentação anterior que cumpríramos na Casa de Cultura Chico Science, dias antes, com os Rocks, baladas e blues do repertório clássico de Lincoln Baraccat e houve um acréscimo de última hora, quando o Lincoln se afastou brevemente do palco para ganhar hidratação, devido ao forte calor ali presente e assim, o ótimo, Caio Durazzo, tomou a iniciativa ao propor Rocks cinquentistas internacionais e também um tema com teor Country-Rock, no caso uma canção do saudoso, Johnny Cash, e de imediato a banda respondeu de improviso com grande desenvoltura para que pudéssemos tocar além do previsto e assim cumprir uma carga maior, solicitada de última hora pela produção.
Muitas pessoas filmaram e publicaram tais materiais colhidos em redes sociais, mas eu só consegui preservar uma filmagem para poder alojar no YouTube, ou seja, talvez no futuro as demais filmagens também saiam do espectro mais restrito de redes como o Instagram e Facebook e atinjam um portal mais aberto nesse sentido. Por enquanto, fique com a filmagem da nossa performance a defender a música, "Comprimido":
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VoVYnGMTWUo
Naturalmente que ao surgir material adicional, será devidamente alojado em meu Blog 3, que é o meu museu virtual de carreira.
Bem, para anotar mais um aspecto positivo do festival, acredito que uma escalação com poucas bandas e a se observar bem espaçadas as suas respectivas apresentações, a garantir assim, tranquilidade na transição entre uma e outra, foi algo positivo no sentido de que é muito raro em festivais ao ar livre que haja tal predisposição. Claro, que com a presença de mais bandas, o espaço fica mais generoso para abranger tantos artistas que pleiteiam espaço, mas fica a ressalva de que a "ACR" trabalhava firme para garantir mais bandas em outras edições dessa mesma feira e que inclusive, já estavam sob planejamento adiantado nessa ocasião.
Caio Durazzo, com Carlinhos Machado, atrás na bateria e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Muito bem, encerramos em alto astral a nossa apresentação e ao caminhar na companhia do meu amigo, Carlinhos Machado (e da sua namorada, a simpática, Alice), em direção ao seu carro, que estava estacionado na rua lateral (rua José do Patrocínio), lhe contei sobre a minha lembrança pessoal sobre o bairro, o novo parque em si e também sobre o estúdio que ali existia e no qual a Patrulha do Espaço sob a minha formação deu os seus primeiros passos em 1999.
Na primeira foto ainda no palco, a banda agradece os aplausos e abaixo, já de saída do ambiente do festival, posamos novamente. Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro
Ficou implícito nessa ocasião que o grupo Uncle & Friends teria uma data a mais para o início de 2023, e a ser cumprido no palco de um novo e sensacional Centro Cultural então recém inaugurado na cidade de São Paulo, portanto, essa minha participação com o agradável grupo liderado pelo artista multi-mídia, Lincoln Baraccat, o grande "Uncle" e nós os músicos convidados como os seus "friends", teria mais uma página a ser acrescentada.
Portanto, possivelmente continua no futuro...
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