Tivemos uma sucessão de cancelamentos de ensaios motivados por problemas de saúde de todos os representantes do trio de cordas da banda (cada um de uma vez), e também por um problema meu de agenda meu em outra ocasião, quando fui me apresentar com a banda do meu amigo Lincoln Baraccat ("Uncle & Friends"), e em outra data por conta de problemas que o Wilton Rentero teve para resolver em sua casa de praia, motivado pelo mau uso do imóvel, observado da parte de um inquilino dele. Em suma, foram cinco semanas sem grandes avanços no projeto do resgate.
Até que finalmente, nos estertores do ano de 2022, nós conseguimos agendar um ensaio para o dia 30 de dezembro, mais uma vez realizado na residência do Osvaldo Vicino, e desta feita, fechamos mais algumas ideias para o Baião-Xaxado-Rock, "Revirada". Fechado o mapa provisório da música e já a acrescentar algumas ideias para anexar ao futuro arranjo definitivo, ficamos contentes pelos adendos novos sugeridos.
Na mesma configuração da foto anterior. Ensaio do Boca do Céu em 30 de dezembro de 2022. Still de vídeo. Acervo e cortesia: Osvaldo Vicino
No mesmo dia, trabalhamos um pouco com a bela balada do Laert, "Instante de Ser", mesmo cônscios de que o Laert sinalizara dúvida sobre a harmonia da canção e ainda não surgira uma oportunidade para que ele pudesse rever conosco tal quesito. Entre nós, no entanto, ficou acertado que valeria a pena insistirmos para avançar mesmo com tal pendência, exatamente para que pudéssemos evoluir outros aspectos da criação de um arranjo, notadamente a parte rítmica e a se buscar um padrão de sincronia criativa e complementar entre as duas guitarras.
Ainda ao final do apontamento, o Wilton nos mostrou ao ukulelê, uma ideia para a abertura da canção folk, "Desprogramação", mas na verdade, ele desejou mesmo nos explicar que haveria uma segunda parte para essa abertura, fruto de uma criação sua de muitos anos atrás, para um canção de sua autoria e inédita. Neste caso, ele nos disse que poderíamos usar a parte "A" da sua criação para usarmos como abertura para "Desprogramação".
Na mesma configuração da foto anterior. Ensaio do Boca do Céu em 30 de dezembro de 2022. Still de vídeo. Acervo e cortesia: Wilton Rentero
Em suma, chegamos ao final de 2022 com o sentimento de que havíamos fechado a parte B do resgate em sua parte bruta de criação de mapas provisórios de trabalho, com a devida ressalva das pendências sobre as dúvidas do Laert a respeito das músicas "Instante de Ser" e "Desprogramação" (em torno da harmonia ambas), e sim, o Blues-Soul, "1969", que realmente não conseguimos estabelecer um rumo, dada a questão do áudio enviado pelo Laert, ainda em 2021, não ter reunido as melhores condições para que pudéssemos construir um esqueleto harmônico como base.
E sim, também restou a nossa dúvida sobre o Laert desejar ou não que incluíssemos a música: "Na Minha Boca" nesse repertório, pelo fato desse samba ter sido gravado pelo Língua de Trapo de forma oficial nos anos oitenta, apesar de ter sido uma música nascida dentro da história do Boca do Céu nos anos setenta e dessa forma, todos nós termos o sentimento de pertencimento sentimental desse tema, à nossa banda.
Na
mesma configuração da foto anterior. Ensaio do Boca do Céu em 30 de
dezembro de 2022. Still de vídeo. Acervo e cortesia: Wilton Rentero
Dessa forma, ficou combinado de que logo no primeiro ensaio de 2023, nós nos dedicássemos com todo o afinco para eliminar as últimas pendências dessa fase e iniciássemos a parte C do projeto, ou seja, a fecharmos o arranjo definitivo das canções e iniciarmos a fase de pré-produção de um álbum, até que enfim!
Falei aos companheiros sobre essa determinação e nesta altura do resgate, esse horizonte se tornara visível nesse ponto. Dessa forma, eu e eles também, na mesma sintonia, não apenas nos prontificamos a dar esse passo adiante, como ficamos felizes por constatar que apesar da lerdeza imposta por tantos fatores alheios à nossa vontade (pandemia mundial da Covid, agendas conflitantes etc), nós saímos de uma festiva reunião de congraçamento em 2020, para um projeto de resgate inimaginável para uma banda que se extinguira em 1979 sob condições modestíssimas, e que até então, não apresentava nenhum indício de que poderia voltar a gerar novidades em pleno século XXI.
Osvaldo Vicino e Wilton Rentero a trabalhar. Ensaio do Boca do Céu em 30 de
dezembro de 2022. Still de vídeo. Acervo e cortesia: Wilton Rentero
Em suma, já foi uma grande vitória termos chegado até aqui e a perspectiva de coroamento do esforço, já visível nesse ponto, nos animou ainda mais. Que 2023 fosse o ano no qual o legado dessa banda, uma meta tão sonhada naqueles anos entre 1976 e 1979, haveria de ganhar uma dimensão palpável. Sendo assim, estivemos agraciados, nós, os outrora Rockers adolescentes e sonhadores de 1976, e neste ponto, a nos constituirmos de senhores grisalhos no avançar da terceira idade, porém, não menos Rockers convictos do que fôramos nos anos setenta. Os grisalhos esquizóides do século XXI!
Continua
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