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sábado, 6 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 27 - Por Luiz Domingues


Lembro-me em ter assistido a peça teatral, Calabar, no Teatro Pedro II, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Fui com o Paulo Eugênio; Wilson e Gereba, e lá encontramos os amigos, Roatã Duprat, e a Virgínia, namorada do Fernando "Mu".

http://homenagemaomalandro.blogspot.com/2009/06/peca-calabar.html

Nesse link acima, consta a ficha técnica dessa montagem, com o nome do Mu, citado.   

Foi um espetáculo denso, bem produzido e recheado por atores famosos. O Fernando "Mu" tocava violão; guitarra e bandolim muito bem, obviamente, e a banda, formada por músicos de alto nível, claro.
O Fernando "Mu" é o primeiro, da direita para a esquerda, na parte mais alta, a usar um paletó de cor clara

Infelizmente, soubemos que o Fernando "Mu" fora demitido pouco tempo depois, por motivos desagradáveis. Fomos informados que ele costumava chegar atrasado nas apresentações, além de apresentar sinais de embriagues. Soubemos também, que ficou insustentável a situação dele, e infelizmente ele foi demitido daquela que poderia ter sido a sua grande porta aberta para voos maiores na carreira.

Como instrumentista, seu talento e preparo eram inquestionáveis, mas no quesito profissionalismo, infelizmente ele não adequou-se à uma situação de alto nível.

Depois de sua saída do Terra no Asfalto, e dessa vez que fui ao teatro assisti-lo atuar em Calabar, só fui vê-lo novamente em 1982, por acaso, quando apareceu de surpresa no bar Deixa Falar, onde A Chave do Sol ensaiava em seus primeiros momentos. Foi uma visita curta e inesperada, visto que ele procurava a Dona Sabine, dona da casa, provavelmente para tentar agendar uma data para uma banda cover em que estava a atuar. E depois, no início de 1984, o vi a atuar a atuar em uma banda autoral orientada pelo Prog Rock, pela TV, ao apresentar-se no programa : "A Fábrica do Som". Lembro-me que o tecladista dessa banda foi o Fernando "The Crow" Costa, futuro guitarrista do Inox. Mas que eu saiba, essa banda não avançou. Também pudera... Rock Progressivo em 1984, representaria lutar contra a maré daquele momento, ao caracterizar-se quase como uma afronta. Soube também que ele fora assaltado na saída de um bar no Brooklin, zona de sul de São Paulo, e agredido, ficou desmaiado. Quando foi socorrido, sua Gibson Les Paul Junior, ano 1958, havia desaparecido. Hoje em dia, ela estaria a valer ainda mais que naquela época. E muitos anos depois, soube que ele fora assassinado em uma padaria, no Brooklin, bairro da zona sul de São Paulo.
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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 25 - Por Luiz Domingues

Em Campinas, o objetivo primordial da apresentação foi cumprido. Mas mesmo assim, a escola nem esboçou reconsiderar a sua decisão pelo cancelamento da temporada a passar por outras unidades e dessa maneira, infelizmente perdemos essa oportunidade.
Sim, foi visível a desintegração da banda, mas como tratou-se de uma banda cover, e eu estava empolgado com o rumo que o Língua de Trapo embrionário estava a ganhar, não incomodei-me muito com esse processo terminal, mesmo por que paralelamente ao Terra no Asfalto, e ao Língua de Trapo, eu estava a empreender trabalhos avulsos, conforme já relatei nos capítulos que descrevem essas atividades musicais extra aos meus esforços em atuar em bandas autorais. 

Uma história engraçada que cabe acrescentar aqui neste ponto da cronologia : nesse período em que o Luis Bola entrou no Terra no Asfalto, ensaiamos de uma forma acústica, diversas vezes na sua residência. Tratava-se de um sobrado bonito, localizado na rua Cristiano Viana em Pinheiros, zona Oeste de São Paulo, no quarteirão próximo à escadaria que dá acesso à Rua Cardeal Arcoverde.
Quem conhece São Paulo, e aquele bairro em específico, sabe que muitos anos depois, aqueles quarteirões próximos da Rua Teodoro Sampaio, no sentido do Hospital das Clínicas, tornou-se um ponto muito forte com a presença de lojas de instrumentos, e equipamentos musicais. Mas em 1980, não havia ainda nenhuma loja dessa natureza, por aquelas redondezas.
A esposa do Luis Bola (peço desculpas, mas esqueci-me de seu nome), era atriz, e tinha contatos bons no mundo do cinema autoral brasileiro. Tanto foi assim, que houvera tido uma pequena participação recente (a chamada "ponta", no jargão do cinema), no filme, "Gaijin", da diretora nipo-brasileira, Tizuka Yamazaki. E naquele período em que frequentei a residência do casal, eles estavam a hospedar um jovem ator carioca, ainda não muito famoso, chamado : Jorge Fernando.
Muitos anos depois, ele tornar-se-ia um diretor de novelas muito festejado da Rede Globo.Naquela época, havia feito um trabalho apenas como ator, que despertara a atenção, chamado, "Ciranda Cirandinha", uma espécie de sitcom brasileira, e curiosamente precursora do que seria mais ou menos a série americana, "Friends, anos depois. Em seu argumento primordial, tratava-se da história de quatro jovens a dividir um apartamento no Rio de Janeiro, todos mezzo Hippies, personagens esses interpretados por : Jorge Fernando; Denise Bandeira; Fábio Jr. e Lucélia Santos. Tal seriado fez um relativo sucesso em 1979, na TV Globo, mas ainda não o suficiente para torná-lo uma celebridade ao ponto de não poder andar pelas ruas, longe disso. Mas fico contente por saber que ele venceu na carreira, pois ainda lembro-me dele a circular pela casa do Luiz Bola, assistir os nossos ensaios etc.

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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 24 - Por Luiz Domingues

Então, o Terra no Asfalto foi cumprir a segunda data agendada para a Escola Cultura Inglesa, na unidade localizada na cidade de Campinas / SP. Esse show ocorreu no dia 9 de maio de 1980. O time foi o mesmo do primeiro show realizado nessa mesma escola de idiomas, em abril, no seu teatro próprio, no bairro de Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, com o acréscimo do amigo, Edmundo, que tocou percussão, em Campinas.
A unidade da Cultura Inglesa, ficava nessa rua, retratada na foto acima, no bairro do Cambuí, em Campinas / SP
 
Assim que chegamos à unidade da Cultura Inglesa, no bonito bairro do Cambuí, em Campinas, descobrimos o por quê daquele show não ter sido cancelado como os demais : tratava-se de uma unidade instalada em um sobrado outrora residencial, agora adaptado como escola, portanto, tocaríamos de uma forma improvisada em um pequeno salão que devia ser um antigo, "Living Room" do imóvel, sem iluminação, e com um modesto P.A, adequado apenas para uma apresentação em bar de pequeno porte, como por exemplo, um Pub de pequeno porte. Dessa forma, a tocar sem glamour algum, sob um volume muito baixo; espremidos em um espaço reduzido (e sem palco minimamente adequado, nem mesmo com estrutura de eletricidade adequada), foi uma apresentação comedida, exatamente como os pedagogos esperavam, ou seja, uma aula e não um show, com os alunos em silêncio, e sentados no chão, a limitar-se a ler as letras das músicas sob um impresso preparado pela escola. Foi um anticlímax, a contrapor-se ao show de São Paulo, sem dúvida. Mas a encararmos a realidade, éramos apenas uma banda cover, e essa fora de fato, a nossa sina.
Sem Tato Fischer, doravante, voltamos ao formato como quinteto, e fizemos mais dois shows no bar Opção. O primeiro, aconteceu no dia 11 de maio de 1980, e foi o penúltimo show do Terra no Asfalto, com a presença de 30 pessoas, aproximadamente. E no dia 18 de maio de 1980, o realizamos enfim, o último show dessa fase da banda, com o mesmo público presente, com 30 pessoas, mais ou menos. A banda com essa formação não foi feliz em seus planos de expansão, tampouco continuidade, apesar da efêmera euforia gerada pelo show no Cultura Inglesa de Higienópolis. Sentimos muito a falta do Fernando Mu, e a despeito do Luis Bola ser um bom baterista, o Cido Trindade tinha mais a ver com a banda, sem dúvida.

Outro fator que atrapalhou os planos da banda, foi o cancelamento de diversos shows nas unidades da escola de inglês, Cultura Inglesa. Com isso, ficamos sem agenda, e o Paulo Eugênio iria demorar para reestruturar uma retomada dos contatos nas casas noturnas. Além disso, eu estava a ingressar em uma fase onde realizaria shows e participações em festivais com o embrião do Língua  de Trapo (assunto comentado com detalhes no respectivo capítulo dessa banda), e diversos trabalhos avulsos (comentado nesse capítulo em específico, também).


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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 23 - Por Luiz Domingues

Por incrível que pareça, foi um dos shows mais sensacionais que eu fiz, logicamente ao considerar-se apenas o período inicial da minha carreira, de 1976 até ali. Apesar de ser um show baseado em covers internacionais, estávamos a tocar em um teatro, e não no tímido palco de um bar. Houve iluminação e um P.A. com qualidade, camarim etc. Eu já experimentara lampejos dessas condições ideais nas temporadas com o Tato Fischer, poucos meses antes, mas salvo um ou outro show avulso, no todo, houvera sido uma experiência com pouco resultado expressivo, em termos de público.
Agora, apesar de não ter sido um show com música autoral, pela primeira vez, vi um teatro lotado à minha frente e com um público enlouquecido, do começo ao final. Claro... fora a tal história em usufruir-se do sucesso garantido de outrem, portanto, uma comodidade a diminuir bastante o nosso mérito.

E o Tato encaixou-se muito bem no esquema. Ele era um pianista muito bom e tinha dotes vocais. Tanto que orientou Paulo Eugênio e Wilson, ao comandar a ambos em ensaios prévios a organizar a harmonia vocal, principalmente nas músicas dos Beatles, que saíram muito bonitas em trio, com ele, Tato a fazer a terceira voz.
A expectativa foi ótima no camarim, desde a passagem do som, quando sentimos a estrutura boa que o teatro possuía. Foi o primeiro show do Terra no Asfalto sob condições técnicas superiores, pois éramos uma banda cover acostumada aos palcos minúsculos e escuros de casas noturnas, tão somente.
E melhorou ainda mais quando percebemos que o teatro estava a lotar, por ouvirmos o murmúrio do público. A orientação expressa da direção da escola, foi para falar-se em inglês, o tempo todo. Para tanto, o Paulo Eugênio foi avaliado previamente sob um teste de conversação ministrado por professores da escola, e em sua cúpula, formada por britânicos. E o Tato esteve tranquilo. Tocou e cantou muito bem, pois estava a divertir-se, e sem as pressões inerentes a produção em torno dele, como na sua carreira solo. Dessa forma, descompromissado, com casa cheia e cachet garantido, o astral não só dele, como de todo mundo, ali envolvido, foi ótimo. Só não foi melhor por ser uma apresentação cover. Se fosse música autoral, teria sido ainda melhor, certamente. E um dado interessante e motivador em minha percepção pessoal : eu usei nessa apresentação, uma caixa emprestada pelo amigo, Roatã Duprat, acoplada à minha caixa original do amplificador, Giannini "Tremendão". Parecia uma caixa Snake ou Palmer, mas não havia placa de identificação da fábrica, mas sim um grafite do qual orgulhou-me bastante.
Tratou-se do logotipo da banda setentista "O Terço", e sim, aquela caixa houvera pertencido ao baixista, Sergio Magrão, que a vendera ao Roatã. Foi significava o bastante em meu caso particular, como afirmação pessoal, por ser um símbolo setentista presente ali comigo no palco, a interagir diretamente em minha performance. Sim, esse show marcou-me bastante, pois a rigor, foi a primeira vez que fiz um show de Rock sob um teatro lotado, e com público em frenesi.
Anteriormente já tinha tido experiências boas em teatro, mas com o som mais comedido do Tato Fischer, ou apresentações ainda amadoras do Língua de Trapo, para ser mais específico. O Terra no Asfalto não era uma banda autoral, eu sei, mas a euforia que geramos foi fascinante, daí eu ter essa boa lembrança.
E justamente pelo fato dos alunos não comportarem-se como se estivessem em sala de aulas, é que a cúpula da Cultura Inglesa abortou o projeto, pois o plano inicial seria o de uma série de shows pelas unidades em diversos bairros. Como tornou-se show de Rock e não aula, perdemos a "oportunidade", e assim ficamos somente com a apresentação em Campinas, mantida, e quando eu comentar essa passagem, ficará explicado o por quê dessa apresentação na cidade de Campinas não ter sido cancelada. 

E tanto deu certo essa nova formação da banda, que o Paulo Eugênio animou-se e marcou uma data no Bar Le Café, para alguns dias depois. Como era uma casa nova, e ainda sem alvará para funcionar, a dona pediu para fazermos uma apresentação acústica.

E lá fomos nós, sem o Luis Bola que recusou-se a participar apenas a tocar percussão, no uso de instrumentos com sonoridade leve. Com o Paulo Eugênio a suprir a  percussão (ele pilotava bem o pandeiro de samba; pandeiro meia-Lua; bongô; Cowbell e instrumentos de efeitos), tocamos, com a minha participação ao baixo (o único elétrico, ali), Gereba e Wilson nos violões, e Tato Fischer ao piano. Infelizmente, apresentamo-nos para um público reduzido, com menos de dez pessoas, presentes. 

Mas havia a perspectiva de mais um show garantido na Cultura Inglesa, na cidade de Campinas. Nesse show, cuja data ocorreu no dia 26 de abril de 1980, sabíamos de antemão que apresentar-nos-íamos em num espaço mais tímido, e com volume controlado.

Quanto ao "Le Café", esse bar que ficava na Alameda Lorena, em Cerqueira César (perto da Av. Paulista), seria a nossa porta de entrada para o início da melhor fase do Terra no Asfalto, que só ocorreria alguns meses depois, em dezembro de 1980. Chego lá, no momento devido da narrativa, logicamente.
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sexta-feira, 29 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 22 - Por Luiz Domingues

E assim, ficou marcado para o dia 11 de abril de 1980, essa apresentação / aula, algo que jamais pensei em participar anteriormente. E só a empreender ensaios acústicos com o intuito de anotar a harmonia das canções, preparamos um repertório bem óbvio para banda executar, com canções provenientes do repertório de artistas como : Beatles; Led Zeppelin; Doobie Brothers; Cat Stevens; James Taylor; Rolling Stones, e músicas solo dos quatro Beatles, primordialmente.
O Paulo Eugênio surpreendeu-nos, pois convidou um tecladista à nossa revelia. Eis minha surpresa ao encontrar inesperadamente com o Tato Fischer, em um desses ensaios informais ! Não que incomodasse-me, de forma alguma, mas foi engraçado vê-lo depois de alguns meses em que eu, Cido Trindade, e Sergio Henriques o acompanhamos (amplamente já descrito no capítulo : "Trabalhos Avulsos"). E de certa forma, confirmou mesmo que nós havíamos agido certo ao deixarmos esse trabalho com ele, em 1979, pois ele acenara com novas datas somente a partir de março de 1980, mas pelo visto, não logrou êxito, e sendo assim, aceitou prontamente tocar conosco, a denotar que seus planos pessoais realmente não haviam dado certo, infelizmente, vindo a precisar também desse cachet. E assim, com um bom cachet, e a promoção interna nas diversas unidades da escola por São Paulo, com um bonito cartazete, o show "Flashback 60's & 70's ocorreu no dia 11 de abril de 1980.
E vou contar : foi um dos melhores shows de toda a trajetória do Terra no Asfalto até esse ponto da carreira dessa banda, com tudo a dar certo. Som e luz com qualidade; público quentíssimo que abarrotou o teatro (quinhentas pessoas na lotação oficial, mas seguramente com mais gente presente, pois havia muitas pessoas sentadas no chão ou pelos corredores).  Só não deu certo sob um aspecto : deveria ter havido uma série de shows em diversas unidades espalhadas pelos bairros de São Paulo, mas a direção da Cultura Inglesa cancelou todos, ao só manter um, na unidade da cidade de Campinas, um mês depois, ao alegar que a excitação dos alunos inviabilizou o processo pedagógico de evento. E de fato, eles tiveram razão, pois no primeiro acorde da canção dos Beatles,  "From Me to You", o teatro veio abaixo, e ali tornou-se um show de Rock, sem atenção à aula de inglês, coisa nenhuma, com todo mundo em pé a dançar, e tentar chegar perto do palco...

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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 21 - Por Luiz Domingues



Este cartaz acima, é um dos raros documentos oficiais preservados sobre a carreira do Terra no Asfalto. E mesmo assim, está a conter erros crassos em seus dizeres, infelizmente. Por exemplo, assinala os nomes do Cido Trindade e do Fernando Mu, mas na verdade, ambos já haviam deixado a banda, recentemente. Ao invés do meu nome, está o do Gereba como baixista, e neste cartaz que guardei, eu o rasurei, e escrevi meu nome à caneta. E também omite o nome do novo baterista, Luis "Bola". Mas, por tratar-se de um material importante para a memorabilia / portfolio, ei-lo aqui, preservado devidamente.

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 19 - Por Luiz Domingues


Ainda a descrever a banda que vimos a atuar no Victoria Pub, logo que chegamos ao palco principal da casa, eu não acreditei que estava por escutar, "Woman From Tokyo", do Deep Purple,  com um vocal tão sensacional. E a banda tocava com um swing funkeado a la Mark IV, da época do Tommy Bolin. Mas em contraste a isso, vou mencionar, caro leitor : foi desagradável ver essa formação do Terra no Asfalto, desmoronar-se dessa forma.
Todavia, era mesmo frágil a vida de uma banda cover, pois ali o comprometimento fora só para tocar e visar ganhar dinheiro.
Sem a vontade para vencer na carreira, como uma banda autoral, sempre norteia seus esforços, a estrutura de uma banda cover é oca, não tem química. Cada um só pensa em si, e abandona o barco por qualquer proposta de 10 "dinheiros" a mais que seja oferecido. Em uma banda autoral, o artista está a investir em si mesmo, no seu sonho, e por tratar-se de um sonho coletivo, sente-se irmanado, dentro de um espírito de fraternidade, formado por seus pares que buscam o mesmo. Não existe o fator do sonho para uma banda cover, e sonhar é fundamental para quem enxerga a música como um trabalho de arte, e não algo burocrático e meramente construído com a intenção exclusiva em ganhar-se dinheiro. Apesar disso, não quer dizer que não possa haver prazer em tocar, e que não haja amizade entre os componentes. O fato de não haver comprometimento artístico, certamente deixa tudo menos sólido, mas o clima pode ser amistoso, é claro. No "Terra no Asfalto", o clima sempre foi bom, independente das diversas formações que tivemos. Houve ao longo de sua história, uma ou outra indisposição por um motivo ou outro, mas nada muito conflitante, a não ser um fato que ocorreria logo no início da formação de dezembro de 1980 (que por sinal, tornar-se-ia a mais longa e sólida fase dessa banda). No próximo capítulo, falarei sobre os passos adiante do Terra no Asfalto.
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quarta-feira, 6 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 18 - Por Luiz Domingues

Mas o fato desalentador mesmo, foi que a banda estava a desmantelar-se. Contudo, fomos ainda tocar em uma micro apresentação em forma de teste, no Victoria Pub, apesar disso.
Mesmo por que, a intenção da banda foi em prosseguir, a providenciar-se um novo baterista, e com Wilson e Gereba a assumir as duas guitarras. A casa estava com um ótimo público. Havia pelo menos quatrocentas pessoas a circular em suas dependências.

O fabuloso vocalista, Próspero Albanese, em foto dos anos setenta, quando brilhou muito no histórico, "Joelho de Porco"

No palco principal (havia dois), tocava nesse instante, uma banda cover, fixa da casa. Não lembro-me o nome desse combro, mas recordo-me que o baixista em sua formação, era o celebrado, Celso Pixinga e o vocalista, Próspero Albanese, o famoso vocalista do Joelho de Porco, nos anos setenta, por ocasião da gravação de seu excelente álbum : "São Paulo, 1554-hoje" (de 1975). Os músicos estavam a executar uma seleção com músicas do "Deep Purple", e eu lembro-me em ter ficado boquiaberto a ouvir o vocal impressionante do Próspero. Cantava idêntico ao Ian Gillan, com um "punch", exuberante. Recordo-me da reação estapafúrdia da parte do Gereba, que não tinha nenhuma cultura Rocker, ao ficar embasbacado com o vocal incrível do Próspero, mas sem saber quem ele era, ou representava na história do Rock brasileiro, e assim afirmar, prosaicamente, algo do tipo : -"olha o gordão, canta p'ra caralh"... sim, nesse aspecto, Gereba tinha razão.
E havia um pianista, sensacional. Não faço a menor ideia quem era, mas lembro-me em de ver o rapaz tocar com um "swing" incrível, ao estilo de grandes pianistas versados pelo estilo do Blues de New Orleans, tais como : Dr. John, Leon Russell e outros dessa linhagem nobre da Louisiana. Era um autêntico freak, com um cabelo imenso, armado até a cintura, e bigode típico de "bandido mexicano"... e o sujeito tocava demais. Fizemos nossa apresentação durante o intervalo dessa banda, por uns vinte a trinta minutos, e apesar de não termos sido tão sensacionais como eles (com exceção do Fernando "Mu", é claro), foi ótimo, pois as pessoas dançaram, aplaudiram, e assim não deixamos a a euforia gerada pela banda fixa da casa, cair.

Esse teste aconteceu no dia 29 de fevereiro de1980, dia bissexto, e marcou-se como a última apresentação dessa formação. As portas do Victoria Pub ficaram abertas para nós, por conta da boa impressão que causamos, mas mediante desculpas, o Paulo Eugênio não teve como agendar-nos naquela circunstância, e aí, culminou no fato de que perdemos a nossa chance, naquela que foi uma das mais cobiçadas casas noturnas de São Paulo, nessa época. Com tal desfecho, o Terra no Asfalto passou por momentos difíceis, ao tentar reformular-se. Na prática, precisávamos de um baterista novo e aí surgiu a opção do Luis "Bola".
 

O Luis"Bola" (cujo apelido só podia ser alusivo ao seu porte físico, digamos, robusto), fora o baterista do projeto de música autoral que o Fernando "Mu" tentara desenvolver, desde 1978, mais ou menos, com a presença também do baixista, Roatã Duprat, filho do maestro, Rogério Duprat. O Luis Bola era tecnicamente bom, Rocker com sólida formação e um bom rapaz. Tinha uma coleção de vinis, incrível, e toda importada, pois seu pai era piloto da Vasp (a antiga Viação Aérea São Paulo, desativada nos anos noventa), e fazia a rota São Paulo / Milão, habitualmente. Dessa forma, o "Bola" elaborava a lista, e o seu pai vinha com a mala recheada com bolachas... ouvi muito o som genial do Frank Zappa em sua residência, nesses meses em que convivemos.
Mas mesmo ao encontrarmos um bom baterista para entrar em nossa banda, perdemos o embalo forte com o qual estávamos a obter, e dali em diante, só foi aparecer uma nova data, em abril de 1980.  E foi um show inusitado, cuja história eu narrarei no próximo capítulo.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 16 - Por Luiz Domingues

A próxima apresentação foi no bar Casablanca, que ficava localizado na Av. Vereador José Diniz, no bairro do Campo Belo, zona sul de São Paulo. Ele era bem badalado nessa época e costumava lotar suas dependências com uma frequência formada por jovens burgueses; playboys e Patricinhas em geral. Não era fácil arrumar uma data nessa casa, pois ela era muito cobiçada entre as bandas cover da época, mas o Terra no Asfalto conseguiu uma apresentação, para o dia 27 de fevereiro de 1980. Um pouco antes da apresentação começar, Fernando Mu, Gereba e Paulo Eugênio foram à rua para consumir uma certa substância ilícita. Eu e Cido ficamos no bar a esperar, com o equipamento montado e o som passado, previamente. A casa pôs-se a foi encher e os rapazes a demorar...

A casa estava lotada, quando o gerente começou a incomodar-nos, por pressionar-nos a iniciar, imediatamente. O tom de sua voz esquentou, e o gerente passou a proferir ameaças a dar conta de que nunca mais tocaríamos lá etc. Então, o Cido Trindade foi procurá-los na rua. Não os achou, e nós não sabíamos mais o que dizer para o estressado gerente (mas ele tinha razão, infelizmente). Então, com a casa abarrotada, onde mal poder-se-ia andar, eis que aparecem os nossos colegas, e acompanhados de um policial militar ! Eu e Cido pensamos : foram presos, e só vieram avisar-nos para desmontar o equipamento...

Mas aí, percebemos que o PM que entrara com eles, estava sorridente, pois tirou o boné; abriu a camisa; colocou a calça por cima do coturno, a parecer querer disfarçar-se, ao eliminar os sinais de sua farda. Sentou-se em uma mesa, e aproveitou bem o show, a noite inteira, pois bebeu; dançou; ficou bêbado; flertou com várias garotas, e no auge da farra, chegou a amarrar uma bandana na testa, ao usá-la  com uma gravata improvisada...

Fora o dia do seu aniversário, e o Mu chegou a anunciar isso no microfone, ao tocar, "parabéns para você", em sua homenagem, na guitarra. Só depois da noite encerrar-se, lá pelas 3:00 horas da manhã, soubemos o que significou aquilo. Realmente, os rapazes estavam na rua a usar o material ilícito, quando foram surpreendidos por uma viatura da polícia militar. Foram presos em flagrante, mas para a sua sorte, os quatro PM's daquela "Veraneio", eram simpatizantes do material, também. Após a abordagem padrão, o sargento relaxou o flagrante, vendo que os músicos eram apenas usuários...


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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 13 - Por Luiz Domingues

Após mais um show no bar Opção, ocorrido no dia 10 de fevereiro de1980, mediante um bom público formado por cem pessoas presentes, agendamos mais uma boa chance em uma casa de melhor nível. Fomos tocar no bar "Lei Seca", que ficava no Brooklin, zona sul de São Paulo. Nesse show, enfim, passamos a adotar o nome "Terra no Asfalto", após uma rápida votação no âmbito interno da banda.
A explicação para tal escolha, foi a de brincarmos com o conceito contraditório entre a terra rural e o asfalto urbano.
A banda não tinha nada de rural, mesmo quando tocava MPB, mas o nome tinha um certo charme, eu admito.

Essa apresentação no Lei Seca ocorreu no dia 12 de fevereiro de 1980 e movimentou cinquenta pessoas na casa. O bar era infinitamente mais bem ajambrado que o Opção, embora tivesse uma decoração rústica, a imitar um saloon do velho oeste norteamericano. Apesar do pouco público presente, o dono da casa gostou de nós e marcou uma nova data para o dia 16 de fevereiro de 1980. Nesse novo show, atraímos o mesmo público da ocasião anterior (cinquenta pessoas),mas novamente fomos agendados para uma terceira data. Nesse show que calhou no sábado de carnaval, após a apresentação, guardamos o equipamento na pensão onde moravam Gereba e Wilsinho, e partimos para uma viagem maluca à um paraíso Hippie. Fomos à Trindade, litoral sul do estado do Rio de Janeiro, que era um lugar remoto, e tradicional reduto hippie, desde os anos sessenta.
Chegamos na manhã do domingo e o ambiente estava tenso.A praia estava lotada com barracas, mas não parecia o paraíso hippie que era tradicional naquela cidade. Ficamos ali por menos de uma hora, e resolvemos ir embora.Então, tivemos uma surpresa desagradável na saída da cidade. Como naquela época o acesso da rodovia Rio-Santos à Trindade era por uma estrada de terra íngreme, fomos a subir lentamente em meio a um comboio, pois muita gente resolvera evadir-se de Trindade, também. Quando chegamos ao topo, para acessar a estrada Rio-Santos, havia uma blitz gigante da polícia civil do estado do Rio. Não havia como escapar da tocaia. Estávamos em seis pessoas dentro de uma Brasília; com bagagem; alimentos; dois violões; percussões, e uma certa carga extra. Quando vimos a tocaia, o Mu foi rápido, e pediu para a sua namorada...



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domingo, 6 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 12 - Por Luiz Domingues

Animados com esse show ocorrido no Le Café, que fizemos três dias depois, realizamos uma nova apresentação no Bar Opção. No Le Café, atraímos oitenta pessoas, e dessa vez no Opção, setenta

pagantes. Sem dúvida que ao tratar-se do universo de 

bares, era algo expressivo esse número de pessoas. 

E mais uma vez no Opção, no dia 3 de fevereiro de 1980, 

com noventa e cinco pessoas presentes, a demonstrar claramente que estávamos a crescer.

No dia seguinte, fizemos um teste em uma casa sofisticada 

no bairro dos Jardins, zona sul de São Paulo, chamada : "O Ponto". Era na verdade um clube privé, uma verdadeira alcova,onde homens casados levavam suas amantes para iniciar a noitada, após o expediente de seus escritórios. 

Foi uma apresentação bizarra em seu início, pois a casa 

estava completamente vazia, e o gerente ordenou que 

começássemos, assim mesmo. O Paulo Eugênio ainda insistiu para que esperássemos entrar algumas poucas pessoas que fosse, mas o gerente foi grosso conosco, e mais uma vez ordenou que iniciássemos.
Muito bem, a apresentação foi em clima de ensaio durante toda a primeira entrada, e só após o intervalo, eis que algumas pessoas acomodaram-se nas mesas em frente ao palco. Na saída, ao carregarmos o equipamento para fora, foi que notamos que a casa estava cheia em outros ambientes,
digamos mais reservados...

Esse contato fora do Fernando "Mu", que o tinha desde o início, mas chegou a comentar com o Paulo Eugênio, que primeiro queria ter confiança na banda, para depois vendê-la em uma casa assim, de maior categoria. Mas apesar desses avanços, a banda corria riscos. Havia um rumor de que o Mu havia recebido um convite irrecusável por parte da Celina Silva, esposa do tecladista, Sérgio Henriques, e que ele estava a movimentar-se para aceitá-lo. Ao confirmar-se, abalaria as estruturas frágeis dessa banda, mas seria uma grande oportunidade profissional para ele.


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